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Por que o FMI alertou sobre a 'bomba-relógio' de US$ 41 trilhões nos fundos abertos

A organização internacional demonstrou preocupação com a possibilidade de uma crise que possa abalar o sistema financeiro internacional

Fundo Monetário Internacional (FMI) (Yuri Gripas/Reuters)

Fundo Monetário Internacional (FMI) (Yuri Gripas/Reuters)

O Fundo Monetário Internacional (FMI) lançou um alerta sobre o mais novo risco para a economia global: os fundos abertos.

Segundo um artigo publicado pela Divisão de Mercados Monetários e de Capital do FMI no blog da instituição, os fundos abertos, que permitem aos investidores comprar e vender seus títulos diariamente, mas têm ativos ilíquidos ou difíceis de vender em suas carteiras, podem se tornar um risco para a economia global, considerando o tamanho que atingiram: US$ 41 trilhões de ativos administrados em escala global.

Para os funcionários do FMI, Fabio Natalucci, Mahvash Qureshi e Felix Suntheim, esses fundos "podem desencadear volatilidade e multiplicar o impacto de choques, principalmente em tempos de tensão de mercado” chegando a "prejudicar potencialmente a estabilidade do sistema financeiro”.

"A resiliência do setor de fundos abertos pode ser testada" em um clima de altas das taxas de juros e de "elevada incerteza econômica", escreveram os economistas. O documento do FMI explica que os saques dos fundos já estão aumentando, e por isso "choques negativos, como condições financeiras apertadas e confusas, podem desencadear mais vazamentos e amplificar o estresse nos mercados de ativos".

O espectro de uma possível nova crise econômica internacional foi levantado às vésperas da reunião anual em Washington com o Banco Mundial, que este ano ocorrem em um momento de graves incógnitas para a economia e para os mercados mundiais, entre alta da inflação e guerra na Ucrânia.

Forte crescimento dos fundos pode se tornar um problema sistêmico, diz FMI

O forte crescimento dos fundos de investimento abertos, fenômeno que ocorreu nos últimos vinte anos, levou esse tipo de veículos de investimentos a representar um quinto dos ativos financeiros não bancários. O problema é que, embora os fundos abertos possam investir em ativos relativamente líquidos, como ações ou papéis da dívida pública de países desenvolvidos, eles também estão expostos a títulos muito mais difíceis de recolocar no mercado, como dívida corporativa de baixa qualidade, imóveis ou ativos de países emergentes.

O problema pode surgir no momento das vendas desses papéis. Os investidores dos fundos podem decidir resgatar seu dinheiro a um preço definido ao final de cada pregão, mas a operação pode exigir dias para que os gestores possam realizar a alienação de ativos sob gestão do fundo para cobrir o resgate.  Um atraso que tende a aumentar quando os mercados estão sob pressão e que durante as fases de saída de fundos pode dar origem a descasamentos, desequilíbrios de liquidez com "o preço pago aos investidores que podem não refletir integralmente os custos de negociação associados aos ativos vendidos".

Ou seja, o fundo pode acabar perdendo dinheiro com essas operações, provocando custos adicionais para os restantes investidores, que acabarão sendo incentivados a acelerar os resgates e novas fugas, especialmente durante um momento de pessimismo generalizado.

O efeito dominó que acabaria sendo desencadeado poderia forçar os fundos a se desfazer rapidamente de ativos adicionais para tentar atender aos pedidos dos investidores. Ou seja, acabariam vendendo o quanto mais rapidamente possível seus ativos, em detrimento das avaliações, com o risco de desencadear choques capazes de minar a própria estabilidade financeira.

Cenário já visto em março 2020

Segundo o FMI, essa dinâmica já ocorreu no início da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), em março de 2020. Naquela época, os fundos abertos realizaram vendas de ativos para tentar fazer frente aos resgates, com a cessão de "cerca 5% do total líquido valor dos ativos", superando os resgates ocorridos durante a crise dos Subprime de 2008. Com isso, os Bancos Centrais foram forçados a intervir, comprando títulos corporativos e injetando liquidez nos mercados.

Mas se a crise ocorrida há dois anos e meio se repetisse novamente, a volatilidade dos títulos no portfólio de fundos mais arriscados aumentaria em talvez 20%. A solução, para se resguardar nesse clima de crescente nervosismo, é fornecer maior flexibilidade para os fundos na fixação de preços ao final do dia em resposta a saídas de capitais, limites na frequência de resgates, monitoramento rigoroso de práticas de liquidez e transparência de fundos.

Uma crise de liquidez comparável a março de 2020, especulam especialistas do FMI, agora aumentaria a volatilidade dos títulos no portfólio de fundos mais arriscados em talvez 20%. Para se resguardar, no clima de crescente nervosismo, não faltam propostas: maior flexibilidade para os fundos na fixação de preços no final dos pregões em resposta a saques, criar limites na frequência de resgates, monitorar rigorosamente as práticas de liquidez e transparência dos fundos.

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