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Estrangeiros de saída? Capital externo da B3 fica negativo em abril

Preços de commodities e expectativa de juros mais altos nos EUA ameaçam entrada de estrangeiros na B3

Estrangeiros tiram cerca de R$ 6 bilhões da B3 em abril (Hiroshi Watanabe/Getty Images)

Estrangeiros tiram cerca de R$ 6 bilhões da B3 em abril (Hiroshi Watanabe/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 2 de maio de 2022 às 12h46.

Última atualização em 4 de maio de 2022 às 08h04.

A entrada de investidores estrangeiros na B3 não durou para sempre. Depois de colocarem R$ 68,36 bilhões entre janeiro e março deste ano, fundos internacionais reduziram suas posições no mercado brasileiro em abril. Até o último dia 28, a perda de capital externo no mês estava em R$ 5,936 bilhões. O saldo, porém, deve ser ainda pior, dado a maior aversão ao risco no último pregão de abril.

Nem mesmo o câmbio escapou. O dólar, que vinha em queda livre no Brasil, fechou o mês com alta de 3,82%, próximo de R$ 4,95. A valorização do dólar ante as moedas desenvolvidas foi ainda maior. O índice Dxy, que mede a variação da moeda americana contra divisas fortes, como o euro e a libra, saltou 4,73% em abril, chegando a superar o maior patamar de março de 2020, marcado pelo início da pandemia.

Expectativas de alta de juros nos Estados Unidos, continuidade do conflito na Ucrânia e preocupações sobre o nível da atividade econômica global pesaram sobre os mercados do mundo inteiro. O S&P 500, principal referência de Wall Street, teve sua maior queda mensal em 25 meses, encerrando abril com baixa de 8,80%.

O Ibovespa, que vinha de 14,5% de alta no ano, desabou 10,10%. A performance esteve entre as piores mundo. Nos Estados Unidos, somente o índice Nasdaq, mais dependente de juros baixos no país, teve queda superior. Na Europa, só as bolsas da Rússia e Polônia, no centro da crise energética, caíram mais.

"O estrangeiro, que estava sustentando a alta da bolsa brasileira nos últimos meses, parou de segurar", disse Thomas Gibertoni, gestor de portfólio da Portofino Multi Family Office.

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"Altas de juros já são esperadas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. O que vai fazer preço é um aumento acima do previsto. No Brasil, não tem mais altas expressivas na curva de juros. Onde o juro pode subir mais que o esperado é nos Estados Unidos", comentou Gibertoni.

Mas outro motivo também está associado ao menor ímpeto de estrangeiros pela bolsa brasileira: a queda de preços de commodities.

O petróleo brent, que chegou a US$ 139 por barril no início da guerra da Ucrânia, tem estacionado abaixo de US$ 110. Esforços globais para aumentar a oferta e preocupações sobre a demanda chinesa tem jogado contra as apostas de alta de preços. A China, por sinal, é considerada por parte dos gestores como a principal variável para a atração de capital externo para a B3.

Vale e Petrobras, com as duas maiores posições do Ibovespa, exerceram pressão negativa sobre o índice em abril. As ações da mineradora terminaram o mês com desvalorização de 12,88% e as da estatal, de 9,48%.

"Se os juros subirem nos Estados Unidos, a bolsa brasileira não vai cair necessariamente. A dinâmica do Brasil, na visão de fluxo internacional, está muito mais ligada aos preços de commodities. Aí, obviamente, a variável mais importante é o que está acontecendo com a China", afirmou Pedro Quaresma, gestor da Itaú Asset, em participação recente no Clube da EXAME Invest.

Por essa ótica, o cenário segue preocupante para a volta de capital externo. A China permanece firme em sua política de tolerância zero ao aumento de casos de covid-19, reforçando medidas de isolamento nas principais cidades do país. Os efeitos do aumento das restrições, para economistas, podem ser devastadores para a atividade econômica e para a inflação, por gerarem novos gargalos na cadeia global de suprimentos.

A tendência, segundo Gibertoni, é de que o período de maior entrada de estrangeiros já tenha ficado para trás. "Ainda vamos ter eleição neste ano. O que tinha que vir de dinheiro já veio. Olhando para frente, as variáveis são mais negativas do que positivas", disse.

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