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Fitch duvida de moratória da Marfrig esperada por investidores

Disparada do rendimento de seus títulos mostra que investidores não concordam com a agência de classificação de risco

A Marfrig é uma das 10 empresas brasileiras cuja dívida é negociada em níveis de altíssimo risco (Divulgação)

A Marfrig é uma das 10 empresas brasileiras cuja dívida é negociada em níveis de altíssimo risco (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2011 às 11h49.

Nova York/São Paulo - A Marfrig Alimentos SA está conseguindo manter a confiança das agências classificadoras de crédito ao mesmo tempo em que a disparada do rendimento de seus títulos indica que investidores esperam uma moratória.

A taxa dos títulos da Marfrig em dólar e com vencimento em 2016 disparou 1.201 pontos-base para 20,34 por cento, desde o fim de julho, segundo dados compilados pela Bloomberg. Esse rendimento é 19,44 pontos percentuais superior ao que pagam os títulos com prazo similar do Tesouro dos Estados Unidos. Títulos mundiais de altíssimo risco, ou “distressed”, pagam em média 17,46 por cento, de acordo com dados do Bank of America Corp.

A 59,89 por cento do valor de face, o preço dos títulos da Marfrig que vencem em 2018 indica uma “alta probabilidade” de moratória nos próximos 12 meses, disse Eric Ollom, estrategista de crédito do Citigroup Inc.

Mesmo depois de ter terminado o segundo trimestre com o maior prejuízo em quatro anos, a Marfrig tem recursos suficientes em caixa para fazer frente ao pagamento de juros de sua dívida, disseram a Standard & Poor’s e a Fitch Ratings.

No último dia 18, a Marfrig anunciou a venda de uma unidade de distribuição por US$ 400 milhões. Os recursos serão usados para aumentar as disponibilidades de caixa que eram de R$ 4 bilhões no final de junho. Os vencimentos de curto prazo da empresa somam R$ 2,6 bilhões. A queda dos papéis da Marfrig faz parte de uma onda de vendas desencadeada pelo aprofundamento da crise de dívida na Europa.

“Nossa avaliação sobre a Marfrig é que eles resolveram se voltar para dentro e estão focados em corte de custos,” disse Viktoria Krane, analista da Fitch Ratings, em entrevista por telefone de Nova York. “Não será um céu de brigadeiro, é claro, mas a pergunta é: será que eles vão ser bem sucedidos? Sim. A Marfrig tem a estrutura de liquidez adequada, então não acreditamos que a empresa ofereça risco de moratória.”

Altíssimo risco

Os títulos da Marfrig para 2016 rendem 1.718 pontos-base, ou 17,18 pontos percentuais, acima da dívida soberana brasileira de prazo similar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A Marfrig é uma das 10 empresas brasileiras cuja dívida é negociada em níveis de altíssimo risco, ou seja, a taxas mais de 1.000 pontos-base acima dos títulos do Tesouro americano. O frigorífico tem classificação de risco B+ pela S&P e pela Fitch, quatro níveis abaixo do grau de investimento. As duas agências mantém perspectiva estável para a nota de crédito da empresa.


A empresa sediada em São Paulo está vendendo sua unidade de distribuição nos EUA, Europa, Ásia e Oceania para a Martin- Brower Co., de Rosemont, no estado americano de Illinois. A Marfrig também pode vender seu terminal no porto de Itajaí, para se concentrar nos ativos de carne e frango, disse o presidente da companhia, Marcos Antonio Molina dos Santos, durante teleconferência com analistas em 20 de setembro.

“A Marfrig possui fundamentos solidos, estratégia corporativa bem formada e alta posição de caixa”, disse Ricardo Florence, diretor de relações com investidores da Marfrig, em e- mail de resposta à Bloomberg.

O salto de 24,7 por cento por cento no preço do milho nos 12 meses até ontem elevou o custo com ração animal e colaborou para corroer as margens de lucro da Marfrig. A empresa divulgou em 15 de agosto prejuízo de R$ 91 milhões no segundo trimestre, a maior perda desde pelo menos o último trimestre de 2006.

‘Liquidez confortável’

A venda da unidade de distribuição da Marfrig “deve contribuir para sustentar uma posição confortável de liquidez e sinalizar o compromisso da direção em reduzir a alavancagem”, escreveu Flavia Bedran, analista da S&P em São Paulo em relatório de 22 de setembro. “A posição confortável de liquidez da Marfig vai proteger a empresa durante alguns trimestres de forte volatilidade de margens e necessidades de capital de giro, e até que a empresa possa implantar algumas estratégias de redução de dívida.”

Milena Zaniboni, diretora-gerente da S&P em São Paulo, não retornou telefonemas e e-mails da reportagem solicitando mais comentários.

A relação entre a dívida líquida da Marfrig e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização vai cair de 3,9 vezes no segundo trimestre para cerca de 3,6 vezes após a venda da unidade à Martin-Brower, disse Ricardo Boiati, analista do Banco Bradesco SA.

A queda “não é muito significativa”, disse Boiati em entrevista por telefone de São Paulo. “O grande tema para a Marfrig continua sendo alavancagem.”

A Marfrig disse ontem em comunicado que não está em negociações para fusão de suas operações com as de outras empresas. A Marfrig foi alvo de especulações depois de a revista Veja ter publicado em 1º de outubro que a JBS SA, maior frigorífico do mundo, estava conversando com bancos locais e estrangeiros para financiar uma aquisição da Marfrig ou da rival menor Minerva SA. A JBS negou o conteúdo da reportagem em comunicado enviado às autoridades reguladoras.

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