Kazuo Ueda, presidente do BoJ: Japão subiu juros pela primeira vez em 17 anos (STR/JIJI Press/AFP /Getty Images)
Repórter
Publicado em 21 de março de 2024 às 12h40.
Última atualização em 21 de março de 2024 às 12h44.
O Bank of Japan (BoJ) encerrou uma era de juros negativos nesta semana ao elevar sua taxa de referência em 0,20 ponto percentual para 0,10%. Udith Sikand, analista da Gavekal Research, considera que BoJ quer sinalizar, com a alta de juro, a chegada de um "ciclo virtuoso" de aumento de preços e de salários.
A alta de juro foi a primeira feita no Japão em 17 anos. A política de juro negativa, considerada extremamente expansionista, foi utilizada para combater os efeitos deflacionários da economia japonesa. Mas, desde a pandemia, essa dinâmica vem sendo alterada, com a inflação atingindo patamares historicamente elevados para o país.
O Índice de Preço ao Consumidor (IPC) do Japão chegou a bater 3,4% no acumulado de 12 meses na medição divulgada em outubro. Esse número resfriou para 2,6%, mas ainda segue maior que meta de 2% e bem acima do patamar pré-pandemia, próximo de 0%.
Essa inflação mais alta tem provocado reações nas classes trabalhadoras, que clamam por reajustes salariais. Nas negociações salariais, os trabalhadores garantiram um aumento de 5,3%, o maior em 33 anos, aponta o relatório da Gavekal. "Essa tendência pode infiltrar-se nas pequenas e médias empresas que empregam mais de dois terços da força de trabalho do Japão", afirma Sikand em relatório.
O analista pontua que durante o período de juros negativos, os estímulos foram compensados pelo aumento da participação na força de trabalho. Isso, junto com tendências deflacionárias globais, vinha suprimindo o crescimento salarial nos últimos anos. Sikand pontua, contudo, que há evidências de que a participação na força de trabalho já atingiu o pico, reforçando as pressões salariais
"As mudanças provocadas pela pandemia, juntamente com a obstinada determinação do Banco do Japão em manter políticas flexíveis com pouca consideração pelo iene, impulsionaram o atual surto de inflação no Japão."
A grande incerteza, afirmou Sikand, é como será a condução do BoJ daqui para frente. "Já não se pode contar com a tendência declarada do BoJ para a manutenção de condições financeiras acomodatícias. Isso significa que um aumento na volatilidade dos preços dos ativos japoneses é quase certo"