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"Verdade dói, mentira mata", diz investidor que lucrou 100% com Covid-19

Para investidor profissional, um dos maiores influenciadores do mercado brasileiro, gestores de fundos suavizam o cenário para não perder cotista

Ferri, cofundador do Traders Club: aos 80.000 pontos, o Ibovespa começa a ficar atraente para compras de ações (Traders Club/Divulgação)

Ferri, cofundador do Traders Club: aos 80.000 pontos, o Ibovespa começa a ficar atraente para compras de ações (Traders Club/Divulgação)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 12 de março de 2020 às 08h59.

Última atualização em 15 de março de 2020 às 20h59.

O investidor profissional gaúcho Rafael Ferri, cofundador do aplicativo de troca de informações sobre aplicações financeiras Traders Club e uma das estrelas da chamada "fintwit", a comunidade de especialistas, gestores de fundos e operadores de corretoras que usam o Twitter para discutir sobre o mercado de capitais, está pessimista sobre os efeitos do coronavírus Covid-19 sobre a bolsa de valores. A pandemia já fez as empresas do Ibovespa, o principal índice acionário da brasileira B3, perder 1,3 trilhão de reais em valor de mercado neste ano e deve impor mais prejuízos aos investidores no mercado local. Essa opinião é um banho de água fria para os investidores que começaram a aplicar em ações nos últimos meses, empolgados com os ganhos de 40% do Ibovespa desde dezembro de 2018, e tem rendido duras críticas a Ferri. Que ele encara com naturalidade: em sua avaliação, o mercado é um lugar de grandes egos e gestores estão evitando alarmar os cotistas de seus fundos para não afastar os clientes. Leia a seguir os principais trechos da entrevista do gaúcho à EXAME:

 

Por que você está pessimista com o mercado de ações?

Em janeiro, publiquei um vídeo dizendo que a grande oportundiade de ganhos neste ano seria a venda do índice americano S&P 500 no nível de 3.333, porque estava muito esticado [sobrevalorizado]. Fui muito atacado, debochado. Fui o primeiro a falar que as bolsas iam realizar [lucros] com mais força. Já fui várias vezes à China e conheço bem o país. Quando o governo começou a trancar as pessoas em casa, a fechar aeroportos e isolar cidades, sabia que a crise era grave. O problema do coronavírus é que não sabemos quanto tempo a pandemia vai durar e o tamanho do efeito negativo sobre a economia. Daqui a quatro ou cinco meses, teremos uma vacina, mas espero que o mercado ainda piore até lá.

Como você lida com as fortes críticas que tem sofrido por esse pessimismo?

É totalmente normal as pessoas terem opinião divergente da minha. Mas estamos vendo que acabei acertando o cenário. A bolsa já caiu 35% desde as [cotações] máximas de janeiro. O mercado é movido pelo ego, cada um defendendo o seu. E os gestores não querem que os investidores saiam dos seus fundos, então, mesmo que tenham uma opinião mais negativa do cenário, tendem a suavizar, senão começam a sofrer resgates. Mas acredito que a verdade vai prevalecer. A verdade dói, mas a mentira mata. É melhor a gente abrir os olhos, porque a situação está complicada e não tem prazo para voltar ao normal.

Alguns dos críticos dizem que você está com essa visão pessimista porque está com uma carteira vendida, que ganha dinheiro quando os ativos caem. Como estão os seus investimentos neste momento?

Ganhei de fato muito dinheiro com essa queda recente, minha carteira dobrou. Se tiver outro circuit breaker hoje, acho que volto a comprar ações de empresas que são boas pagadoras de dividendos, como Itaú, Bradesco e IRB. E também a ação da Oi, que trato como muitíssimo arriscada.

Até onde você acha que a bolsa pode cair?

Vejo que um bom momento para começar a comprar ações é nos 80.000 pontos. Muitos papeis, de empresas boas pagadoras de dividendos, começam a ter preços atraentes a partir desse nível. Pagando cerca de 8% de dividendos ao ano, já é o dobro do CDI, e aí o risco vale a pena. Gosto dos bancos, da Vale, do Fleury. O pior cenário, no curto prazo, é a bolsa cair mais 10%. Se o cenário se deteriorar horrores, pode cair mais ainda, até abaixo dos 70.000 pontos.

Você sofreu processos judiciais por insider trading e manipulação de ações no caso da bolha do alicate, envolvendo a Mundial. Como está esse processo?

Fui absolvido no processo de insider trading em segunda instância, o Ministério Público nem recorreu. A outra ação, de manipulação de ações, voltou à primeira instância. Mas outro réu nesse mesmo processo, o Michel Ceitlin (presidente da Mundial) foi absolvido de todas as acusações. Então, o processo ainda não acabou, porém acredito que a chance de eu ser absolvido também é grande. Como influenciador no mercado financeiro, sempre estudo muito o mercado e dou opiniões para ajudar na educação financeira do brasileiro.

O Traders Club também tem ganhado em meio à deteroriação do cenário financeiro?

O número de assinantes tem crescido a uma taxa muito agressiva. No ano passado, foram mais de 500%, e chegamos a 60.000 assinantes entre pessoas físicas e empresas. Neste ano, esperamos expandir a base em mais 300%. Esse sucesso é porque conseguimos alertar os investidores sobre o cenário atual. Nossos assinantes não só conseguiram evitar perdas como ganhar com a queda. Outras casas de análise de investimento publicam um relatório hoje, outro na semana que vem. Nós informamos os investidores em tempo real.

Que tipo de medida ou notícia faria você ficar mais otimista neste momento?

Acho que todos os movimentos feitos pelos governos agora, como baixar os juros, não vão ter muto efeito sobre a economia no curto prazo porque não vão fazer as pessoas sair de casa. O que pode ser feito nos Estados Unidos e no Brasil é o que a China fez, limitar o volume financeiro que os investidores podem movimentar e impedir a venda a descoberto, o short selling. Esses são as próximas medidas que devemos ver para estabilizar o mercado.

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