Felipe Miranda: ensinamentos sobre os conceitos fundamentais do mercado financeiro (Divulgação/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 31 de janeiro de 2022 às 13h49.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2022 às 15h57.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, está caminhando para encerrar janeiro com seu melhor resultado mensal desde dezembro de 2020. A alta de mais de 6% a um pregão do fim do mês foi impulsionada por um grande fluxo de capital estrangeiro – foram 24,847 bilhões de reais entrando de forma líquida (aportes menos resgates) na B3 somente até o dia 26 deste mês, um valor superior em 10 bilhões de reais ao registrado no mês anterior.
E é possível que o movimento ganhe ainda mais força nos próximos meses, segundo Felipe Miranda, CIO (head de investimentos) e estrategista-chefe da Empiricus. “A bolsa brasileira pode ser a grande surpresa global deste ano, liderando um rali de mercados emergentes e, na sequência, um novo rali de alta com as eleições”, afirmou Miranda em live realizada no domingo, dia 30.
Na avaliação do CIO, o mercado ainda não precificou completamente o movimento de alta de juros nos Estados Unidos, que pode empurrar ainda mais recursos para economias emergentes – especialmente a brasileira. Já no cenário interno, é possível que os investidores estejam esperando uma eleição mais polarizada do que de fato será. Se isso acontecer, a bolsa deve enfrentar menos períodos de volatilidade, abrindo espaço para valorização dos ativos.
O Federal Reserve (Fed, banco central americano) deixou claro que pretende começar a elevar sua taxa básica de juros na reunião de março – a taxa atualmente está no intervalo entre 0% e 0,25%. A grande dúvida é sobre a intensidade e a velocidade da elevação, mas o consenso de especialistas já prevê cinco altas ao longo de 2022.
Embora a elevação dos juros nos EUA tire liquidez do mercado internacional, a expectativa é que as bolsas emergentes sejam beneficiadas por esse processo. Isso porque os investidores estão retirando seu capital de empresas de tecnologia e de alto crescimento nos Estados Unidos – que são as mais afetadas pela alta dos juros – e buscando oportunidades em companhias bem estabelecidas e descontadas em outros mercados.
“Todo o dinheiro que foi alocado em excesso em tech e cripto começa a mudar de direção. É um capital que sai de empresas de crescimento [growth] para companhias de valor [value] e que deixa o mercado de tech dos Estados Unidos e migra para bolsas emergentes”, argumentou Miranda.
O CIO defende que o Brasil é o país emergente mais bem posicionado para atrair a nova leva de investimentos. Dois dos principais concorrentes, China e Rússia, são mercados atualmente muito arriscados para se investir – a China pelo aumento da regulação por parte do governo e a Rússia devido às tensões com a Ucrânia e o Ocidente.
Outro ponto que pode impulsionar a bolsa brasileira, na avaliação de Miranda, é a diminuição da percepção do risco em relação às eleições de 2022. O estrategista acredita que o maior ponto de atenção do mercado é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atual líder das pesquisas para presidência. A preocupação é que ocorra um retorno da herança do governo petista da ex-presidente Dilma Rousseff.
“[No entanto] Lula tem se apresentado como pragmático, uma versão mais parecida com seu primeiro governo. Os flertes com o centro estão cada vez mais intensos: ele sinalizou uma composição com Geraldo Alckmin e está colocando petistas tradicionais para conversar com o mercado. A indicação em conversas fechadas é a de que não haverá irresponsabilidade fiscal”, disse Miranda.
Para o CIO da Empiricus, a redução do risco com Lula atenua as preocupações com a eleição no geral, uma vez que o atual presidente Jair Bolsonaro representa, em certa medida, uma continuação do que foi visto nos últimos anos, “ainda que ele não tenha mais a imagem de um grande reformista como tinha antes”.
E, caso uma terceira via se mostre viável ao longo do ano, Miranda acredita que os ganhos poderiam ser ainda maiores para a bolsa. Veja a reprise da live: