Super Quarta: Fed e Copom decidem próximos níveis de juros nesta quarta-feira, 18 (Lula Marques/Agência Brasil)
Repórter de finanças
Publicado em 18 de junho de 2025 às 06h00.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 09h02.
Enquanto nos Estados Unidos o Federal Reserve (Fed) deverá manter os juros no intervalo entre 4,25% e 4,50%, no Brasil há uma dúvida significativa sobre qual será o movimento do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
Os agentes do mercado se dividem: se haverá uma elevação de 0,25 ponto percentual (p.p.), levando a Selic para 15%, ou se os juros continuarão nos atuais 14,75% — o que configuraria o encerramento do ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro do ano passado.
Uma pesquisa do Broadcast com 48 instituições mostrou o mercado dividido sobre a reunião desta quarta-feira: enquanto 27 casas ainda esperam estabilidade da Selic em 14,75% ao ano, 21 apostam em uma alta residual de 0,25 p.p..
Observando o Brasil, os indicadores recentes oferecem argumentos tanto para a manutenção dos juros quanto para uma alta. De um lado, a composição mais benigna do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio e a perda de força na indústria e no varejo em abril sustentam a tese de uma manutenção dos juros.
Já um Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre mais forte, o mercado de trabalho ainda resiliente e o aumento da renda, com estímulos como os do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do crédito consignado, podem sustentar a tese de uma alta de 0,25 ponto percentual.
“Esses estímulos à demanda, como consignado, linhas de crédito, saque FGTS, faixa 4 do ‘Minha Casa, Minha Vida’ deixam os juros menos ativos. Mas eu acho que tem poucas coisas que fariam o Banco Central (BC) continuar subindo os juros”, diz José Alfaix, economista da Rio Bravo.
A casa acredita em um aumento de 0,25 ponto percentual (p.p.) na reunião desta quarta-feira, 18, e que o início do corte de juros seria em janeiro de 2026, baseado em uma melhora “muito grande nas expectativas de inflação”.
Em dezembro de 2024, o BC contratou três elevações de 1 p.p. até março deste ano, em um cenário bastante desafiador na época: política fiscal mais frouxa, inflação elevada, expectativas desancoradas e um crescimento que surpreendia para cima.
Mas os juros na casa dos 14,75% começaram a fazer efeito na economia — o que pode justificar a manutenção das taxas nesta reunião. Para André Muller, estrategista e economista-chefe da AZ Quest, a atual política monetária, bastante restritiva, aponta que haverá um cenário de moderação da atividade daqui para frente.
Mercado considera ciclo de alta de juros encerrado e dúvida paira sobre quando Selic cairá“Apesar das expectativas de inflação ainda estarem desancoradas, o cenário é menos desafiador. E isso, no nosso entender, daria espaço para o Banco Central interromper esse ciclo de aumento de juros na reunião dessa semana”, afirma.
Outro ponto de destaque para um cenário mais amigável são as revisões da inflação. Os agentes consultados pelo BC reduziram, no Boletim Focus, a projeção da inflação para 2025 de 5,65% para 5,25% em aproximadamente 30 dias. Já a AZ Quest, em 45 dias, reduziu de 5,4% para 5% a expectativa de inflação para 2025.
A condução da política monetária nos últimos meses também é um fator que colabora para a tese de manutenção de juros. Isso porque houve uma forte apreciação do real, com a moeda saindo dos R$ 6,16 em janeiro para R$ 5,49 em junho, o que ajuda no processo desinflacionário.
Entretanto, ainda há pontos que chamam a atenção do BC e podem justificar uma alta, como o salário, que tem crescido muito rápido, e o desemprego, que está muito baixo, em 6,6%.
“Não é que o emprego não está respondendo aos juros, é que ele demora um pouco mais que outras variáveis. Mas esperamos que ele comece a moderar até o final do ano, especificamente os setores mais sensíveis ao crédito”, relata Alfaix.
Álvaro Frasson, macro estrategista do BTG Pactual Portfolio Solutions (do mesmo grupo de controle da EXAME), concorda sobre o mercado de trabalho. Para ele, o Banco Central não está olhando um indicador só, “não existe uma bala de prata que determine todo o ciclo, seja de alta ou de manutenção”, mas ele está bastante atento ao emprego.
“A gente tem percebido dados de atividade marginalmente mais fracos, mas que ainda não dão, digamos assim, uma confiança de que haverá uma forte desaceleração nos próximos trimestres.”
Segundo Frasson, parece adequado que a combinação dos últimos dados faça o BC aumentar os juros em 0,25 p.p., deixando em aberto o fim do ciclo de aperto monetário. Já a projeção da casa para o Fed é que haverá um corte de juros neste ano e dois no ano que vem.
Para Muller, apesar da briga entre Legislativo e Executivo em relação às medidas do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e das tributações de aplicações financeiras, está claro para o BC “que não está havendo uma expansão fiscal como houve ao longo da virada de 2023 para 2024.”
Frasson também explica que enquanto esse debate fiscal, mesmo que ruim, for “colocado de lado em meio a um ambiente global de dólar americano mais fraco, que fortalece as moedas emergentes” — somado a dados de atividade que mostram algum arrefecimento —, “parece que o mercado está dando uma importância menor para este tema no curto prazo.”
Mas há um ponto em que o fiscal pode atrapalhar a economia e, consequentemente, as próximas decisões do BC: na visão do estrangeiro sobre o Brasil, explica Alfaix.
Caso o fiscal volte a ser um problema, o estrangeiro vai querer tirar dinheiro do Brasil e, por questão de fluxo financeiro, a moeda deprecia contra o dólar.
“Se o real deprecia, o processo desinflacionário fica muito mais difícil.”
“Se daqui a uns meses verificarmos que a solução para esse impasse passará por reduções das metas fiscais, a depender do que teria de repercussão no preço dos ativos, poderia levar ao quadro [do aumento de juros]. Mas acho improvável”, comenta Alfaix.
Ao contrário do Brasil, ao que tudo indica, o Fed irá manter os juros. O Fed possui dois mandatos claros: manter o mercado de trabalho saudável e controlar a inflação. Atualmente, ambos estão em patamares que não exigem reação imediata do Banco Central americano — o núcleo da inflação está em 2,5% e o desemprego em 4,2%.
“Há um mercado de trabalho mais saudável. O Fed não precisa jogar nenhuma corda agora para salvá-lo”, ressalta Arthur Mota, macro estrategista do BTG Pactual Portfolio Solutions.
Já a inflação, que poderia estar acelerando um pouco mais agora, surpreendeu para baixo na última leitura, e já tinha vindo abaixo no mês de abril — dois meses específicos onde as tarifas estavam bem mais altas.
Isso mostra, segundo Mota, que está havendo um processo de gestão de estoque por parte tanto do varejo quanto de serviços, que não estão fazendo um processo de repasse de preço no curto prazo — o que colabora para a manutenção das taxas.
Segundo o especialista, com o que o Fed teve de informação nos últimos dois meses, em abril e maio, já digerindo o impacto das tarifas, a autarquia vai manter uma comunicação relativamente neutra e estratégica nesse momento.
Mota ainda enfatiza que o grande destaque desta quarta-feira, 18, serão as atualizações trimestrais de projeções do Fed. “O dado vai mudar bastante em relação a março (devido a tarifas, controle de fronteira). Vamos ver um crescimento menor esperado por parte do Fed, mas uma inflação maior.”
Isso não quer dizer, segundo Alfaix, que as tarifas não estão fazendo efeito. Mas, no curto prazo, o especialista acredita que “tem poucos indicadores falando: olha, é a hora de cortar os juros". E continua: “Se a gente tivesse vendo o mercado de trabalho desacelerar muito rápido e a inflação ainda mais benigna, poderia ser um argumento.”
Em sua visão, o Fed vai citar a mesma questão dos últimos dois comunicados, que é a incerteza econômica pela frente. Isso derivado da postura de Trump sempre voltar atrás — da brincadeira “TACO” (Trump Always Chickens Out).
“Eu acho que a perspectiva do mercado cada vez mais é esperar o Trump agir para reagir. Não antecipar porque ele tem sempre revogar as coisas que ele propõe. É difícil fazer projeções com base em uma alíquota tão variável, proposta por alguém que frequentemente volta atrás no que diz”, comenta Alfaix.
Sempre quando há algum tipo de evento geopolítico que afete os preços de energia, isso vai fazer parte do cenário de todos os bancos centrais, explica Muller. “Mas é uma situação bastante recente, que eu acho que não vai influenciar nem na decisão do Copom, nem do Fed nessa semana.”
Seria para o futuro.
Segundo Alfaix, nos últimos meses, os preços das commodities de energia (como petróleo e gás) estavam mais baixos, e isso ajudou no processo de desinflação nos EUA. Isso acontece porque energia mais barata reduz custos para empresas e consumidores, o que segura os preços em geral.
Por causa de incertezas, especialmente relacionadas a guerras comerciais, outros países compraram menos — o que reduziu a demanda global por energia. A Opep também aumentou a produção, o que ajudou a derrubar ainda mais os preços.
Agora, com o aumento das tensões no Oriente Médio, esse cenário pode se inverter. Se o petróleo voltar a subir, o preço dos combustíveis nos EUA sobe também — e isso pressiona a inflação novamente, o que poderia vir a se tornar uma preocupação do Fed em um futuro.