Invest

Fed: ata mostra que trajetória de alta de juros pode estar longe do fim

Dirigentes do banco central americano preveem que altas contínuas de juros são apropriadas para conter inflação

Fed: banco central americano deve manter juros mais altos por mais tempo que o esperado (Chip Somodevilla/Getty Images)

Fed: banco central americano deve manter juros mais altos por mais tempo que o esperado (Chip Somodevilla/Getty Images)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 22 de fevereiro de 2023 às 18h19.

Ao discutir as perspectivas de política monetária, com a inflação ainda bem acima da meta de 2%, todos os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) continuaram a antecipar que os aumentos contínuos de juros são apropriados para atingir os objetivos da instituição. Os detalhes estão na ata da última reunião de política monetária do BC dos EUA, divulgada nesta quarta-feira, 22.

"Os dirigentes reafirmaram seu forte compromisso de retornar a inflação ao objetivo de 2% e observaram que uma postura política restritiva precisaria ser mantida até que os dados recebidos fornecessem confiança de que a inflação estava em uma trajetória descendente sustentada para 2%, o que provavelmente levaria algum tempo", destaca o documento.

Além disso, o documento traz que os membros concordaram que, ao determinar a extensão dos futuros aumentos na faixa da meta, eles levariam em consideração o aperto cumulativo da política monetária, os atrasos com que a política monetária afeta a atividade econômica, a inflação e os desenvolvimentos econômicos e financeiros. "Os participantes em geral observaram que as decisões futuras do Comitê em relação à política continuariam a ser informadas pelos dados recebidos e suas implicações para as perspectivas de atividade econômica e inflação".

Os dirigentes do Federal Reserve observaram que será necessário um crescimento abaixo da tendência para conseguir reduzir a inflação à meta de 2% nos Estados Unidos.

Segundo o documento, os dirigentes concordaram que a inflação segue inaceitavelmente alta no país, ainda bem acima da meta, da mesma forma que o mercado do trabalho, que segue apertado. Entretanto, alguns integrantes do Fomc também afirmaram que os riscos das taxas inflacionárias estão mais equilibrados, apesar das incertezas para este ano.

Alta de 0,5 p.p.?

A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) destaca que alguns dirigentes foram a favor de aumento de 0,5 ponto percentual (p.p.) nos juros no encontro de fevereiro. Na ocasião, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) optou por uma elevação mais branda, de 0,25 p.p..

Essa minoria observou que um aumento maior na taxa básica traria mais rapidamente o intervalo da meta para perto de uma orientação suficientemente restritiva, levando em consideração suas opiniões sobre os riscos para alcançar a estabilidade de preços em tempo hábil.

"Vários dirigentes observaram que uma postura de política que se mostra de forma insuficiente restritiva poderia interromper o progresso recente na moderação das pressões inflacionárias, levando a inflação a permanecer acima da meta por um período mais longo e representar um risco de perda das expectativas de inflação", destaca o texto.

Por outro lado, quase todos os participantes observaram que diminuir o ritmo dos aumentos de taxas permitiria uma gestão de risco adequada e uma melhor avaliação da economia. Todos os dirigentes concordaram, entretanto, que, ao avaliar a orientação apropriada da política monetária, continuariam a monitorar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas.

"Eles estariam preparados para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado caso surgissem riscos que pudessem impedir o alcance das metas. Com a inflação ainda bem acima da meta de longo prazo do Comitê, os participantes em geral observaram que os riscos ascendentes para as perspectivas de inflação continuaram sendo um fator-chave para moldar as perspectivas de política e que é apropriado manter uma política restritiva até que a inflação esteja claramente em uma trajetória de 2%", pondera o documento.

Atividade econômica

Os dirigentes do Federal Reserve observaram na ata que as chances dos Estados Unido entrarem em recessão em 2023 seguem elevadas. Segundo o documento, dirigentes indicaram que o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do país deverá diminuir mais em 2023 ante desaceleração de 2022.

Os participantes também concordaram que os riscos para as perspectivas de atividade econômica foram empurrados para baixo. "Dirigentes observaram que as fontes de tais riscos incluíam a perspectiva de choques negativos inesperados, que levariam a economia a uma recessão em um ambiente de crescimento moderado."

Ainda, os participantes indicaram que os gargalos de abastecimento diminuíram, mas os problemas de suprimento seguem um desafio.

Mercado de trabalho

O Fomc considerou que o mercado de trabalho nos Estados Unidos permaneceu muito apertado, com demanda ainda excedendo "substancialmente" oferta de mão de obra apesar de sinais de melhora, de acordo com a ata. "Reduções recentes no quadro de funcionários em grandes companhias de tecnologia seguiram aumentos na abertura de vagas muito maiores do que em comparação a anos anteriores, não refletindo em um enfraquecimento da demanda por mão de obra", observa o documento.

Na análise dos dirigentes, o mercado apertado aliado ao crescimento dos salários e da tendência de produtividade continuam a pressionar para cima alguns preços. Dois integrantes do Comitê observaram que mudanças nos salários atrasam alterações de preços, complicando a resolução de pressões inflacionárias.

O Comitê espera que, com uma política monetária apropriada, a demanda e a oferta no mercado de trabalho entrem em um "melhor equilíbrio ao longo do tempo", de modo a aliviar pressão sobre preços e salários. Segundo a ata, a redução no ritmo de aperto monetário tem como objetivo endereçar melhor o progresso da economia rumo as metas de emprego máximo e retorno da inflação à meta de 2%.

Teto da dívida

A ata indicou ainda que há preocupação de que o teto da dívida dos Estados Unidos pode não ser aumentado em tempo hábil, em conjunto com preocupações sobre o sistema financeiro. "Vários participantes enfatizaram que um período prolongado de negociações para aumentar o limite da dívida federal pode representar riscos significativos para o sistema financeiro e para a economia em geral", destaca o documento.

Também indica que os dirigentes concordaram em seguir reduzindo a carteira de títulos e hipotecas.

Segundo a ata, os dirigentes viram riscos decorrentes do relaxamento da política anti-covid da China e da contínua guerra da Rússia na Ucrânia. Em avaliação sobre o mercado, os integrantes do Fomc apontam que indicadores recentes apontam para um crescimento modesto nos gastos e produção.

Inflação

A equipe do Federal Reserve projeta que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) nos EUA deve chegar próximo a meta de 2% em 2025.

A análise vale tanto para o número total, quanto para o núcleo que exclui itens como alimentos e energia.

A equipe avalia que a inflação continuará reduzindo nos próximos dois anos, acompanhando o arrefecimento nos desequilíbrios de oferta e demanda e menor aperto do mercado de trabalho.

De acordo com ata da última reunião monetária, a equipe do Fed agora prevê PCE total de 2,8% e núcleo de 3,2% neste ano, ambos os indicadores abaixo das projeções trimestrais realizadas em dezembro.

Acompanhe tudo sobre:Fed – Federal Reserve SystemInflaçãoJuros

Mais de Invest

Receita abre nesta sexta-feira consulta ao lote residual de restituição do IR

O que é circuit breaker? Entenda e relembre as ‘paradas’ da bolsa brasileira

15 ideias de fazer renda extra pela Internet

Mutirão de negociação: consumidores endividados têm até dia 30 para renegociar dívidas