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Febre no pregão testa cultura de ser “durão” em Wall Street

Agressividade ininterrupta de Wall Street entra em choque com as demandas de uma pandemia

Funcionários trabalham no pregão do Citigroup em Nova York em dezembro (Marc McAndrews/Bloomberg)

Funcionários trabalham no pregão do Citigroup em Nova York em dezembro (Marc McAndrews/Bloomberg)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 21 de março de 2020 às 07h12.

Última atualização em 21 de março de 2020 às 07h12.

Enquanto o coronavírus se espalhava com rapidez em vários países na semana passada, alguns funcionários do Goldman Sachs que trabalham no pregão no arranha-céu do banco em Manhattan começaram a ter febre.

Um deles, um diretor-gerente, confundiu colegas enquanto tentava decidir se deveria permanecer no escritório. O executivo foi para casa, voltou ao trabalho na segunda-feira e depois foi novamente embora com dores no peito. Enquanto isso, um funcionário que acordou com febre ficou preocupado em decepcionar os chefes, mas decidiu ficar longe.

Esse não é um problema exclusivo do Goldman Sachs. A agressividade ininterrupta de Wall Street entra em choque com as demandas de uma pandemia. Enquanto agências do governo, médicos e empresas dizem que pessoas em todo mundo devem ficar em casa, entrevistas com banqueiros e traders de gigantes do setor mostram que muitos se sentem divididos entre saúde pública e lucro privado.

“As pessoas realmente vêm quando estão resfriadas”, disse Jim Toes, que comanda a Security Traders Association, uma associação do setor.

As diretrizes gerais de Wall Street, segundos as quais os profissionais não devem ir ao trabalho caso se sintam doentes, não são tão simples quanto parecem, especialmente para operadores. Um disse que está enfrentando pressão para ser “durão”, aquele que segue as regras não escritas da guerra. Se houver dinheiro a ser ganho, disse o operador, seus chefes gostariam que ele estivesse em posição de ganhá-lo, mesmo que exista uma mensagem mais saudável e humana sendo transmitida pelo presidente do banco.

Alguns banqueiros até disseram confidencialmente que ficariam aliviados se os mercados fechassem temporariamente, especialmente porque temem que as novas políticas de trabalho em casa não sejam tão robustas quanto parecem.

Os executivos do alto escalão do Goldman instaram funcionários que se sintam mal a ficar em casa. “Se você não está se sentindo bem, deve ficar em casa, mesmo que seus sintomas sejam leves”, disse Laurence Stein, do Goldman, em memorando no domingo. “Tire licença médica ou trabalhe em casa até que seus sintomas diminuam.”

No JPMorgan Chase, maior banco dos EUA, alguns gerentes estão pedindo que os funcionários trabalhem no escritório, apesar dos anúncios do alto escalão para ficar em casa, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

“Fizemos mudanças rápidas para permitir recursos de trabalho em casa para nossos subscritores de hipotecas” e hoje a maioria trabalha em casa”, disse uma porta-voz do JPMorgan por e-mail. “Os grupos restantes trabalharão em casa até o final da semana.”

“Há gerentes que dizem: ‘Estamos juntos nisso, se você quiser cuidar de seus filhos e famílias, fique em casa’”, disse Paul Sorbera, presidente da Alliance Consulting, em Nova York. “E há outros que dizem: ‘Temos um negócio para tocar e há clientes para cuidar.’”

Na semana passada, o codiretor de operações do Goldman, Ashok Varadhan, trabalhou em casa, apesar de uma semana caótica nos mercados, porque se sentia mal.

Tais exemplos podem ajudar chefes de Wall Street a mudar décadas de hábito. Nos bons tempos, é inconcebível que alguns funcionários se afastem dos pregões para ir ao médico.

Na Goldman Sachs, segundo fontes, sair para uma consulta médica parece tão absurdo que se tornou um eufemismo para sair para uma entrevista de emprego.

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