Fábio Alperowitch, gestor e fundador da Fama Investimentos (FAMA/Divulgação)
Paula Barra
Publicado em 16 de novembro de 2020 às 18h03.
Última atualização em 17 de novembro de 2020 às 11h33.
Para Fábio Alperowitch, fundador e gestor da Fama Investimentos, 2021 será o ano das empresas dominantes. Isso porque a crise vivenciada este ano enfraqueceu os concorrentes que não tinham tanta musculatura, enquanto os líderes ganharam espaço, vide o tanto de fusões e aquisições que têm ocorrido. E isso só está começando.
"Se essa conversa fosse seis meses atrás, você me ouviria falar que 2021 seria um ano muito rico para fusões e aquisições, mas isso já começou a acontecer" e deve se estender para o próximo ano, disse o gestor. "Para mim, 2021 vai ser o ano das dominantes, que vão voltar a crescer muito fortemente no modo orgânico e no inorgânico (via aquisições) também."
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Nesse cenário, ele aponta que possui posições em: Localiza (RENT3), NotreDame Intermédica (GNDI3), MRV Engenharia (MRVE3), Lojas Renner (LREN3), Klabin (KLBN11) -- nesta última, a gestora aproveitou a venda de LINX (LINX3) para aumentar a participação.
O gestor, que encerrou posição de 3% da Linx no início desse mês, comentou que, avaliando os possíveis desfechos da transação com a Stone, o investimento passou a não fazer mais sentido na carteira. “Tinham oportunidades melhores para alocar o capital dos meus clientes”. Alperowitch foi crítico à governança da oferta porque ela inclui, ao mesmo tempo, uma comprimisso com a Stone, com multas previstas, e um acordo de não competição de 185 milhões de reais para o trio de fundadores, que somam 14,5% do capital da companhia.
Mas, ainda assim, ele disse que segue lutando para que a operação entre Linx e Stone não ocorra nos moldes apresentados. “Espero que, na terça-feira [quando ocorrará a assembleia geral extraordinária para decidir sobre o negócio], essa transação não seja aprovada da maneira como foi proposta”.
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À EXAME Invest, Alperowitch comentou sobre o que vê como principal tema para investimentos no ano que vem, as principais posições da casa hoje, como foi a decisão de sair de Linx e quem entrou no lugar na carteira.
Passado este ano tumultuado, o que vê como grande tema para investimentos em 2021?
Acho que o mundo passou por um ano muito complicado, que deixou muitas consequências, muito desemprego. O ano trouxe muitas empresas para patamares de endividamento muito pesados e os bancos passaram a ser mais seletivos. Nesse contexto, quem sai beneficiado de tudo isso e já começou a aproveitar -- mas ainda está muito no início, há muito mais a aproveitar -- são as empresas dominantes.
Primeiro, porque elas dependem pouco de crédito, já geram muito caixa. Segundo, porque crédito para elas não falta, os bancos precisam emprestar para alguém e é muito menos arriscado emprestar para uma empresa que é dominante, forte, tem caixa, do que para uma empresa que está toda endividada, sofrendo com resultados.
Essas empresas dominantes saem muito beneficiadas, porque os concorrentes estão ali sofrendo um pouco mais e muitas empresas tiveram, por exemplo, que fazer ajuste de tamanho durante o ano, demitiram muita gente. Como você vai retomar a atividade de uma empresa em que falta trabalhador? Vai ter que fazer toda a contratação de mão de obra de novo, treinamentos. As empresas dominantes não passaram por esses desdobramentos. Pelo contrário, estão voando.
Se estivéssemos tendo essa conversa há seis meses, no auge da crise, você me ouviria falar que 2021 seria um ano muito rico em fusões e aquisições, porque nossa visão era que essas empresas iriam estar muito bem, enquanto as concorrentes, muito fragilizadas. E, em 2020, por conta de toda essa confusão, as empresas não fariam aquisições e deixariam para o ano que vem. Mas eu estava errado: as aquisições já começaram a acontecer, muitas delas.
Localiza (RENT3) junto com Unidas; NotreDame (GNDI3) não para de fazer aquisição; Fleury (FLRY3); SulAmérica (SULA11); Arezzo (ARZZ3) comprando Reserva. Todas essas companhias estão fazendo aquisições ou investimentos relevantes. Tanta coisa acontecendo que era inimaginável seis meses atrás. Sendo objetivo: para mim, 2021 vai ser o ano das dominantes, que vão voltar a crescer muito fortemente no modo orgânico e no inorgânico (via aquisições) também.
Todos esses nomes, Localiza, NotreDame, MRV (MRVE3), Renner (LREN3), Fleury, Klabin (KLBN11), M.Dias Branco (MDIA3), são empresas que possuímos. Basicamente, nossa estratégia é bem simples: compramos empresas de alta qualidade, dominantes e sustentáveis. Não compramos porque está barata, compramos empresas que são boas.
Achamos que essas empresas são as melhores para ficarmos posicionados para 2021.
No início deste mês, vocês decidiram se desfazer da posição de 3% que possuíam no capital da Linx, em meio às críticas sobre a proposta anunciada pela Stone para aquisição da companhia. Como foi esse processo até chegar à decisão de sair do papel?
Ficamos pouco tempo. Coincidentemente compramos em março deste ano, no auge da crise.
Temos nos engajado bastante para que esse negócio entre Linx e Stone não ocorra nos termos propostos. Pode até ocorrer, mas não nesses termos. Fizemos bastante coisa e, à medida que o tempo foi passando, fomos vendo que nossa tese estava recebendo apoio de vários atores importantes. A Amec, que é a principal associação de defesa dos minoritários do Brasil, se posicionou a nosso favor. A B3 falou que a multa era indevida, o ISS, que é a principal consultoria de governança do mundo, recomendou votar contra o acordo. Outros acionistas relevantes entraram na Comissão de Valores Mobiliários com pedido contrário ao negócio, como, por exemplo, a Aberdeen. No final das contas, não era só a Fama que estava com a sua tese. Talvez tenhamos sido o primeiro, o mais vocal, mas aos poucos nossa tese foi corroborada por outras vozes no mercado.
Agora, o que acontece é que tem uma assembleia marcada para terça-feira, 17, e preciso, dentro do meu chapéu de gestor de portfólio, sempre procurar as melhores alternativas de investimento para os meus cotistas. E quando olho para a ação da Linx hoje vejo alguns cenários possíveis.
No primeiro cenário, a transação infelizmente acontece nos termos propostos. Se isso ocorrer, eu não ganharia nada, inclusive porque os preços de tela da ação já estão acima do patamar da oferta. Então, do ponto de vista de gestão de portfólio, seria negativo.
No segundo cenário, a CVM, a Justiça, alguém acorda e fala para pararem com isso, para cancelarem a proposta. Se isso acontecer, vai criar uma insegurança absurda e as ações vão ter uma bela queda, o que também não seria positivo.
Por fim, em um terceiro cenário, a CVM poderia falar que a maneira como está sendo conduzido o negócio está errada, que a Totvs (TOTS3) teria todo o direito de participar do processo e os minoritários precisam votar na proposta da Totvs também. Incluiriam a Totvs e eventualmente novos interessados nessa transação e aí passa a ter uma disputa de preços.
Então, nesses três cenários, um é praticamente neutro, com um pequena queda; o outro, é uma queda muito grande; e tem um terceiro que é uma eventual disputa de preços. Quando avaliamos a possibilidade de cada um desses cenários e confrontamos com outras oportunidades que vemos no mercado, acho que é meu dever buscar melhores oportunidades.
Eu tinha oportunidades melhores para alocar o capital dos meus clientes. Com isso, vendemos Linx e compramos outras posições. Mas continuo muito descontente com essa transação, acho um absurdo. Acho que fere todos os bons princípios de governança e é muito preocupante porque esse caso é emblemático. Se for aprovado dessa forma, outras empresas do Novo Mercado podem eventualmente usar dos mesmos subterfúgios para poder violar a questão do tag along (mecanismo de proteção aos minoritários em caso de mudança de controle) e suprimir o direito de voto dos minoritários a partir de multa. Então, abre-se um precedente horroroso. Enquanto eu puder lutar para que essa transação não ocorra, lutarei. Continuo fazendo outras coisas não visíveis, seguimos na luta diária. Espero que na terça-feira essa transação não seja aprovada da maneira como foi proposta.
Com o dinheiro da venda de Linx, vocês abriram novas posições? Em quais oportunidades estavam de olho?
O que posso falar é que parte do capital foi alocado em uma posição que já tínhamos no portfólio, que é Klabin. Aumentamos a participação em Klabin.
A Klabin é uma empresa de que gostamos muito, somos acionistas há muitos anos. No começo da crise, em fevereiro, março, por a Klabin ser percebida -- nós discordamos -- como uma empresa dolarizada, ela performou super bem versus as demais. Tínhamos vendido uma pequena proporção de Klabin naquele momento para comprar Renner e agora repomos essa parte que tínhamos vendido.
Mas tem pontos a mais. Desde então, os resultados da Klabin melhoraram ainda mais do que imaginávamos. Tem a questão do Biden, que é muito favorável para a Klabin, ela tem créditos de carbono para vender, então a regulamentação do mercado de carbono traz receitas adicionais para a Klabin. Essa agenda ambiental é espetacular para a empresa, tem esse ponto positivo também.
E tem um ponto que era um grande incômodo para nós em relação à Klabin: era em relação à governança. Também temos interagido com a empresa para resolver a questão dos royalties e finalmente essa questão está endereçada. Ainda não foi resolvida, mas até o fim do mês deve ser resolvida. Temos trabalhado com a Klabin nesse sentido.
A parte ambiental deles é espetacular, a parte de governança tem ali suas questões, mas que, desde o começo do ano para cá, melhoraram. Os resultados melhoraram e o Biden ainda ajuda. Então, a decisão foi bem natural, bem fácil.
Há outras empresas no portfólio que se beneficiam de um mercado de carbono regulado?
A Duratex (DTEX3) também é uma empresa no nosso portfólio que se beneficia, que tem créditos de carbono para vender.