Repórter
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 10h28.
Um número recorde de empresas dos Estados Unidos que atuam na China está considerando mover suas operações para fora do país ou já iniciou o processo de realocação, segundo a pesquisa anual da Câmara de Comércio Americana na China (AmCham), divulgada pelo Financial Times. A medida reflete a escalada das tensões comerciais entre os dois países com o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA.
O estudo revelou que 30% das empresas pesquisadas buscaram alternativas para suas cadeias de suprimentos ou transferiram a produção para fora da China em 2023, o dobro do registrado em 2020. Entre os principais motivos estão as tensões comerciais e o fortalecimento das cadeias de suprimentos após os impactos da pandemia de Covid-19.
Michael Hart, presidente da AmCham China, destacou ao Financial Times que, embora a maioria das empresas americanas ainda não tenha se mudado, a tendência de relocalização é clara e preocupante para a China. “Não vejo razão para pensar que o investimento bilateral aumentará nos próximos anos. As empresas estão diversificando suas cadeias de suprimentos e investindo em outros mercados”, afirmou.
Os planos comerciais do presidente Trump reforçam o cenário de incertezas. Apesar de adiar a implementação de uma tarifa de 60% sobre produtos chineses, Trump reiterou que uma taxa de 10% pode ser aplicada a partir de fevereiro, caso Pequim não tome medidas contra as exportações de precursores para fentanil, um poderoso opioide sintético.
A AmCham revelou que 44% das empresas considerando relocalização citaram as tensões comerciais como o principal motivo, enquanto outras buscaram mitigar riscos e fortalecer cadeias de suprimentos. A maioria optou por países em desenvolvimento na Ásia, com 38% direcionando operações para a região, enquanto economias desenvolvidas, como EUA, União Europeia, Japão e Coreia do Sul, também se tornaram destinos atrativos.
Na noite de quinta-feira (23), no entanto, Trump afirmou que prefere "não impor tarifas contra a China".
A declaração ocorre poucos dias após o presidente anunciar a intenção de implementar uma nova tarifa de 10% sobre produtos chineses, levantando questionamentos sobre suas verdadeiras intenções em relação à segunda maior economia do mundo. O tom mais conciliador foi interpretado como um esforço para proteger as relações comerciais entre os dois países, cujas economias estão estreitamente conectadas.
Empresas de tecnologia e de pesquisa e desenvolvimento estão entre as mais afetadas, com 41% relocalizando ou considerando mudanças. As administrações de Trump e Biden adotaram políticas para restringir o acesso da China a tecnologias avançadas, como semicondutores e baterias, enquanto Pequim retaliou limitando exportações de minerais críticos, intensificando a disputa tecnológica.
Apesar das dificuldades, um terço das empresas pesquisadas acredita que a “qualidade” do ambiente de investimento na China melhorou em 2023, uma alta de cinco pontos percentuais em relação ao ano anterior.
Michael Hart ressalta que a China continua sendo um mercado estratégico. “A China ainda é extremamente importante para muitas empresas, e isso é algo que estamos tentando comunicar ao governo em Washington.” E o acesso ao mercado chinês e a competição com rivais locais continuam sendo desafios significativos para empresas estrangeiras.