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EXCLUSIVO: Quem tem medo do Mercado Livre? A RD Saúde, não

CEO da companhia não acredita em disrupção do varejo farmacêutico no Brasil: 'temos capacidade de entrega maior que qualquer plataforma digital'

Renato Raduan, CEO da RD Saúde: 'não vejo uma disrupção no Brasil'

Renato Raduan, CEO da RD Saúde: 'não vejo uma disrupção no Brasil'

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 7 de novembro de 2025 às 11h18.

Última atualização em 7 de novembro de 2025 às 11h54.

A eficiência logística da RD Saúde ganhou uma nova dimensão nesta semana. A gigante do varejo farmacêutico, dona das redes Raia e Drogasil, inaugurou um centro de distribuição em Viana, no Espírito Santo. Na estrutura, trabalham 200 funcionários que têm como colega de trabalho um time composto por 90 robôs.

Há dois tipos robôs. Os mais altos, responsáveis por ir e voltar, numa linha reta, que retiram e colocam caixas de produtos das prateleiras — uma espécie de empilhadeira autônoma. Os menores, que pegam as caixas e levam até os funcionários, fazem vários caminhos pelo piso repleto de QR codes. São dezenas deles rondando o palco do galpão, com agilidade, sem nem sequer esbarrar um no outro, e sem nenhum auxílio dos demais funcionários humanos.

“A única coisa que o sistema comanda é a caixa que tem que ser trazida das prateleiras até a estação de separação. O caminho, quais 'ruas' o 'robozinho' vai pegar, como fazem para não se trombar, aí já é um sistema contratado”, explica Renato Raduan, CEO da RD Saúde.

Centro de distribuição da RD Saúde em Viana, Espírito Santo

Robôs no Centro de distribuição da RD Saúde em Viana, Espírito Santo (Letícia Furlan | Exame) (Letícia Furlan/Exame)

O investimento para o novo CD, com a tecnologia inédita, foi de R$ 80 milhões. À EXAME, o executivo revelou que cerca de 50% do valor foi para o sistema de automatização. O restante foi para a estrutura do centro de distribuição, que tem uma área total de 8 mil metros quadrados e capacidade de estocar até 12 milhões de unidades e conta com sistema de ar condicionado e segurança de alto padrão.

Mas o investimento chega a ser pequeno quando comparado à ambição da companhia.

A RD Saúde encerrou o terceiro trimestre com mais 3,4 mil farmácias em operação e a projeção é que pelo menos 300 novas lojas sejam inauguradas a cada ano. No período, a receita líquida de vendas e serviços consolidada chegou a R$ 11,26 bilhões, e a bruta somou R$ 12,1 bilhões. Esse valor representa um crescimento em relação ao mesmo trimestre do ano passado, quando a receita líquida foi de R$ 9,9 bilhões.

Diferencial competitivo

Toda essa estratégia de expansão fica especialmente mais importante com o avanço do Mercado Livre no mercado de venda de medicamentos no Brasil. Por aqui, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) veta a oferta de medicamentos pela internet que não seja feita por farmácias ou drogarias autorizadas e licenciadas por órgãos competentes.

Mas, para driblar esse empecilho, o Meli adquiriu uma farmácia física na zona sul de São Paulo, possível passo para começar a vender remédios. Além disso, a gigante do e-commerce está em conversas com autoridades para tentar mudar a regulamentação, permitindo a operação no modelo marketplace.

Para o CEO da RD Saúde, nada blindaria a companhia de uma possível concorrência com o Mercado Livre, mas além da questão regulatória, a varejista farmacêutica aposta em seu diferencial competitivo.

“A automação fortalece nossas farmácias, porque garante um nível de estoque muito bom. Mesmo que a regulação mudasse e que as plataformas digitais usassem a logística delas para ganhar sinergia e baixar custo de distribuição, não seria um grande problema. As farmácias da RD já estão a cinco minutos de 80 milhões de brasileiros e a cinco quilômetros de distância de 120 milhões”, explica Raduan.

"Já temos a possibilidade de entregar em até 60 minutos, 97% dos nossos clientes recebem seus produtos dentro desse tempo. Qualquer empresa de plataforma digital não consegue isso”, afirma Raduan.

O que acontece nos Estados Unidos também não chega a surpreender o executivo. No mercado americano, a Amazon avança com seu braço de varejo farmacêutico, inclusive com a venda de medicamentos com prescrição médica em vending machines. Mas a companhia ainda tem uma fatia pequena desse mercado, enquanto incumbentes continuam crescendo.

“Não acho que o varejo farmacêutico americano foi disruptado. A CVS e o Walgreens ainda têm uma fatia de mercado super alta. Também não vejo uma disrupção no Brasil. Pode haver, sim, novos entrantes, vistos como novos concorrentes”, explica.

Na RD Saúde, os produtos das farmácias são encarados como commodities: há pelo menos uma farmácia a cada esquina no Brasil, com os mesmos medicamentos a preços muito similares. A estratégia da companhia é se diferenciar pela experiência proporcionada ao cliente, através da disponibilidade de produtos e presença em pontos estratégicos.

A cada ano, a empresa deve abrir 300 novas lojas, entre Raia e Drogasil. Com isso, Raduan afirma que a meta é que um inaugurar um CD automatizado, igual ao de Viana, por ano.

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