Painel da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de junho de 2021 às 15h19.
Surpresa positiva da economia, o crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deve impulsionar ainda mais a Bolsa até o fim do ano, sobretudo os papéis das empresas domésticas. Até agora, quem vinha dando tração ao Ibovespa (principal índice da B3) eram as companhias exportadoras de commodities, alavancadas principalmente pelas compras chinesas.
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Juntos, esses dois movimentos podem fazer o Ibovespa chegar a 145 mil pontos no fim do ano - um aumento de 22% em 12 meses -, de acordo com as estimativas mais otimistas do mercado.
É preciso lembrar, entretanto, que as ações são investimentos de risco, com preços voláteis, e o cenário pode mudar rapidamente. Por enquanto, a alta acumulada é de 8,9%. Na quarta-feira, o Ibovespa subiu 1,04% e terminou o dia com 129.601,44 pontos, nova máxima histórica.
A tendência de alta no Ibovespa começou a se solidificar em abril, após um período conturbado no mercado financeiro nacional. Em apenas dez dias no fim de fevereiro - quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou a mudança no comando da Petrobras (PETR3/PETR4), assustando os investidores -, o indicador perdeu 10 mil pontos, com uma retração de 8,6%. A queda brusca exemplifica o comportamento volátil e de risco da Bolsa. Se não houver novos sustos (e eles são frequentes), os analistas apostam em um fortalecimento da Bolsa nos próximos meses semelhante ao de abril e maio.
O Bradesco BBI projeta oficialmente um Ibovespa na casa dos 135 mil pontos em dezembro. Mas a tendência é de alta, segundo André Carvalho, estrategista de ações para a América Latina e chefe de análise de empresas do banco. "Hoje eu diria que 140 mil pontos para a Bolsa no fim do ano parece até conservador nesse cenário de PIB."
Há pouco mais de 15 dias, o Bradesco BBI estimava que o Ibovespa encerraria 2021 com 130 mil pontos. A alteração da previsão ocorreu antes de o PIB do primeiro trimestre ser divulgado, na terça-feira.
"Havia um consenso entre os economistas que o PIB cresceria 3% neste ano. Imagino que esse número deve ir para perto de 5% agora. Aí é natural que, revendo o PIB, se revise também o lucro das empresas para cima e a Bolsa", acrescenta Carvalho.
De acordo com o economista, o lucro das companhias listadas já surpreendeu no primeiro trimestre, com vendas maiores do que o esperado - o que levou parte dos analistas a rever suas projeções para a Bolsa. No início do ano, porém, esse resultado foi verificado principalmente entre as empresas que trabalham com commodities. Com a previsão de retomada do consumo brasileiro a partir de agora, os grupos que trabalham domesticamente também devem se recuperar.
O economista Pedro Serra, da Ativa Investimentos, também projeta melhores resultados para essas empresas, dado que a vacinação deve avançar mais rapidamente no segundo semestre. A expectativa é que, com uma maior parte da população imunizada, aumente a confiança do consumidor. Para as empresas, isso deve resultar em maiores vendas - e lucros.
"Hoje, quando se olha apenas a foto, a das companhias de commodities é mais bonita. Mas as empresas domésticas estão se recuperando. Aí é melhor investir nas que estão avançando do que naquelas que já cresceram", diz Serra. Na semana passada, o economista mudou a estimativa da Ativa para o Ibovespa de 128 mil pontos no fim deste ano para 138 mil pontos.
Com o maior otimismo no mercado interno, a XP também elevou sua projeção para 145 mil pontos. Na visão de Jennie Li, estrategista de ações da XP, as preocupações com o cenário macroeconômico diminuíram, permitindo que os investidores prestassem mais atenção aos resultados das empresas. Ainda há um problema fiscal crônico, afirma Jennie, mas as questões mais emergenciais, como a discussão em torno do Orçamento e a interferência do governo Bolsonaro na Petrobras, foram superadas.
Diante desse novo panorama e do afrouxamento da quarentena, a XP tem recomendado ações de empresas do varejo, supermercados e até shoppings. Jennie ressalva que a inflação, o recrudescimento da pandemia, a crise hídrica e a tendência de alta nos juros ainda são riscos importantes.
Para Carvalho, do Bradesco BBI, entretanto, não deve haver uma entrada de capital estrangeiro importante no Brasil pelo menos até o próximo ano. "Os investidores estrangeiros estão sem visibilidade do cenário brasileiro por conta das eleições. Com essa revisão do PIB, eles devem colocar mais dinheiro aqui, mas não como víamos antes, que entravam pensando em ficar cinco anos. É um comportamento mais oportunista."
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