Trump e Xi: China e EUA anunciaram extensão da trégua comercial (Brendan Smialowski/AFP/Getty Images)
Repórter
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 07h32.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na segunda-feira, 11, que a trégua comercial com a China se estenderá por mais 90 dias. A medida foi anunciada poucas horas antes do prazo original e foi recebida com cautela pelos mercados financeiros, especialmente na Ásia, onde as bolsas registraram altas significativas. O Nikkei, principal índice japonês, atingiu seu maior nível histórico nesta terça-feira, 12.
Embora a extensão da trégua tenha trazido alívio imediato, analistas do mercado expressaram cautela em relação ao impacto a longo prazo. A medida impede o aumento das tarifas de 30% sobre as importações chinesas, que poderiam ter sido elevadas para 145%, e mantém as tarifas de 10% sobre os produtos dos EUA que entram na China, em vez de subir para 125%. No entanto, os analistas destacaram que, apesar do alívio temporário, questões estruturais do comércio entre os dois países permanecem sem solução, como o déficit comercial e as disputas sobre transferência de tecnologia.
Para Stephen Innes, da SPI Asset Management, "não devemos nos iludir sobre o acordo". "As tarifas de 30% ainda permanecem, e as tarifas legadas da administração Trump continuam a afetar o comércio", disse ele. Innes ainda ressaltou que a situação continua volátil e pode passar por mudanças significativas com novas decisões da Casa Branca.
Outro ponto de preocupação para os analistas financeiros é o impacto inflacionário das tarifas prolongadas. Mayank Markanday, do Foresight Group, gestora de investimentos britânica, alertou para os riscos de estagflação, um cenário no qual o crescimento econômico desacelera enquanto a inflação continua a subir. "Se os dados de inflação dos Estados Unidos ultrapassarem as expectativas, isso complicará a capacidade do Federal Reserve de reduzir as taxas de juros", afirmou ele à Reuters. Segundo ele, a pressão inflacionária nos EUA pode pressionar "ainda mais a economia global".
A extensão da trégua também abriu a possibilidade de uma reunião entre Trump e Xi Jinping, o que poderia ser um passo importante para a negociação de um acordo comercial mais duradouro. Para David Meale, do Eurasia Group, "é muito provável que os EUA e a China cheguem a algum tipo de acordo comercial, e os próximos passos serão provavelmente impulsionados pela perspectiva de uma reunião entre os presidentes Trump e Xi nos próximos meses", segundo a Reuters. Segundo ele, a cúpula pode ser crucial para dar uma direção mais clara para as negociações.
Jeff Moon, ex-assistente do Representante Comercial dos EUA para a China, afirmou à CNBC que "extensões adicionais das tarifas provavelmente estarão em vigor pelo menos até a data da cúpula", sugerindo que o prazo de novembro pode ser novamente estendido. Para ele, as negociações de longo prazo continuarão, mas com grandes incertezas dependendo do resultado da reunião entre os líderes.
A extensão da trégua trouxe uma pausa importante, especialmente para os varejistas que estavam se preparando para a temporada de compras de fim de ano. No entanto, a guerra comercial ainda não está resolvida, e as exportações da China para os EUA continuam em declínio, com uma queda de 21,7% no ano até julho. A expectativa é que a guerra comercial continue a afetar os fluxos comerciais globais, embora a trégua ofereça uma relativa estabilidade a curto prazo.
Para Moon, "o resultado insatisfatório garante que a guerra comercial continuará no futuro indefinido" a trégua pode ser apenas uma pausa tática em vez de uma solução estratégica. Enquanto a trégua oferece algum alívio imediato, segundo ele, a falta de um acordo substancial pode significar que as tensões comerciais entre as duas potências continuam no horizonte.