Mercados

Estrangeiro dobra aposta no real com disparada do cupom cambial

Com a valorização de 48% da moeda brasileira nos últimos 2 anos, investidores fazem empréstimos em dólar

Em janeiro, o BC começou a apostar contra a alta do real nos leilões de swap reverso (Raul Júnior/VOCÊ SA)

Em janeiro, o BC começou a apostar contra a alta do real nos leilões de swap reverso (Raul Júnior/VOCÊ SA)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de março de 2011 às 09h07.

Nova York/São Paulo - A taxa do cupom cambial chegou ao maior nível em dois anos, um sinal de que o Banco Central não está conseguindo impedir investidores de apostar na valorização do real no mercado futuro.

A taxa do cupom cambial, que mede o custo anual de empréstimos em dólar no Brasil, subiu de 1,66 por cento em 18 de janeiro para 3,22 por cento em 1 de março, o maior patamar desde janeiro de 2009, segundo dados compilados pela Bloomberg. As apostas de estrangeiros de que o real vai se valorizar superam o total de apostas na queda da moeda em 87.635 contratos na BM&FBovespa SA em São Paulo, mais que o dobro da diferença de 37.106 registrada no fim do ano passado.

A incapacidade do BC de reverter a alta de 48 por cento da moeda brasileira nos últimos dois anos leva investidores a fazer empréstimos em dólares e a aumentar as apostas na alta do real, puxando a taxa do cupom cambial pra cima, disse Marjorie Hernandez, analista de câmbio do HSBC Holdings Plc. Bancos centrais de países como Brasil, Chile e África do Sul enfrentam dificuldades para enfraquecer suas moedas e impulsionar as exportações, já que investidores continuam buscando alternativas para os juros próximos de zero nos Estados Unidos e Europa.

“O recado para o Banco Central é que as medidas que eles tomaram não são eficazes”, disse Luís Fernando Lopes, sócio que ajuda a gerenciar R$ 1,1 bilhão no Pátria Investimentos em São Paulo, numa entrevista por telefone. “Nós vimos entradas enormes e as pessoas voltaram ao jogo.”

‘Jogar com o spread’

Em janeiro, pela primeira vez em 21 meses, o BC começou a fazer apostas contra o real no mercado futuro por meio de leilões de swap cambial reverso. Os leilões são parte de uma série de medidas adotadas para frear a alta da moeda.


A instituição fez leilões de swaps reversos sete vezes, movimentando R$ 6,6 bilhões este ano. Nos swaps reversos, o BC paga a investidores a taxa interbancária overnight em reais, atualmente em 11,16 por cento, em troca de um juro fixo em dólares, o cupom cambial.

O salto na taxa do cupom cambial pode estimular os bancos locais a tomar empréstimos na moeda americana usando a taxa do mercado interbancário em Londres, a um custo 2,91 ponto percentual inferior, para trazer o dinheiro ao Brasil a fim de lucrar com a diferença, disse Marjorie, do HSBC. A taxa Libor de três meses está em 0,31 por cento.

“Os swaps reversos do Banco Central têm sido relativamente pequenos”, disse a analista numa entrevista por telefone de Nova York. “Os bancos locais pressionam o cupom cambial ao jogar com o spread em relação aos juros do exterior.”

Alta de juro

Assessores de imprensa do Itaú Unibanco Holdings SA e Banco Santander SA não fizeram comentários para esta reportagem. O Banco Bradesco SA disse em comunicado enviado ontem por e-mail que não comenta suas estratégias de tesouraria.

O BC afirmou num comunicado por e-mail que não faz comentários sobre oscilações do mercado.

O Comitê de Política Monetária do BC elevou ontem o juro básico em 50 pontos-base, ou 0,5 ponto percentual, para 11,75 por cento, numa decisão unânime para tentar frear a inflação. Foi a segunda alta da Selic este ano e a quinta nos últimos 12 meses.

Acompanhe tudo sobre:CâmbioMoedasReal

Mais de Mercados

BTG vê "ventos favoráveis" e volta recomendar compra da Klabin; ações sobem

Ibovespa fecha em queda e dólar bate R$ 5,81 após cancelamento de reunião sobre pacote fiscal

Donald Trump Jr. aposta na economia conservadora com novo fundo de investimento

Unilever desiste de vender divisão de sorvetes para fundos e aposta em spin-off