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Estrangeiro compra mais em ofertas públicas do que vende na Bovespa

Saldo é de 1,38 bilhões de reais no ano, o terceiro pior desde 2004

No ano, investidor estrangeiro gastou 23,57 bilhões de reais em ofertas públicas de ações (Germano Lüders/Exame)

No ano, investidor estrangeiro gastou 23,57 bilhões de reais em ofertas públicas de ações (Germano Lüders/Exame)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 3 de setembro de 2019 às 15h20.

Última atualização em 3 de setembro de 2019 às 15h20.

Os investidores estrangeiros venderam 11,758 bilhões de reais a mais do que compraram em ações na Bovespa em agosto, até dia 29. É a maior venda líquida de ações em um mês na história da Bolsa, superando os 8,433 bilhões reais de maio do ano passado. Com isso, a saída total de estrangeiros no ano está em 22,191 bilhões de reais, a segunda maior da história, só perdendo para os 24,629 bilhões de reais de 2008, ano da crise financeira mundial iniciada pelo subprime nos Estados Unidos.

Esse saldo, porém, considera só as compras e vendas feitas no mercado secundário, em que os investidores negociam papéis entre si. Não inclui as compras de estrangeiros em ofertas públicas de ações, que são feitas diretamente pelas empresas ou pelos sócios controladores. Há dois tipos de ofertas, as de ações novas, ou ofertas primárias, quando a empresa cria a ação para vender, e as secundárias, de papéis já emitidos, mas que estão nas mãos dos grandes acionistas controladores ou sócios. Há ainda as ofertas iniciais, quando a empresa abre seu capital, e as ofertas subsequentes, ou “follow-ons”, de empresas que já estão no mercado. Todas representam a entrada de novas ações em circulação na Bovespa.

Saída líquida de 1,381 bilhão de reais

Nessas ofertas públicas, os estrangeiros compraram 23,573 bilhões de reais neste ano até agosto, segundo dados da B3, valor que supera em 1,381 bilhão de reais a saída do mercado secundário da Bovespa. Ou seja, o saldo total de estrangeiros está positivo. Normalmente, a bolsa não soma os dois valores. Mas os dados mostram que, se houve saída forte de investidores de ações já em circulação, houve muito interesse em ações novas, que estão entrando no mercado.

É provável que sejam tipos diferentes de investidores, já que os que participam de ofertas, especialmente as iniciais, costumam ser mais de longo prazo, já que a liquidez dos papéis não é tão grande e eles podem ter de ficar mais tempo com as ações. Há também investidores estratégicos, que procuram aproveitar as ofertas para comprar parte da empresa no mercado. Já na Bovespa, o perfil de investidor é mais de fundos de curto prazo, que precisa de liquidez para vender em caso de mudança de cenário ou resgates.

O que os dados das ofertas e do mercado secundário mostram é que a saída dos estrangeiros do mercado acionário brasileiro neste ano não é tão grande. No ano passado, a saída foi maior, com 5,699 bilhões de reais, só perdendo para 2008, quando saíram 8,564 bilhões de reais. Mas o saldo, de 1,381 bilhões de reais no ano, é o terceiro pior desde 2004, quando as ofertas públicas voltaram ao mercado brasileiro, e só não é pior que as duas grandes saídas de 2018 e de 2008 (veja tabela abaixo). Ou seja, o apetite do estrangeiro não está tão grande assim.

AnoOfertas PúblicasBovespaSaldo
20046.092,781.803,507.896,28
20059.629,475.860,8015.490,27
200619.999,611.752,4021.752,01
200749.594,50-4.235,6045.358,90
200816.065,54-24.629,70-8.564,16
200930.066,0220.596,6050.662,62
201040.471,455.958,0046.429,45
20119.881,30-1.352,008.529,30
20124.827,531.822,206.649,73
20139.931,3811.746,2021.677,58
20145.520,8020.342,7025.863,50
201511.984,0916.387,1028.371,19
20164.867,5814.325,4019.192,98
201721.439,1514.354,0035.793,15
20185.821,65-11.521,10-5.699,45
2019*23.573,61-22.191,801.381,81

*Dados em R$/milhões até dia 29 de agosto. Fonte: B3

O contexto global indica que há uma redução na alocação de recursos para bolsas de mercados emergentes, o que explica a saída de investidores do Brasil, diz Peter Taylor, da Aberdeen Asset Management, uma das maiores gestoras de recursos do mundo. Mas, ao mesmo tempo em que alguns estrangeiros vendem ações na Bovespa, muitos estão investindo em ofertas públicas de empresas que já estão no mercado e aberturas de capital, diz Taylor. “Nós somos positivos com o Brasil, temos overweight (recomendação de compra acima da média de mercado) para o país”, disse, durante evento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Incerteza afasta estrangeiro

A principal motivação para a fuga do capital gringo é a incerteza em torno da economia global, afirma a corretora Guide Investimentos. Números fracos de atividade na Ásia e na Europa podem sinalizar um novo ciclo de desaceleração para o PIB mundial. Quando isso acontece, os estrangeiros tendem a buscar abrigo no porto seguro das economias desenvolvidas, evitando a volatilidade associada aos emergentes, como no caso do Brasil. Também existe a questão do embate comercial entre as duas maiores economias do mundo, China e Estados Unidos, que prejudica ambas as nações. Juntas, o PIB dos dois países abrange em torno de 40% do PIB global. 

Apesar da saída de estrangeiros este ano, o Índice Bovespa atingiu a sua alta histórica, com 106.650 pontos em junho e se mantem próximo ao patamar de 100 mil pontos, observa a Guide. Os investidores locais continuam dando sustentando ao desempenho da Bolsa, enquanto o governo faz grande avanço em suas agendas reformistas (Previdência, tributária, privatização etc.). A taxa básica de juros também está no seu menor nível histórico e deve cair ainda mais até o final do ano, favorecendo os investimentos de renda variável e as empresas brasileiras com fontes de financiamento baratas.

Lá fora, líderes mundiais em todos os continentes têm demonstrado seu compromisso com medidas anticíclicas, a economia americana continua forte e o embate entre Donald Trump e Xi Jinping aparenta caminhar em direção a uma resolução ainda este ano, afirma a Guide.

*Esta matéria foi publicada originalmente no site Arena do Pavini
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