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Estatais perdem R$ 90 bi de valor com crise fiscal

Empresas controladas pelo governo respondem por 20% das perdas de toda a bolsa

Jair Bolsonaro: investidores veem guinada populista como ameaça fiscal (Adriano Machado/File Photo/Reuters)

Jair Bolsonaro: investidores veem guinada populista como ameaça fiscal (Adriano Machado/File Photo/Reuters)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 15h51.

Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 16h47.

Em meio ao aumento dos temores fiscais no mercado, a bolsa brasileira caminha para fechar setembro com a segunda queda mensal consecutiva. Sem conseguir superar a marca dos 105.000 pontos alcançada pouco antes do fim de julho, o Ibovespa acumula queda de mais de 10% em relação à máxima pós-início da pandemia. Nesse período, as estatais do governo federal listadas na bolsa (Eletrobras, Banco do Brasil, BB Seguridade, Telebras e Petrobras) acumularam perdas de 89,8 bilhões de reais de valor de mercado, segundo dados do sistema de informações financeiras Economatica. O montante representa 21% das perdas de toda a bolsa brasileira, embora o grupo de cinco empresas represente apenas 11,7% do valor de mercado total.

“As estatais são mais próximas do risco soberano, já que o controlador é o próprio governo. Se o controlador está fazendo coisa errada, a percepção de risco da empresa que ele controla aumenta”, afirma Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research.

Embora já fosse considerado alto, o risco fiscal do governo aumentou ainda mais nesta semana, com a apresentação do programa Renda Cidadã, que deve fazer uso de recursos que seriam destinados ao pagamento de precatórios e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) — o que foi encarado por parte dos investidores como uma manobra para aumentar as despesas sem furar o teto de gastos.

 

“Com a piora da situação fiscal e o governo tendo de recorrer a fontes alternativas de renda, é um fato que o número de pessoas que vão querer ser sócias do governo é menor”, afirma Arbetman, analista da Ativa Investimentos

Entre as estatais, a empresa que mais perdeu valor de mercado no período foi a Petrobras, com depreciação de 47 bilhões de reais. Mas em termos proporcionais, a maior queda ficou com a Telebras, que teve desvalorização de 47%, passando de 10,5 bilhões de reais de valor de mercado para 5,6 bilhões de reais.

A forte desvalorização da companhia de telecomunicações do governo ocorreu após as ações da empresa terem subido 100% entre junho e julho, com expectativas de privatizações, após o ministro da Economia ter sinalizado que a Telebras estava nos planos de desestatização da pasta. “Esse foi um caso clássico de especulação em cima de privatização. Depois que os investidores viram que não seria fácil, devolveram os ganhos”, comenta Arbetman.

Segundo Arbetman, a própria piora fiscal também influencia indiretamente a possibilidade de privatização da companhia. “O capital político para convencer congressistas de uma privatização é muito menor nesse cenário, já que se direciona os esforços para outras questões e fica com tempo menor para essas pautas.”

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