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Bolsas estrangeiras listam ações de funerárias a vinícolas

Em mercados ao redor do mundo é possível investir em quase tudo, de retratos de famílias até museus de cera; no Brasil, novos setores podem chegar em breve

Criado em 1881, o museu de cera francês Grévin abriu capital em 1997 na Nyse Euronext (.)

Criado em 1881, o museu de cera francês Grévin abriu capital em 1997 na Nyse Euronext (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - Retorno certo, de preferência com números altos. Em busca de investimentos rentáveis, os mercados não medem esforços para encontrar o lucro, esteja ele onde estiver. Muitos vão além das aplicações já conhecidas como gado, petróleo e aço. Há um universo paralelo na bolsa de valores que, pasme, carrega um pouco de humor e um tanto de absurdo: são investimentos que chamam atenção pelo caráter excêntrico. Há de tudo um pouco: de cartões de aniversário a pubs e tavernas, passando por museus de cera.

Alguns podem achar o tema macabro, mas o comércio funerário está vivo e faturando. Uma das empresas de capital aberto é a americana Carriage Services (NYSE:CSV), que oferece velórios e enterros no Texas. Para os temerosos de crises, poucos setores parecem tão seguros: raras coisas são tão certas quanto a morte. Mas mesmo as funerárias passam seus sustos. Na última crise financeira, a Carriage viu o número de enterros diminuir 60%, trocados pelas cremações, mais baratas.

Também no fértil mercado americano, um caso entrou para a história das finanças - o Mustang Ranch, primeiro bordel legalizado do país e que abriu capital no início dos anos 90. Negociar ações de uma casa de prostituição parece coisa de filme B, mas foi um bom negócio até a história acabar mal:  um incêndio, um cliente assassinado e algumas brigas entre acionistas depois, o estabelecimento foi fechado pela Receita Federal americana.

Uma oferta pública para negociar talentos femininos pode afastar investidores de mais pudor, mas no geral é bem aceita pelo mercado. Encontrar investidores para a Playboy Enterprises Inc., por exemplo, nunca foi um problema para Martha Linderman, diretora de relações com investidores da holding de mídia e entretenimento de Hugh Hefner, que licencia revistas, canais e sites. "É um negócio auto-explicativo. Eu apresentei a Playboy para muitos analistas ao longo dos anos, e eu nunca tive dificuldade. Se bem me lembro, todas as novas emissões de ações foram por excesso de procura", diz.


Criatividade nacional

No Brasil, a  atratividade da bolsa está mais no sobe e desce dos índices do que da diversificação dos mercados. Isto porque ter um leque maior de empresas é característica dos mercados maduros, como  o americano e o europeu. "A maioria destas empresas são small-caps, ou seja, são ações de companhias de médio e pequeno porte, que entram quando as bolsas do país já são expandidas", explica Ivan Clark, sócio da PricewaterhouseCoopers na área de mercados de capitais no Brasil e na América do Sul. A empresa lançou um estudo no começo deste ano apostando em 150 potenciais IPOs no país.

Para Paulo Sérgio Dortas, sócio para a área de IPOs da Ernst & Young, a chegada da Copa, das Olimpíadas e a implantação do pré-sal devem sacudir a lista de empresas  na bolsa de valores. "Esse cenário vai puxar imobiliárias, shopping centers e companhias de bens de consumo no geral. A saída por IPO vai ser uma resposta a esse crescimento".

"Com a sofisticação do mercado nacional, logo novos setores devem estrear. Ainda pouco extravagantes, porém, e mais diretamente ligados às necessidades de infra-estrutura", diz Clark. Ele aposta na entrada em médio prazo de empresas prestadoras de serviços, como hospitais, restaurantes fast food e seguradoras.  Um caminho possível, aponta, é por meio do BovespaMais, que deve atrair principalmente empresas de pesquisa e biociências, não interessadas em grande liquidez – o BovespaMais é um ambiente para a abertura de capital de empresas para receita líquida em torno de 50 milhões de reais anuais.

Conheça os investimentos mais diferentes nas bolsas:

1 - Museu de cera Grevin (EPA:GREV): No museu de cera francês, Nicolas Sarkozy encontra Charles Chaplin, Marylin Monroe e Frankenstein. A empresa do setor de entretenimento foi criada em 1881 no bairro de Montmartre, e nomeado em homenagem ao caricaturista Alfred Grevin, primeiro responsável pelas réplicas. O museu abriu capital em 1997 na Nyse Euronext.

2 - Vinho Concha y Toro (CONCHATORO): Se os riscos do mercado acionário são para aqueles que tem coração forte, uma taça de um vinho refinado e relaxante é uma boa recomendação aos investidores. A vizinha chilena Concha y Toro, por exemplo, tem tido boa safra: em maio deste ano, subiu de terceira para segunda marca de vinhos mais importante do mundo, segundo ranking da consultoria inglesa Intangible Business. As vendas em 2009 também tiveram um fim saboroso: a arrecadação de 643 milhões de dólares foi 9% maior do que no ano anterior.As ações são listadas na bolsa de Santiago.


3- Pubs e tavernas Fullers, Smith and Turner (LON:FSTA): Vendas de cerveja são conhecidas como investimento quase certo, mas a verdade é que elas não são blindadas contra crises. Assim foi com o setor de pubs na Inglaterra no fim de 2009, com sete pubs fechando por dia, segundo a British Beer and Pub Association. Mas a Fullers, Smith and Turner, com 164 anos e  ainda controlada pelas famílias fundadoras, cresceu 10% em faturamento  em relação ao mesmo período do ano passado, levantando 117 milhões de libras.  A razão está no clima, disse o presidente Michael Turner ao The Guardian. “O bom tempo no sudeste da Inglaterra nos deu as melhores vendas dos últimos dois verões”, justificou o patriarca. A empresa tem 365 pubs no país.

4 - Cartões de presente American Greetings Corporation (PINK:AMGTB): Aniversários de bebês, formaturas e casamentos foram uma calendário anual de vendas para os postais da empresa, que se apresenta como “promotora dos relacionamentos humanos”. Na era dos amigos virtuais, o grupo americano de postais não perdeu tempo e já tem uma linha de e-cards, papéis de parede para desktop e protetores de tela para download.

5 - Fotos de família na CPI Corps (NYSE:CPY): Os retratos posados de familiares podem até tropeçar no quesito bom gosto, mas se espalham como vírus nos lares americanos, para sorte da multinacional. A CPI Corps tem estúdios também no Canadá, Porto Rico e México, e se posiciona agressivamente em cada Walmart com um stand à espreita de pais e mães corujas. Em 2009, a receita da empresa foi de 422,37 milhões de dólares.

6 - Jornais e site do New York Times (NYSE:NYT): Investir em mídia impressa pode não ser novidade fora do Brasil, mas quando o assunto é Times, há sempre uma sombra projetada nos gráficos e cotações do periódico. O simbólico gigante americano é vanguarda entre os meios de comunicação e reflete antes as transformações da mídia. Para completar as emoções do investimento, há a lendária briga interna entre as famílias acionistas majoritárias Ochs e Sulzberger, que gera uma nada exemplar governança corporativa e já rachou redações no meio.

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