Mark Mobius: para o gestor, burocracia e corrupção são os problemas que exigirão a atenção do governo (Dario Pignatelli/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 3 de novembro de 2014 às 15h28.
São Paulo - O especialista em mercados emergentes e gestor de um dos maiores fundos de ações dedicado a esses países, Mark Mobius, da americana Franklin Templeton, vê grande potencial para o país desde que o novo governo Dilma Rousseff leve adiante reformas estruturais e adote uma política mais voltada para o mercado.
Ele diz também que o país está “flertando com a recessão” e não pode culpar apenas o cenário externo por seus problemas econômicos.
Mobius destaca o grande potencial do Brasil e diz que vai continuar investindo no país, procurando boas empresas que ficarem baratas pela queda da bolsa.
Para o gestor, que publicou o artigo em seu blog, o Brasil tem boas oportunidades no mercado acionário, como no setor de bancos, que já se mostrou capaz de resistir a momentos difíceis da economia.
E barganhas podem surgir se o mercado acionário continuar a registrar quedas, que devem ser aproveitadas pela gestora.
A Templeton buscará empresas que tenham potencial de sobreviver e registrar bom desempenho mesmo em um ambiente político e econômico mais difícil e que ficarem baratas na bolsa.
Burocracia, corrupção e mudanças
Mobius destaca as primeiras declarações da presidente Dilma, prometendo atacar a corrupção e reformar o sistema político, dispondo-se ainda a dialogar com os críticos.
Para o gestor, a pesada burocracia e os casos de corrupção, particularmente entre empresas estatais, são os grandes problemas que exigirão a atenção do governo.
E o resultado apertado da eleição, com 51% de votos para a vencedora, mostraria o desejo do país de mudar.
“Na nossa visão, o grau de ineficiência e falta de progressos relacionados a reformas estão segurando os investidores e o país em geral”, diz o comentário.
“Apesar de vermos algumas tendências positivas de longo prazo, os indicadores macroeconômicos recentes parecem fracos em geral”.
Flerte com a recessão
Mobius observa que o Brasil está atualmente ‘flertando com a recessão”, e que o país deve crescer apenas 0,3% este ano, considerando o Produto Interno Bruto (PIB) real, descontada a inflação.
Ao mesmo tempo, a inflação segue no nível desconfortável de 6,3%. Para ele, porém, os fundamentos pobres brasileiros não podem ser atribuídos somente aos efeitos do mercado internacional, como defende o governo brasileiro.
Desemprego, indústria e Copa
O gestor chama a atenção também para o fato de o desemprego, apesar de baixo, estar vinculado a uma redução na força de trabalho do país, com a criação de emprego se deteriorando devido a perdas nos setores de construção, manufatura e transportes.
A grande questão hoje é como devem se comportar os gastos dos consumidores, uma vez que a renda disponível para consumo está menor.
A produção industrial também está em queda, afetada em parte pela Copa do Mundo e seus feriados.
Mobius destaca que, apesar da melhora no turismo, a Copa veio com um custo bastante elevado para o país e será preciso conferir se ela trará resultados positivos em termos estruturais ou econômicos no longo prazo.
Não só política e macroeconomia
Como investidor, Mobius diz que está prestando atenção ao ambiente político e macroeconômico brasileiro, mas não baseia todas as decisões de investimentos nessas áreas apenas.
“Nós continuamos investidores no Brasil e planejamos continuar buscando por oportunidades potenciais dentro da estratégia de seleção de boas empresas e ações”, diz.
Orientação para o mercado
Mobius acredita que uma abordagem econômica mais orientada para o mercado, junto com a redução da burocracia, podem ajudar tanto os brasileiros quanto os investidores no país.
Mas as métricas de investimento da Templeton sugeririam que um número de negócios com boa gestão e posições atrativas em seus mercados teriam potencial de prosperar “mesmo em um ambiente de tudo continuar como está”.
Grande potencial em matérias-primas
Ele destaca a excepcional oferta de recursos naturais do Brasil, incluindo matérias-primas industriais e agrícolas, que representam um grande valor de longo prazo em um mundo cada vez mais industrializado, urbanizado e rico.
Ao mesmo tempo, uma crescente classe média consumidora na América Latina representa uma fonte adicional de demanda crescente no longo prazo.
O gestor termina o artigo afirmando que “Nós continuamos otimistas que o Brasil pode atingir seu potencial completo com essas três palavras: reforma, reforma e reforma!”.