A escassez de emissões, maior entre os principais mercados emergentes, ocorre com a crise de dívida da Europa em crescimento (Christopher Furlong/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 14h51.
Nova York - Empresas brasileiras com classificação abaixo de grau de investimento, ou “junk”, vão continuar fora do mercado internacional de dívida, segundo o HSBC Plc. Para o banco, o período sem emissões de títulos de alto rendimento, que já o maior em mais de dois anos, deve se estender até 2012 com o desaquecimento da economia.
O rendimento de títulos junk brasileiros, que têm nota de crédito abaixo de Baa3 pela Moody’s Investors Service e inferior a BBB- pela Standard & Poor’s, subiu desde abril de 2009 para a média de 10,84 por cento, mais de duas vezes a taxa de 5,19 por cento paga por emissores globais com nota mais alta, segundo o Credit Suisse Group AG. A diferença é a mais alta desde abril de 2009. Esse spread deu um salto de 349 pontos-base, ou 3,49 pontos percentuais, desde 7 de julho, quando a Cosan SA Indústria & Comércio foi a última empresa brasileira com classificação junk a fazer uma captação no exterior.
A escassez de emissões, maior entre os principais mercados emergentes, ocorre com a crise de dívida da Europa crescendo e passando a atingir a Itália e a Espanha, o que gera receios de que a expansão mundial vai estacionar e elevar os custos de captação, disse Alexei Remizov, diretor de mercados de capitais do HSBC. No quarto trimestre, a Moody’s cortou as notas de créditos e perspectivas de empresas com classificação em grau especulativo sete vezes mais do que fez aumentos.
“É muito improvável que vejamos emissores de alto rendimento até o fim do ano”, disse Remizov em entrevista por telefone de Nova York. “Em 2012, enfrentaremos desafios de crédito similares já que o problema da dívida da Europa ainda precisa ser resolvido e ainda restam dúvidas sobre a administração fiscal nos EUA.”
US$ 5,9 bilhões em dívida
Vinte e um títulos em dólar de alto rendimento emitidos por 11 empresas brasileiras, no total de US$ 5,9 bilhões, estão sendo negociados a patamares pelo menos 1.000 pontos-base acima das taxas de bônus do Tesouro americano de prazo similar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Diferenças superiores a 10 pontos percentuais são consideradas de estresse. Companhias com pelo menos uma classificação de risco “junk” atribuída por Moody’s ou S&P venderam US$ 11,5 bilhões em dívida externa este ano, comparado a US$ 12,6 bilhões no mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Bloomberg.
Os custos de captação têm subido diante das dificuldades das autoridades europeias para implantar cortes no orçamento e impedir que a crise se agrave. Nos Estados Unidos, o fracasso do Supercomitê do Congresso na missão de encontrar formas de economizar mais de US$ 1 trilhão aos cofres públicos alimentou dúvidas sobre a capacidade dos parlamentares de superar a divisão partidária e lidar com o futuro fiscal do país.
Eletrobras, emissão soberana
As empresas brasileiras “estão esperando por maior estabilidade e maior apetite por risco”, disse Douglas Chen, chefe de distribuição internacional de renda fixa do Itaú Unibanco Holding SA em Nova York. “Existem muitas alternativas de valor relativo disponíveis aos investidores, alternativas de alto rendimento na Europa e na Ásia. As companhias brasileiras estão sendo mais oportunistas e se a janela não estiver aberta, eles seguem adiante.”
Emissões de dívida em dólar com grau de investimento em outubro e novembro pelo governo brasileiro e pela estatal Centrais Elétricas Brasileiras SA podem abrir caminho para venda de junk bonds antes do fim do ano, disse Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities em Nova York. Tanto a dívida do governo brasileiro como as notas da Eletrobras, maior do setor na América Latina e sediada no Rio de Janeiro, têm classificação de risco BBB pela Standard & Poor’s, o segundo menor grau de investimento.
Perspectivas macro
A Eletrobras captou US$ 1,75 bilhão com a emissão de bônus com prazo de 10 anos em 20 de outubro, a um cupom de 5,75 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“Se você imaginar uma cadeia -- uma emissão soberana, uma emissão corporativa de grau de investimento -- agora falta o alto rendimento”, disse Pasquarelli em entrevista por telefone. “Para haver uma emissão de alto rendimento, depende do custo local e se a empresa realmente precisa do dinheiro este ano.”
Para Remizov, do HSBC, as emissões corporativas brasileiras devem continuar limitadas, a menos que os líderes europeus avancem na resolução da crise de dívida.
“Há administradores de recursos com quantidades significativas de dinheiro para investir”, disse ele. “Se vão poder ou não, depende das perspectivas macroeconômicas."