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Entenda por que o dólar atingiu o menor patamar em 4 meses

Moeda americana rompe barreira psicológica de R$ 5,40 em meio ao aumento do fluxo de capital estrangeiro para o país

Moeda brasileira começa a se fortalecer também diante de alguns pares da América do Sul | Foto: GettyImages (halduns/Getty Images)

Moeda brasileira começa a se fortalecer também diante de alguns pares da América do Sul | Foto: GettyImages (halduns/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2022 às 08h10.

Última atualização em 29 de janeiro de 2022 às 10h43.

O dólar começa a ensaiar um movimento mais consolidado de queda em relação ao real e a outras moedas neste início de 2022.

A moeda americana fechou a semana no menor patamar em quatro meses e abaixo de 5,40 reais. O dólar foi negociado a 5,3915 reais no fechamento da sexta-feira, dia 28. É o menor valor desde 1º de outubro de 2021 (5,3696 reais).

No contexto favorável do dia, pesaram a estabilização dos mercados globais e uma recuperação de Wall Street no fim do dia, o que abriu caminho para a volta do apetite a risco e vendas da moeda americana.

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Foi a terceira semana seguida de desvalorização da moeda americana no Brasil, com queda de 1,22%. No acumulado das três semanas, a desvalorização é de 4,27%.

A um pregão apenas do fim de janeiro, o dólar acumula declínio de 3,27% no mês. A cotação caminha para registrar a maior queda mensal desde junho de 2021 (-4,77%) e a maior baixa para janeiro desde 2019 (-5,57%).

Veja abaixo duas razões para a queda do dólar:

1. Aumento do juro real e entrada de estrangeiros

O Banco Central deve promover um terceiro aumento consecutivo de 150 pontos-base (1,5 ponto percentual) na taxa básica de juros na reunião do Copom da próxima quarta-feira, dia 2 de fevereiro.

Esse novo aumento levará a taxa Selic para 10,75% ao ano, maior patamar em cerca de quatro anos e meio e distante da mínima histórica de 2% ao ano que vigorou entre agosto de 2020 e março de 2021. A taxa de juros embutida em contratos a termo de real para um ano está em 11,7% ao ano. É a máxima desde 2016. A inflação projetada para o fim de 2022, por sua vez, está pouco acima de 5%, o que sinaliza o tamanho dos ganhos para investidores.

"Uma das teses [para a queda do dólar] é o fluxo estrangeiro, que está forte para o Brasil e isso impacta a moeda", disse Lucas Costa, economista do BTG Pactual (BPAC11), na live de fechamento de mercado do banco no YouTube nesta sexta.

"O real continuará se beneficiando de um 'carry' [retorno] mais alto após um ciclo de elevação de juros mais rápido que a média dos emergentes", disseram estrategistas do Citi em nota, que mantêm posições relativas favoráveis à moeda brasileira.

Entre essas posições, por exemplo, os estrategistas apostam no real contra o peso colombiano por meio da venda de opções de compra de dólar/real e compra de opções de compra de dólar/peso colombiano.

O real apreciou quase 11% frente ao peso em 2021 e neste ano somava ganhos de 0,4%. Um índice do JPMorgan para moedas de economias emergentes subia também cerca de 0,4% desde o começo do ano, enquanto o índice do dólar contra uma cesta de rivais de países ricos saltava 1,7% no período.

"Dentro dos mercados emergentes, vemos espaço para os 'high yielders' [mercados com juros mais altos] e algumas moedas de commodities superarem os 'low yielders' [com juro baixo] no médio prazo. Dada a incerteza de curto prazo, continuamos posicionados seletivamente", disseram estrategistas do Barclays, que afirmaram expressar posições otimistas no real via opções.

Desde 7 de janeiro, os estrangeiros venderam o equivalente a 2,1 bilhões de dólares em contratos de dólar futuro, cupom cambial e swap cambial na B3, reduzindo assim apostas negativas na moeda brasileira.

2. Notícias positivas de Brasília

O Ministério da Economia informou nesta sexta, dia 28, que o governo decidiu zerar a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em operações com moeda estrangeira de forma gradual de 2022 até 2029. Essa retirada favorece operações com câmbio no médio prazo.

Também nesta sexta, o Tesouro divulgou que o déficit primário do governo central em 2021 foi o menor em sete anos, sinalizando que, a despeito das sinalizações novas do governo e do Congresso de novos gastos ou de renúncia fiscal -- vide a PEC dos Combustíveis --, o quadro atual mostra uma melhora em relação a anos anteriores.

 

(Com a Reuters)

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