Rali de ações: ausente em 2024, movimento volta ao radar com a nova fase de otimismo na Bolsa de Valores (Germano Lüders/Exame)
Repórter
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 07h46.
Última atualização em 4 de novembro de 2025 às 07h53.
O ineditismo de 150 mil pontos no Ibovespa, alcançado no pregão desta segunda-feira, 3, reacendeu uma velha expectativa entre investidores: a do famoso rali de fim de ano. Tradicional nos mercados, o movimento de alta, que costuma encerrar o calendário com ganhos, ficou ausente em 2024, mas agora volta ao radar com a nova fase de otimismo no mercado de ações do Brasil e do exterior.
Embora não exista uma explicação técnica única, o ralu é associado ao aumento da liquidez no sistema financeiro, impulsionado pelo pagamento de bônus e do 13º salário, e à reacomodação das carteiras de investidores, já de olho no próximo ano.
Os números ajudam a reforçar o peso dessa tradição. Em 12 dos últimos 26 anos de Bolsa, o Ibovespa apresentou valorização nos meses de novembro e dezembro, o chamado "rali de fim de ano" como costuma se referir o mercado, com ganhos médios acumulados entre 3,38% e quase 21%.
Em 2024, no entanto, o fenômeno não deu as caras. O Ibovespa recuou 3,12% em novembro e 4,28% em dezembro, em um contexto de juros elevados, inflação resistente e desconfiança em relação às contas públicas.
No exterior, a vitória Donald Trump, nos Estados Unidos, trouxe volatilidade adicional e fortaleceu o dólar, reduzindo o apetite por risco em países emergentes.
O cenário agora é mais favorável. A Bolsa vem de um mês de alta de 2,26% em outubro e, até esta segunda, já soma 21 recordes de fechamento no ano, o que reforça o sentimento positivo no mercado.
"A sequência desses recordes, desde maio, sugere que o índice pode sim estar ensaiando um famoso rali de final de ano, especialmente se os dados macroeconômicos continuarem favoráveis e se os balanços [corporativos do 3° trimestre de 2025] mantiverem esse ritmo positivo", diz Marcelo Boragini, especialista em renda variável na Davos Investimentos.
Parte dos analistas, porém, adota uma postura de cautela quanto à força de uma nova arrancada. Na visão de Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o patamar atual da Bolsa mostra confiança, mas já embute parte do otimismo.
"Há potencial [de um rali aocntecer], mas com ressalvas. Com base no cenário atual, se as taxas de juros começarem a dar sinais mais claros de queda e a inflação permanecer sob controle, isso pode impulsionar ainda mais a Bolsa. No entanto, o mercado interno brasileiro ainda enfrenta desafios: o crescimento econômico segue contido, há incertezas políticas e externas e a valorização já registrada exige mais 'combustível' para sustentar outro salto forte", afirma Lima.
Entre os fatores que sustentariam uma nova alta, Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, cita a inflação em desaceleração, a expectativa de cortes de juros à frente, o ambiente externo mais favorável e o efeito psicológico do recorde, que tende a atrair novos investidores.
Por outro lado, o rali pode ser freado se houver piora no risco fiscal, câmbio instável, inflação acima do esperado ou postergação da queda de juros. Além disso, após uma sequência forte de ganhos, há risco técnico de correção e realização de lucros.
"Minha convicção é que existe sim espaço para alta adicional, mas o avanço não será linear nem sem riscos. A projeção é de que o Ibovespa possa alcançar faixa entre 155 mil e 160 mil pontos ainda em 2025 se os ventos favoráveis persistirem", diz o gestor.
"Em termos do 'resto do ano', tendo em vista que já nos encontrarmos em novembro, eu colocaria como faixa-alvo razoável entre 150 mil e 155 mil pontos se tudo correr bem [cenário base], com possibilidade de esticar para 160 mil em cenário mais otimista. Se houver surpresas negativas, poderia haver travamento ou até recuo".
Enrico Cozzolino, sócio e head de análises da Levante Investimentos, avalia que as ações de empresas de peso do Ibovespa estão "baratas" em relação ao seu valor histórico. Mas o especialista também ressalta que além dos fatores técnicos e econômicos, o ambiente político doméstico pode influenciar o comportamento da Bolsa, principalmente por conta da proximidade com as eleições em 2026.
"Cravar uma alta adicional do Ibovespa e essa certeza de continuidade [dos recordes], essa intensidade de rali para o fim do ano, é bastante dificil, acho que tem um risco de variação de preço com as medidas de Imposto de Renda, PECs, inclusive de segurança pública. Temas populares em voga na mídia, como o IOF, IR, a PEC da Segurança Pública, que talvez organizem um arranjo para a eleição 2026", opina Cozzolino.
"São temas importantes e um fator subjetivo que pode, sim, acelerar esse rali de fim de ano, dependendo de como esse arranjo pode ser entendido para 2026", acrescenta.
Já o gestor Luis Castro da Fonseca, sócio-fundador da Nest Asset Management, afirma que o desempenho do fim de ano do índice dependerá do que acontecer lá fora, especialmente nas bolsas globais e emergentes. Em 2025, segundo dados da casa, a bolsa brasileira subiu 40,24% em dólares, contra 33,63% na média dos emergentes.
Outros países também tiveram fortes ganhos, como México (45,91%), África do Sul (57,48%), China (40,32%) e Coreia do Sul (85,6%). Fonseca destaca que quando o mercado global foi bem, o Brasil acompanhou. Quando houve ruídos, como o caso das tarifas extras de 40% impostas pelos EUA, o Brasil se descolou temporariamente, mas voltou a subir quando o risco diminuiu.
"Se esses mercados continuarem indo bem, o Brasil deverá continuar subindo também. Só que os mercados lá fora não estão exatamente baratos, então não é uma certeza tão grande que eles vão continuar indo bem nesse último trimestre. O que joga a favor é que historicamente o último trimestre do ano é de bons retornos no mercado global. O S&P 500, nos últimos 10 anos, a única vez em que o terceiro trimestre foi negativo foi em 2018", diz o gestor da Nest.