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Enquanto o ouro sobe, o dólar cai: moeda dos EUA pode ter pior semana desde julho

Moeda americana recua diante de temores com bancos regionais, falas dovish do Fed e shutdown prolongado

Dólar: moeda caminha para pior semana em três meses (mikolajn/Getty Images)

Dólar: moeda caminha para pior semana em três meses (mikolajn/Getty Images)

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 05h53.

Enquanto o ouro bate por novos recordes e caminha para sua melhor semana em quase duas décadas, o dólar pode não compartilhar da mesma boa sorte.

Nesta semana, a moeda americana registrou sua pior performance semanal desde julho, acumulando queda de 0,5% até esta sexta-feira, 17, segundo o Bloomberg Dollar Spot Index.

Já o Dollar Index (DXY) caiu de 99,00 para 98,22 pontos entre os dias 13 e 17 de outubro, uma retração de 0,79%, pressionado por múltiplos fatores macroeconômicos e geopolíticos.

O dólar perdeu força frente a praticamente todas as moedas principais, inclusive o real brasileiro, e os contratos de juros passaram a refletir mais cortes até o fim do ano.

Segundo dados da Bloomberg, o mercado agora precifica 53 pontos-base de redução nas taxas dos EUA até dezembro, frente aos 46 pontos projetados dois dias antes.

A queda é atribuída a um conjunto de elementos que têm abalado a confiança na trajetória da economia americana de curto prazo, incluindo os sinais mais suaves do Federal Reserve (Fed), a crise bancária regional e a ausência de dados econômicos em meio ao shutdown do governo.

Pressões de todos os lados

Um dos principais gatilhos da queda do dólar nesta semana foram os sinais dovish emitidos por dirigentes do Fed.

O governador Christopher Waller afirmou que o banco central pode continuar cortando juros em incrementos de 0,25 ponto percentual para sustentar um mercado de trabalho em enfraquecimento.

Já Stephen Miran foi mais incisivo ao dizer que defende uma redução de meio ponto percentual já na reunião deste mês.

Para o Morgan Stanley, “a ausência de dados econômicos não parece ser um problema para o Fed”, escreveu uma equipe liderada por Michael Gapen.

Em nota enviada à Bloomberg, o banco reiterou a expectativa de um corte de 25 pontos-base em outubro, reforçando o tom acomodatício do cenário monetário.

A situação fiscal também pesa.

O shutdown do governo dos EUA já entra em sua terceira semana, sem acordo à vista no Congresso. A paralisação afeta o funcionamento de agências federais e atrasa a divulgação de dados essenciais, como inflação, emprego e Produto Interno Bruto (PIB). Isso tem ampliado a incerteza entre investidores e dificultado a leitura do cenário econômico.

No mercado de renda fixa, os rendimentos dos Treasuries de dois anos caíram para o menor patamar em seis semanas, sinalizando fuga para ativos mais seguros e antecipação de cortes na taxa básica.

Enquanto uns descem, outros sobem

O movimento de enfraquecimento do dólar foi generalizado.

Veja o desempenho da moeda americana frente às principais divisas entre 13 e 17 de outubro, segundo dados compilados pela EXAME do MTFX, Wise e Trading Economics.

  • Euro (EUR): EUR/USD subiu 1,10%, de 1,1568 para 1,1695

  • Libra Esterlina (GBP): valorização de 0,80%, alcançando 1,3437

  • Iene Japonês (JPY): USD/JPY caiu 1,14%, para 149,61

  • Franco Suíço (CHF): queda de 0,49%, cotado a 0,793 por dólar

  • Real Brasileiro (BRL): dólar caiu de R$ 5,4659 para R$ 5,4454, baixa de 0,38%

Segundo analistas do ING Bank, como Chris Turner e Francesco Pesole, a moeda está sendo pressionada por uma combinação rara de eventos.

“Um aumento repentino no escrutínio dos bancos regionais dos EUA está afetando as ações e o dólar, que, aliás, enfrenta o impacto negativo de uma reprecificação moderada do Fed, algumas esperanças de uma trégua na Ucrânia, queda nos preços do petróleo e tensões comerciais contínuas entre os EUA e a China”, escreveram eles em nota, segundo a Bloomberg.

Volatilidade e incerteza no radar

Embora os mercados de opções apontem para um sentimento mais baixista de curto prazo, os investidores continuam mantendo apostas de fortalecimento do dólar até o fim do ano.

O problema, segundo operadores na Europa, é que “a convicção está baixa” — ou seja, os traders estão operando com posições de curto prazo e reagindo a cada manchete.

Essa fragilidade do dólar é ilustrada pelo fato de que ele já devolveu cerca de um terço do movimento de alta acumulado desde as mínimas de três anos registradas no mês passado.

Para a equipe do Morgan Stanley, há espaço para mais quedas.

Em relatório recente, o banco projeta que o dólar pode recuar até 10% até o fim de 2026, à medida que os juros e o crescimento econômico dos EUA se alinhem aos de outras economias desenvolvidas.

A instituição recomenda atenção especial a moedas de países exportadores de commodities e aos pares do sudeste asiático, que tendem a se beneficiar com a fraqueza do dólar.

Desdolarização global segue em curso

Além dos fatores conjunturais, há também elementos estruturais em jogo.

Como mostrou análise anterior do próprio Morgan Stanley, o aumento das reservas de ouro pelos bancos centrais e o avanço das moedas digitais estatais têm contribuído para a chamada "desdolarização" — uma tendência de longo prazo de reduzir a dependência do dólar em transações internacionais e reservas cambiais.

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