Felipe Miranda, fundador da Empiricus (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 4 de março de 2024 às 11h56.
Última atualização em 5 de março de 2024 às 14h44.
Recebido com bastante desconfiança no início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda Fernando Haddad conquistou a Faria Lima ao se tornar a principal âncora na defesa da saúde fiscal dentro do governo. Na avaliação de Felipe Miranda, fundador e co-CEO do Grupo Empiricus, Haddad tem feito um "trabalho espetacular" a ponto de seu eventual enfraquecimento se tornar um dos principais riscos para o mercado brasileiro.
"Não tenho capacidade de ler até onde vai esse morde e assopra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro Haddad. Não sei se é uma pauta de governo ou de ministro. O Congresso gosta de dinheiro e tem eleição municipal neste ano. Há a desconfiança sobre a possibilidade de o Brasil romper a barreira fiscal. Há o medo de se resgatar aquele início barulhento deste governo, que seria o enfraquecimento do ministro Haddad", afirma em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest.
Miranda elencou o enfraquecimento do ministro como um dos principais riscos, junto com potenciais erros de diplomacia do governo com países ricos e a troca do presidente do Banco Central, prevista para o fim do ano. O atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, já declarou que pretende voltar à iniciativa privada após o término do mandato. A grande expectativa é de que o economista Gabriel Galípolo, indicado pelo governo Lula para a diretoria do BC, assuma a presidência da instituição.
"Se for um economista ortodoxo, mataria o risco. Mas, se for o Galípolo, seria o primeiro presidente do BC heterodoxo desde o regime de metas de inflação. Ele tem sido muito adequado desde que se tornou diretor. Não dá para ir muito contra os modelos do BC, o que não pode é jogar tudo fora. Mas não acho que isso irá acontecer."
Mas o maior risco, segundo o fundador da Empiricus, está no exterior. O principal, afirmou, é os Estados Unidos não cortar os juros neste ano. A discussão passa pelo repique da inflação ao consumidor americano, que levou investidores a reajustarem as apostas para o início do ciclo de afrouxamento monetário de março para junho. "Não sabemos se foi um ponto de inflexão ou se a inflação voltará a subir."
Outros grandes riscos mapeados por Felipe Miranda estão o eventual envolvimento do Irã na guerra entre Israel e o Hamas e um conflito entre China e Taiwan. Na avaliação de Miranda, uma eventual invasão da China em Taiwan provocaria complicações geopolíticas tão grandes que "a baixa probabilidade assusta". "Discutir uma invasão em Taiwan é assustador. A guerra entre Ucrânia e Rússia seria apenas uma antessala para o que seria esse conflito."
Assista à entrevista na íntegra com Felipe Miranda, fundador e co-CEO da Empiricus. A entrevista também está disponível no canal da Exame no YouTube.