Levantamento do Itaú BBA aponta que as companhias recompraram R$ 8,5 bilhões em ações entre janeiro e maio deste ano. (Natalya Kosarevich/Getty Images)
Repórter de mercados
Publicado em 24 de junho de 2025 às 13h43.
Última atualização em 24 de junho de 2025 às 15h04.
Os analistas são praticamente unânimes ao dizer que a Bolsa brasileira está barata. Ações são negociadas a múltiplos inferiores às médias históricas e isso tem estimulado empresas a comprar os próprios papéis. É uma aposta que as companhias fazem em si mesmas, acreditando estarem descontadas demais, com a chance de embolsar ganhos quando os preços voltarem a um patamar que entendem ser mais justo. Também é um instrumento que busca gerar valor ao acionista.
Levantamento do Itaú BBA aponta que as companhias recompraram R$ 8,5 bilhões em ações entre janeiro e maio deste ano. Não dá para dizer que a cifra é inexpressiva, mas o número fica pequeno quando comparado ao volume que ainda pode ser recomprado em 2025. O BBA contabilizou 112 programas em abertos e, se forem cumpridos integralmente, as empresas ainda têm R$ 69,5 bilhões para recomprar. Isso sem contar os programas anunciados esta semana por Natura e MRV, que não entram no levantamento do BBA.
Em maio, particularmente, o ritmo das recompras caiu em relação a abril e somente R$ 900 milhões em ações voltaram às tesourarias. Para analistas e especialistas do mercado, o movimento não significa uma perda de relevância do instrumento, apenas uma postura mais comedida das empresas. “A recompra não perdeu relevância, mas está sendo usada com mais parcimônia. O mercado de capitais amadureceu: hoje, recompra não é um aceno de curto prazo, no fim do dia, é positivo para o investidor que pensa em valor no longo prazo”, afirma o membro do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), André Vasconcellos.
Quando número de papéis em circulação de uma empresa diminui, o lucro por ação dela tende a aumentar, valorizando o ativo, podendo até mesmo funcionar como uma alternativa à distribuição de dividendos.
Segundo Rafael Passos, sócio da Ajax Capital, a queda na execução em maio foi um movimento pontual. "Junho apresentou valuations atrativos em alguns setores, como utilities, que vinham sendo penalizados por um cenário macro mais desafiador", afirma.
Com os juros ainda elevados e incertezas na recuperação econômica, muitas companhias optaram por preservar caixa, reduzir dívidas ou reinvestir na operação. "O capital está sendo alocado em frentes prioritárias, e isso impacta diretamente a execução dos programas de recompras", diz Vasconcellos.
Além disso, fatores técnicos também influenciam. Algumas companhias já cumpriram grande parte de seus programas, enquanto outras estão em períodos de blackout — janelas em que, por questões regulatórias, não podem negociar ações próprias.
Mesmo com a execução tímida dos programas no mês passado, os analistas do Itaú BBA avaliam que a tendência de recompra continua forte.
O setor de energia lidera os programas de recompra com o maior "buyback yield", ou seja, o retorno sobre o volume de mercado, alcançando 6,8%. Seguem o setor de consumo discricionário (com 4,9%) e utilities (com 4,8%).
Esses setores se destacam principalmente pela combinação de grandes volumes financeiros e uma forte dinâmica de mercado, fatores que estimulam os programas de recompra.
O setor financeiro também é significativo, representando 22% do volume total de recompra, com destaque para empresas como B3 (B3SA3) e Bradesco (BBDC4). O alto volume pode ser um reflexo de uma recuperação estratégica dessas empresas, que estão aproveitando a liquidez disponível e buscando aumentar o valor de mercado das suas ações.
Cinco programas de recompra são destacados pelo BBA por apresentarem alta rentabilidade em relação ao volume-alvo e, ao mesmo tempo, baixa execução até o momento. Esses programas têm atraído atenção dos investidores por seu potencial de valorização futura. São eles:
Algumas empresas se destacaram em termos de execução de recompra como porcentagem de seu free-float (ações em circulação no mercado). As cinco empresas que mais recompraram ações em maio, em termos de porcentagem do free-float, foram: