Sabesp: ações da companhia já subiram 157% desde julho de 2018, quando foi assinada a medida provisória que deu origem ao marco do saneamento (Sabesp/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de junho de 2020 às 18h27.
Última atualização em 24 de junho de 2020 às 21h41.
Tido como o trunfo do governo para acelerar a economia no pós-pandemia, o projeto de lei do novo marco do saneamento básico, discutido nesta quarta-feira, 24, no Senado, pode abrir espaço para privatizações e trazer centenas de bilhões de reais em investimentos no setor, com grande potencial de crescimento se comparado a outros países do mundo.
“As empresas daqui não dão conta de expandir suas operações. Isso é oportunidade para trazer dinheiro novo. Inicialmente vai haver um investimento gigante para bancar todas as obras, mas depois vai gerar um grande retorno”, comentou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Para Bruno Lima, analista de renda variável da Exame Research, a privatização da Sabesp poderia destravar um potencial de valorização de suas ações de 50% a 60%. “A empresa ganha oportunidade de crescimento. Hoje, a companhia ganha mais dinheiro se tiver mais consumo de água ou se entrar em um ou outro município de São Paulo, não tem grandes planos de expansão para tentar ganhar outros mercados”, avalia. Lima também vê potencial de valorização acima de 50% para as ações da Sanepar e Copasa, caso privatizadas.
Entre as estatais de saneamento listadas na bolsa, a Sabesp é vista como a mais fácil de ter sua privatização aprovada. “A discussão já está muito madura em São Paulo. É possível que, já no curtíssimo prazo, tenha uma chamada pública para a privatização da companhia”, disse Lima.
Por outro lado, Ilan Abertman, analista da Ativa Investimentos, vê a mineira Copasa como a estatal de saneamento com a menor chance de ser privatizada. “Lá, mesmo que o governador Romeu Zema (Novo) seja favorável à privatização, seria necessário o apoio de 3/5 da Assembleia Legislativa e a aprovação da medida por plebiscito”, disse. Devido à maior dificuldade de a empresa ser privatizada, Abertman prefere as ações da Sabesp e Sanepar.
No curto prazo, contudo Abertman vê a estiagem do Paraná como um risco para a empresa, tendo em vista que compromete o fornecimento de água e, consequentemente, a receita.
Mesmo que a privatização não ocorra tão cedo, só a expectativa em cima do marco regulatório fez com que as ações das companhias de saneamento tivessem forte valorização. Desde julho de 2018, quando o então presidente Michel Temer assinou a medida provisória 844/2018, que daria origem ao projeto de lei do marco do saneamento básico, os papéis da Sabesp, Sanepar e Copasa subiram cerca de 157%, 141% e 52%, respectivamente. Nesse mesmo período, o Ibovespa avançou 30%.
A expectativa é a de que, após a votação do projeto de lei, esses papéis passem por mais alguma valorização, embora boa parte do movimento já esteja precificado. “Quando bate martelo, dá um efeito de médio prazo. Pode ser que, na semana que vem, alguma autoridade fale sobre a possibilidade de privatização e impulsione essas ações. Se cria um vetor a mais”, afirmou Cruz.
De acordo com o estudo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (ABCON), somente 83,3% dos brasileiros têm acesso à água e 51,9% possuem serviços de esgoto. A situação, ainda segundo a ABCON, deixa o 106º posição em termos de saneamento básico. O projeto de lei, no entanto, define que as prestadoras de serviços deverão definir metas para garantir o acesso à água para 99% da população e 90% de cobertura de coleta e tratamento de esgoto.
Mas, sem o dinheiro necessário para estender a rede de serviços, entidades públicas devem abrir maior espaço para a iniciativa privada. No estado de São Paulo, o governador João Dória afirmou diversas vezes que só faltava a o marco regulatório do saneamento para colocar em prática o plano de privatização da Sabesp.