Logo do Goldman Sachs em Nova York | Foto: Scott Eells/Bloomberg (Scott Eells/Bloomberg)
Repórter
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 11h52.
O Goldman Sachs vê sinais de que o entusiasmo com a inteligência artificial pode estar chegando no limite. Em relatório assinado pelos analistas Dominic Wilson e Kamakshya Trivedi, o banco de investimentos afirma que o valor de mercado das companhias ligadas ao tema, desde o lançamento do ChatGPT, já se aproxima das estimativas de valor econômico que a tecnologia pode gerar para essas empresas.
Para os analistas, isso não impede novas altas, mas indica que "a vulnerabilidade à decepção ou ao risco de eventos está aumentando", num momento em que o debate sobre o retorno do investimento e os reais beneficiados com esses aportes deve se intensificar.
Intitulado "Visão do mercado global: negociando em 2025, pensando em 2026", o relatório chama atenção para desafios macroeconômicos antes de entrar no tema da IA.
O documento cita a desaceleração do emprego nos Estados Unidos como o principal risco macroeconômico imediato para os preços atuais de ativos, com potencial para reacender temores de recessão, caso a taxa de desemprego surpreenda negativamente até dezembro. Segundo o Goldman, o mercado já precificou em suas projeções as expectativas de crescimento econômico e de flexibilização monetária. Logo, esses dois indicadores podem gerar frustração, se vierem muito diferentes do esperado.
Um eventual cenário de retomada mais forte da atividade em 2026 pode desafiar a continuidade dos cortes de juros nos EUA que investidores esperam do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
"Esse tipo de postura hawkish [tendência de alta de juros], impulsionada pela inflação, seria uma grande desvantagem para empresas cíclicas [mais expostas à macroeconomia], os mercados emergentes e o ouro, e uma vantagem para o dólar".
Além dos riscos macroeconômicos, o banco ressalta ainda que "a precificação do tema da IA é a outra grande ameaça para o andamento das ações".
A avaliação do Goldman Sachs está em linha com a percepção de gestores globais.
A Pesquisa Global de Gestores de Fundos do Bank of America, realizada entre 7 e 13 de novembro e divulgada nesta terça, mostrou que, pela primeira vez em 20 anos, os gestores afirmam que as empresas, especialmente as big techs e hyperscalers, estão investindo "além da conta" em inteligência artificial.
O risco mais citado pelos participantes é justamente o estouro de uma bolha de IA, em um contexto no qual 54% desses gestores estão comprados nas chamadas Sete Magníficas. Enquanto isso, o nível de caixa dos portfólios caiu para 3,7%, patamar historicamente associado a correções nas bolsas.
Nesse cenário de preços esticados, reprecificação de juros e posicionamento carregado em tecnologia é que o alerta do Goldman Sachs ganha peso.
Embora o banco veja espaço para que o boom de investimentos em IA siga adiante, sem desequilíbrios macroeconômicos comparáveis aos da bolha dos anos 1990, os analistas reconhecem que o mercado parece ter avançado mais rapidamente que os fundamentos.
"No lado macroeconômico, vemos um risco crescente de que os desequilíbrios se tornem mais visíveis à medida que o boom da IA se estende, especialmente com o aumento do financiamento de dívidas. Portanto, mesmo que o tema da IA continue a impulsionar as ações, não nos surpreenderíamos se os spreads de crédito e a volatilidade das ações também aumentassem, como aconteceu no final da década de 1990", dizem Wilson e Trivedi.
Para 2026, a visão central dos analistas segue construtiva para ativos de risco, desde que os principais riscos, como desaceleração econômica imediata, frustração com a trajetória do Fed e desafios à narrativa da IA, permaneçam contidos. Mas, com preços altos e dispersão crescente entre cenários, o banco reforça que manter exposição exige proteção.