Petrobras: emissão (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 17h33.
São Paulo - Com a nova emissão externa da Petrobras e a estreia da Natura no mercado de dívida internacional, emissores brasileiros captaram US$ 7,15 bilhões na primeira janela do ano, superando os US$ 5,95 bilhões emitidos no exterior no mesmo intervalo do ano passado.
O número é apontado como muito positivo, visto que no final de 2017 muitas companhias já tinham antecipado suas captações, se aproveitando do bom momento de mercado. Além disso, o período de captação contou com a presença de empresas novatas, o que indica um sinal positivo dado pelos investidores em relação ao apetite para os ativos brasileiros.
Destaque na janela de janeiro foi a Petrobras, com uma emissão de US$ 2 bilhões e com um prêmio (new premium issue) negativo em relação aos papéis da companhia que já circulam no mercado, um dia depois da condenação em segunda instância na Justiça do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Na prática, a estatal lançou os bônus a preços muito atrativos e provou, ainda, o bom humor crescente do mercado em relação à companhia.
A primeira janela do ano contou ainda com nomes como JSL, Rumo, Marfrig, Hidrovias do Brasil e as também estreantes Rede d'Or e Natura, que, em sua maioria, conseguiram levantar recursos a preços mais atrativos que o esperado. Até mesmo o Tesouro Nacional, figura frequente no mercado externo no começo do ano, conseguiu captar a um custo menor que a emissão anterior e uma semana após o rebaixamento da nota de crédito do Brasil por parte da agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
A emissão confirmou que a influência da decisão da classificadora foi praticamente zero, a demanda pelos papéis soberanos chegou a quatro vezes mais o valor da emissão, de US$ 1,5 bilhão.
Outra prova contundente de que o rebaixamento da S&P não afetou o humor dos investidores em relação ao Brasil, foi a captação da Hidrovias do Brasil, outra novata, que com uma demanda sete vezes superior à oferta inicial, captou US$ 600 milhões.
Mesmo que a janela de janeiro esteja sendo dada como encerrada, não se descarta a possibilidade de um emissor frequente emitir antes do final do mês. Esse tipo de emissor consegue anunciar e fechar a operação em um único dia e pode querer aproveitar o bom momento para captações, diz uma fonte.
Para o início deste ano ainda são esperadas pelo mercado a emissão de nomes como a CSN, que tem bônus perto do vencimento, Braskem, BRF e Ultrapar.
"Há um razoável descolamento da situação doméstica e internacional. Há um volume de liquidez tão grande que o investidor busca operações no mercado ainda que haja um cenário que não seja o que ele imagina", prevê a gerente executiva de renda fixa local e internacional do Banco do Brasil, Fernanda Arraes.
Contribui para a ida dos emissores ao exterior, de acordo com Fernanda, o fato de o risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) estar ladeira abaixo. Como o risco percebido pelos investidores caiu, as companhias têm conseguido se beneficiar disso. Marfrig e Rede D'Or captaram pouco antes do downgrade do Brasil e conseguiram, até mesmo, uma taxa menor que a esperada.
Outros emissores frequentes no mercado de dívida internacional, os bancos também podem fazer algum movimento. O principal candidato é a Caixa Econômica Federal, que precisa de recursos para fazer frente às suas necessidades de capital uma vez que não poderá mais contar com a operação de R$ 15 bilhões com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O Conselho de Administração do banco já aprovou emissão externa de títulos perpétuos (sem prazo de vencimento).
Já o Banco do Brasil, que voltou a acessar o mercado externo no final do ano passado, está, por ora, somente monitorando o cenário, de acordo com uma fonte. Além de não ter necessidade de captar recursos neste momento, a instituição prefere publicar os resultados do último trimestre do ano e também os anuais de 2017 para ter boas novas para apresentar aos investidores internacionais. Em outubro, o BB emitiu US$ 1 bilhão em bônus de sete anos, com demanda que superou os US$ 5,5 bilhões.
As emissões de companhias brasileiras no exterior ocorrem ainda que 2017 tenha sido um ano atípico em relação aos exercícios anteriores. Fernanda, do BB, lembra que a participação do Brasil na América Latina foi a 22% ante 10% e 16% nos anos de 2015 e 2016, respectivamente.
A percepção, segundo especialistas, é de que as empresas devem antecipar suas emissões e evitar o segundo semestre, para se distanciarem da maior volatilidade esperada com o início da campanha eleitoral.
Apesar de a janela de emissões externas em janeiro, na visão de especialistas, ter potencial para se estender como ocorreu no final do ano passado, a expectativa de aumento de volatilidade por conta das eleições presidenciais tende a fazer as empresas anteciparem captações.
Em 2017, o Brasil captou US$ 31,5 bilhões com emissão de bônus no exterior, o maior montante desde 2014, quando o País levantou US$ 45,5 bilhões.
Em renda variável o ano começou com uma oferta, na Bolsa de Nova York, que fez história. A empresa de meios de pagamento PagSeguro levantou US$ 2,6 bilhões, a maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de uma empresa brasileira em Nova York e a quarta maior oferta de uma empresa de tecnologia por lá, somente atrás de Facebook, Alibaba e Snapchat.
Na fila para emitirem ainda no início do ano na B3,já estão com prospecto na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a Blau, Ri Happy e Centauro.