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A alta de mercados emergentes, como o Brasil, está apenas começando, analisa Gavekal

Louis-Vincent Gave, fundador da casa de análise, aponta para nova era de globalização em que Estados Unidos e Europa perdem protagonismo

Dólar: expectativa da Gavekal é que moeda americana fique em segundo plano nas negociações dos emergentes (Igor Golovniov/Getty Images)

Dólar: expectativa da Gavekal é que moeda americana fique em segundo plano nas negociações dos emergentes (Igor Golovniov/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 13h43.

Última atualização em 18 de dezembro de 2023 às 10h16.

Rumores de desglobalização, tão presentes nas discussões nos Estados Unidos e na Europa, não assustam países como Brasil, China, Rússia e Índia. Pelo contrário: os emergentes estão na vanguarda de uma nova onda de globalização. A conclusão é de Louis-Vincent Gave, fundador da casa de análise Gavekal Research

Em relatório publicado nesta semana, Gave compara o momento atual de sanções contra Rússia e China à queda de Constantinopla em 1453. A tomada da cidade pelos otomanos forçou os europeus a se aventurarem para além do mar Mediterrâneo, mudando o centro de negociações para o Atlântico. O mesmo poderia estar ocorrendo agora, com os emergentes ganhando força e criando uma nova rede de negociações entre si, sem intermédio das grandes potências ocidentais. 

“Países como Indonésia, Brasil, Arábia Saudita e Índia podem agora utilizar as suas próprias moedas para pagar pelas commodities de que necessitam para impulsionar o seu crescimento, e também pelo maquinário necessário para industrialização. Em última análise, eles não precisam mais dos dólares americanos [para intermediar as transações]”, argumenta.

Isso explicaria, inclusive, a resiliência das economias emergentes diante do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. “Pela primeira vez na história recente, vimos um ciclo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed) sem que nenhum mercado emergente entrasse em colapso”, informou o relatório.

Bloqueio à Rússia e China

O bloqueio de EUA e Europa à Rússia tomou forma após o início da guerra com a Ucrânia, em fevereiro de 2022. A expectativa era de que a economia russa entrasse em colapso com o bloqueio de acesso ao dólar, euro, libra esterlina e franco suísso. Mas não foi o que aconteceu. 

“Sem surpresa, a Rússia passou imediatamente a vender as suas commodities em renminbi chinês, rúpias indianas, real brasileiro ou baht tailandês, e o comércio entre a Rússia e os principais mercados emergentes do mundo disparou”, apontou Gave.

Movimento semelhante ocorreu com a China. Os EUA encorajaram produtores nacionais a repatriar sua produção que estava baseada no país asiático ou alterar suas bases para países democráticos, como o Vietnã. Ainda assim, as negociações da China triplicaram nos últimos anos, segundo cálculos da Gavekal. 

“A China conseguiu esse feito subindo na cadeia de valor e exportando bens de capital de qualidade maior com preços agressivos e outros produtos de maior valor agregado. O exemplo mais visível disto é como a China começou do zero há cinco anos para hoje se tornar o maior exportador global de automóveis”, explicou.

Rali dos emergentes

O bloqueio à Rússia pode ter ainda outro efeito benéfico para os países emergentes. Sem acesso às tradicionais redes financeiras de Europa e EUA, os lucros provenientes da globalização via Rússia ficam menos suscetíveis de serem reinvestidos em ativos desses países. 

Em vez disso, os lucros provavelmente serão reinvestidos nos próprios mercados emergentes. “É outra razão para acreditar que o mercado de alta [bull market] dos emergentes está apenas começando”.

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