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Em meio à crise, fundo espera ganhar com dívidas da extinta Vasp

Pela operação, Hurst Capital pretende receber cerca de 550% do CDI em até três anos e meio

Vasp: falência da companhia foi decretada em 2008 (Etienne DE MALGLAIVE //Getty Images)

Vasp: falência da companhia foi decretada em 2008 (Etienne DE MALGLAIVE //Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 17 de abril de 2020 às 09h55.

Última atualização em 17 de abril de 2020 às 15h55.

Sem dar lucro há cerca de vinte anos e falida desde 2008, um grupo de investidores espera ganhar dinheiro com as dívidas trabalhistas da Viação Aérea São Paulo (Vasp), que já foi uma das maiores companhias aéreas do Brasil. A maioria do mercado poderia achar extremamente arriscado embarcar em um ativo desses, mas o Hurst Capital espera receber o dinheiro em até três anos e meio, e com rentabilidade líquida de 20,42% ao ano, valor equivalente a cerca de 550% do CDI ao ano. 

Especializados em ativos judiciais estressados, como precatórios, o fundo comprou por 16 milhões de reais os honorários advocatícios de 570 processos trabalhistas movidos contra a Vasp. Segundo o advogado e presidente do Hurst, Arthur Farache, o risco de a conta não ser paga é mínimo porque o Tribunal Superior do Trabalho já definiu que a dívida se tornou de responsabilidade do estado de São Paulo, e tem preferência de pagamento. 

Porém, a demora para que a conta seja paga pode jogar a favor desse tipo de ativo, já que, além da correção sobre o IPCA, também são embutidos juros de mora, que é de 1% ao mês não cumulativo, ou seja, calculados por meio de juros simples. Neste caso, contudo, o retorno foi previamente acordado.

“Na medida que a gente travou com o vendedor a rentabilidade de 20,42%, o reajuste de 1% ao mês mais IPCA é irrelevante para a gente. Vamos ganhar 20,42% independentemente disso”, disse Farache. 

Embora o pagamento seja tido como certo, não há data definida para quando ele será realizado. “A Hurst não consegue fazer nada para acelerar o pagamento do ativo. Mas a gente acha que começa a receber parte desses valores em dois anos e devem se encerrar em três anos ou três anos e meio”, comentou. 

Para investigar quais ativos judiciais têm mais propensão a serem pagos, o Hurst faz um trabalho de investigação sobre o caso e sobre as condições de pagamento do devedor. Para agilizar o processo, o fundo usa robôs para vasculharem sites de tribunais de justiça e diários oficiais. 

O ativo judicial funciona como um crédito que precisa ser pago para alguém que ganhou algum processo. Esse crédito pode ser vendido para outra pessoa que queria assumir o risco e esperar. "O precatório é um ativo judicial maduro, então a gente começa a olhar o processo antes mesmo de virar precatório", disse Farache.

Diferentemente da maioria dos fundos tradicionais, como os de ações ou multimercados, fundos de ativos estressados podem se assemelhar mais aos private equities, por não serem disponibilizados em plataformas de corretoras. Mas, para disponibilizar esse tipo de investimentos para pequenos investidores, o Hurst possui uma plataforma em que é possível ter uma participação nos lucros por meio de crowdfunding. 

Para esta operação, o fundo levantou 1,4 milhão de reais, pouco menos de 10% de todo o valor pago pela carteira de honorários. O prazo para ter uma participação no ativo se encerrou nesta sexta. Mas, com aporte mínimo de 10 mil reais, ainda é possível investir nos precatórios do estado do Rio de Janeiro. O Hurst espera levantar 879.032 reais. Assim, além de diversificar o risco, o Hurst também ganha em cima de taxas, como de performance e administração, como um fundo tradicional.

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