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Eletrobras reduz custo de dívida e reabre mercado externo com emissão

A maior elétrica do Brasil levantou 1,25 bilhão de dólares com emissão de títulos no mercado internacional que vencerão em cinco e dez anos

Eletrobras: empresa vai reduzir custos e alongar o prazo de sua dívida após uma emissão de títulos no mercado internacional (Ueslei Marcelino/Reuters)

Eletrobras: empresa vai reduzir custos e alongar o prazo de sua dívida após uma emissão de títulos no mercado internacional (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Reuters

Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 17h19.

A Eletrobras vai reduzir custos e alongar o prazo de sua dívida após uma emissão de títulos no mercado internacional liquidada nesta terça-feira, que atraiu forte interesse de investidores e ainda marcou um retorno às captações externas após quase uma década, disse à Reuters nesta terça-feira a diretora financeira da estatal, Elvira Cavalcanti Presta.

A maior elétrica do Brasil levantou 1,25 bilhão de dólares com títulos que vencerão em cinco e dez anos, sendo que os recursos da transação serão utilizados para a recompra de títulos externos emitidos anteriormente e que venceriam em 2021.

Os títulos que expirariam no próximo ano tinham taxa de 5,75%, contra 3,625% da nova emissão para 2025 e 4,625% na transação com prazo até 2030.

"Estamos tornando a dívida mais barata e alongando os prazos, dentro de nossa estratégia de disciplina financeira", disse Elvira, que destacou ainda a demanda pela emissão, que alcançou 7,4 bilhões de dólares, ou cerca de seis vezes o valor da operação.

"Foi espetacular... tivemos muita demanda, realmente muito relevante, e com investidores de alta qualidade", comemorou a executiva, apontando que com o sucesso da operação o mercado externo volta a ser uma alternativa para a companhia.

"Certamente o mercado internacional vai sempre ser considerado como uma opção. A gente, como estratégia financeira, quer sempre olhar as duas opções. No ano passado o mercado local estava muito bom, então fizemos emissão doméstica, mas agora já fomos para o internacional", afirmou.

Ela ressaltou, no entanto, que a Eletrobras ainda não tem planos de realizar novas captações no momento. "Pelo menos no médio prazo a gente não pretende fazer nenhuma nova emissão."

A elétrica, no entanto, deverá buscar ainda no curto prazo operações de "hedge" para proteção contra a variação cambial devido à captação em dólares.

A diretora financeira explicou que receitas em dólares referentes a um empréstimo feito pela Eletrobras no passado para custear a hidrelétrica binacional de Itaipu funcionam como um "hedge natural" para a companhia, mas esses recebíveis acabarão em 2023.

"Como esses títulos vão até 2025 e outro até 2030, a gente vai precisar, sim, fazer uma operação de hedge. Vamos fechar isso nos próximos meses, estamos estudando", afirmou. "Não temos urgência de fechar essa operação imediatamente, temos condição de fazer com calma, com estratégia."

Novo cenário

A preparação para a emissão internacional da Eletrobras envolveu eventos em Londres, Boston e Nova York, além de teleconferências com investidores europeus, asiáticos, norte-americanos e da América Latina.

"Era importante voltar a conversar com o investidor para mostrar o que a gente vem fazendo nesses últimos anos", disse Elvira, em referência a um processo de reestruturação em curso na companhia desde meados de 2016, quando o atual presidente-executivo Wilson Ferreira Jr. assumiu o cargo.

A atual gestão da Eletrobras tem promovido programas de demissão voluntária e desinvestimentos para cortar custos e reduzir dívidas, em processo que visa recuperar a saúde financeira da estatal, com privatização esperada para 2020.

O processo de recuperação da elétrica vem após mais de 30 bilhões de reais em perdas entre 2012 e 2015, depois que uma medida provisória (MP 579) publicada em 2012 pela então presidente Dilma Rousseff reduziu as contas de luz por meio da renovação antecipada de contratos de concessão de elétricas, incluindo a Eletrobras.

A estatal perdeu cerca de 70% da receita sob os novos contratos, que também levaram a uma forte desvalorização das ações da companhia na época.

"Nós não íamos a mercado há quase nove anos, desde 2011, antes da MP 579, que destruiu muito valor no caso da Eletrobras em particular. O Brasil era grau de investimento, era um outro momento da economia", afirmou Elvira.

A dívida líquida da Eletrobras fechou o terceiro trimestre de 2019 em 22,1 bilhões de reais, ou 2,3 vezes a geração de caixa (Ebitda) se desconsideradas indenizações que a companhia tem recebido pela renovação de contratos de transmissão de energia em 2012. No final de 2016, essa alavancagem era de 6,1 vezes.

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