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Eleições na Argentina reacendem temor de nova crise nos mercados

Investidores se preparam para volatilidade nos mercados argentinos antes das eleições legislativas, temendo repetição da forte correção que seguiu à derrota do partido governista em setembro

Javier Milei, presidente da Argentina, durante almoço na Casa Branca (Kevin Dietsch/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, durante almoço na Casa Branca (Kevin Dietsch/AFP)

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 15h50.

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Os investidores internacionais voltaram a adotar cautela diante das eleições legislativas do próximo domingo, 26, na Argentina. Após a forte volatilidade de setembro — quando os ativos argentinos despencaram após derrota do partido de Javier Milei nas urnas de Buenos Aires —, o mercado se prepara para um novo teste político e financeiro no país.

Analistas explicaram à Bloomberg que, se a coalizão La Libertad Avanza conquistar ao menos um terço das cadeiras no Congresso, a reação pode ser positiva. Mas um desempenho abaixo disso ampliaria os riscos sobre a agenda econômica do presidente e sobre os aportes dos Estados Unidos, que recentemente injetaram US$ 20 bilhões para sustentar o peso argentino.

O episódio anterior — batizado informalmente de “Milei Trade” — provocou uma liquidação generalizada de títulos e ações, revertendo apostas otimistas em torno do programa de austeridade do presidente. Desde então, fundos como Morgan Stanley, UBS Group e Gramercy Funds passaram a adotar postura neutra até a definição eleitoral.

Os títulos da dívida argentina com vencimento em 2035 subiram levemente para 57 centavos por dólar, segundo dados da Bloomberg, enquanto o peso voltou a perder força nas negociações em Buenos Aires. O cenário reflete o equilíbrio instável entre a expectativa de apoio internacional e a desconfiança com o ambiente político local.

Milei enfrenta desafio de manter apoio legislativo

A eleição de meio de mandato definirá se Milei continuará com poder suficiente para vetar medidas da oposição peronista e sustentar seu plano de reformas. Economistas do JPMorgan, avaliam que o resultado abaixo de 32% dos votos consolidaria uma narrativa de “derrota nacional” e limitaria sua capacidade de avançar.

O governo norte-americano, liderado pelo presidente Donald Trump, também acompanha o resultado de perto. O apoio financeiro de Washington — incluindo a compra de pesos e uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões — pode ser revisto caso a agenda liberal de Milei perca força nas urnas.

Mercado testa limite da intervenção cambial

Estratégias de sustentação do peso argentino seguem pressionando as reservas do país. O UBS estima que a moeda esteja supervalorizada e que o governo vem gastando bilhões para mantê-la dentro de uma faixa controlada.

Ao mesmo tempo, investidores e poupadores locais continuam dolarizando recursos, antecipando possível desvalorização após a eleição.

O Morgan Stanley projeta um cenário intermediário, em que Milei obtenha entre 30% e 35% dos votos. Nessa hipótese, o apoio americano seria mantido, mas o avanço das reformas ocorreria de forma lenta. Para os bancos de investimento, o recado aos clientes é o mesmo: evitar grandes apostas antes da definição eleitoral.

Apesar de ter reduzido a inflação e promovido cortes de gastos públicos, Milei enfrenta queda de popularidade e denúncias de corrupção envolvendo aliados próximos. A eleição deste domingo será o principal termômetro sobre a continuidade de sua agenda liberal e sobre a disposição de Wall Street em manter apostas no país.

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