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Ele já previu a crise de 2008. Agora, compara Nvidia à Cisco de 2000

Michael Burry vê na ascensão da Nvidia uma repetição do que aconteceu com a Cisco durante a bolha da internet nos anos 2000

Burry: 'empresas da bolha da internet também eram lucrativas' (Astrid Stawiarz / Correspondente/Getty Images)

Burry: 'empresas da bolha da internet também eram lucrativas' (Astrid Stawiarz / Correspondente/Getty Images)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 24 de novembro de 2025 às 10h30.

“A única jogada vencedora é não jogar”. A frase marcou o retorno de Michael Burry ao X (ex-Twitter), após mais de dois anos em silêncio. Famoso por prever a crise de 2008 e inspirar o filme A Grande Aposta, o ex-gestor está à frente de um novo projeto: um blog pago chamado Cassandra Unchained, publicado na plataforma Substack.

No blog, que leva o nome da personagem mitológica condenada a fazer previsões verdadeiras (e pessimistas) que ninguém acredita, Burry promete entregar análises sobre bolhas, mercados e ações, com base em padrões históricos. O foco inicial é claro: a euforia recente com inteligência artificial.

Nos dois primeiros textos, Burry começa com memórias de quando escrevia sobre investimentos nas madrugadas de residência médica em Stanford, mas logo parte para o ataque. Ele critica o argumento recorrente de que o atual boom da IA é diferente da bolha da internet.

Os analistas que defendem essa tese afirmam que, nos anos 2000, as empresas estavam no vermelho, enquanto hoje gigantes como Microsoft, Google e Amazon são lucrativas. Burry contesta essa ideia. Para ele, a lógica de 1999 se repete em 2025: otimismo excessivo, capital abundante e uma expansão desenfreada do lado da oferta.

“A bolha dos anos 2000 foi impulsionada por empresas altamente lucrativas, como Microsoft, Intel, Dell e Cisco”, escreve. “O problema foi a oferta catastrófica e excessiva, sem demanda suficiente.” Burry reconhece que o contexto mudou, mas afirma que a essência permanece: muita infraestrutura sendo construída antes da confirmação de retorno real.

No centro do argumento está a Nvidia. A empresa se tornou, em 2025, a terceira mais valiosa dos Estados Unidos, sustentada pela demanda por chips gráficos usados em aplicações de inteligência artificial. Só no segundo trimestre fiscal, a receita cresceu 170% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Mas Burry vê na ascensão da Nvidia uma repetição do que aconteceu com a Cisco durante a bolha da internet: ações que escalaram rapidamente e depois despencaram — no caso da Cisco, uma queda de 78% entre o pico e o colapso.

“Seu nome é Nvidia”, escreve Burry, ao comparar a fabricante de chips com a Cisco dos anos 2000. A crítica vai além dos múltiplos de mercado: segundo ele, trata-se de uma corrida armamentista para construir infraestrutura sem clareza de retorno econômico sustentável.

A publicação termina com uma citação de Charlie Munger, sócio de Warren Buffett: “Se você ficar estourando balões, não vai ser a pessoa mais popular do lugar”. A frase resume a posição incômoda que Burry novamente assume: a de prever uma nova bolha quando todos celebram a inovação.

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