Mercados

Eike, Selic e outros vilões mostram porque a Bolsa estagnou

Número de participantes segue próximo da estabilidade desde 2010; alta taxa de juros é um dos causadores de desinteresse, segundo especialista


	Bovespa encerrou 2013 com 589.276 participantes, número 0,36% superior ao de 2012

	
 (REUTERS/Neil Hall)

Bovespa encerrou 2013 com 589.276 participantes, número 0,36% superior ao de 2012 (REUTERS/Neil Hall)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2014 às 10h47.

São Paulo – Em 2013, de cada 100 reais negociados em ações, 15,20 reais foram de pessoas físicas. Esse é o menor percentual desde 1998. No ano passado, a participação havia sido de 17,9%. Em dez anos, a Bolsa quintuplicou de tamanho, quanto ao número de participante, mas boa parte do salto se deu até 2010 – o número de participantes diminuiu no ano seguinte e, desde então, não cresceu nem 1% ao ano.

Vale lembrar que, em 2010, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, projetava atrair para a bolsa 5 milhões de pessoas físicas em cinco anos – depois mudou o prazo para 2018, mas a meta ainda está muito distante: A Bovespa encerrou o ano de 2013 com 589.276 participantes. O número considera cada CPF cadastrado em cada agente de custódia, ou seja, o mesmo investidor pode ser contabilizado mais de uma vez caso possua conta em mais de uma corretora. O total é 0,36% superior ao de 2012 – e 3,54% inferior ao de 2010, quando a Bovespa teve seu maior número de participantes nos últimos anos: 610.915.

Em maio do ano passado, o número de pessoas físicas chegou a 637.198. Aquele foi o mês da oferta pública inicial do BB Seguridade, que atraiu muitos participantes. Daí até o final do ano, o número caiu, assim como o Ibovespa e ações, até então, muito significativas dentro do índice.

Em 2013, a Bolsa ficou marcada pelo desempenho trágico das ações do Grupo X. “A imagem ficou prejudicada”, segundo William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP. A OGX tinha um papel relevante no principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa – que mudou sua metodologia no ano passado – e passou a valer centavos, além de ficar fora do Ibovespa segundo a nova metodologia.

A imagem de que a Bolsa é um casino ficou reforçada, segundo Eid. O professor defende que a Bolsa pode ser interessante para todo mundo, mas ganha dinheiro quem é disciplinado.

A existência de taxas de juros elevadas no Brasil é quase um convite a manter o dinheiro fora da Bolsa, segundo Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper. A relação entre o índice S&P 500 e o retorno de títulos nos Estados Unidos – vantajosa para a Bolsa – é o oposto do que ocorre no Brasil, segundo o professor.


Segundo Eid, investir na Bolsa ainda é complicado, especialmente quando o investidor pensa que durante toda a sua vida ganhou mais na renda fixa. “Em 2007, prevíamos 70 mil pontos para a Bolsa. Hoje, está por volta dos 46 mil pontos e ladeira abaixo. É muito complicado. O sujeito olha para a Bolsa como um negócio de muito risco. Outro problema é que não conseguimos criar uma cultura de investimento de longo prazo”, afirmou.

De forma geral, as pessoas também não sabem como investir, segundo Viriato. “Às vezes a pessoa tem o dinheiro mas acha que Bolsa é para quem tem milhões”, afirmou. Para Viriato, um valor suficiente para uma pessoa diversificar seu portfólio e começar a investir na bolsa de valores é 50 mil reais.

Para Viriato, além do desconhecimento, há a má orientação com relação a investimentos e ao perfil adequado de investidor para a Bolsa de Valores. Há pessoas que não tem o perfil, por serem mais conservadoras. “Muita gente taxa a Bolsa como um grande jogo porque não conhece, é mal orientada e não tem o perfil adequado”, afirmou Viriato.

Eid cita ainda um fator cultural das empresas. Em países como o Brasil, Alemanha e Espanha, as companhias buscam os bancos para financiar seus projetos – enquanto nos EUA e Japão, por exemplo, elas procuram a Bolsa.

Segundo Viriato, para a pessoa investir diretamente em ações – e não através de fundos – é necessário haver uma das duas condições: ter alguém que oriente em que investir ou ter um conhecimento muito bom do mercado.
 

Acompanhe tudo sobre:AçõesB3bolsas-de-valoresGuia de Açõesrenda-variavel

Mais de Mercados

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, aconselha Trump: 'Pare de discutir com Powell sobre juros'

Banco do Brasil promove trocas nas lideranças de cinco empresas do conglomerado

Bolsas globais superam desempenho dos EUA nos primeiros seis meses do governo Trump

Ibovespa fecha em queda de 1,61% pressionado por tensões políticas