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Efeito das tarifas de Trump se espalha e ameaça estabilidade dos mercados americanos

Analistas alertam que a alta nos custos de importação já afeta balanços e pode provocar correções nos mercados, mesmo com S&P 500 perto das máximas históricas

Publicado em 21 de julho de 2025 às 15h15.

Os mercados acionários dos Estados Unidos, que operam próximos das máximas históricas, enfrentam um novo teste à frente: os impactos crescentes das tarifas comerciais impostas pelo governo de Donald Trump.

Com o índice S&P 500 negociando a cerca de 22 vezes os lucros projetados, qualquer decepção em balanços ou dados econômicos pode interromper o rali. “Estamos precificados para a perfeição. Qualquer desvio pode levar a um ajuste no preço das ações”, disse Paul Nolte, estrategista da Murphy & Sylvest Wealth Management, à Bloomberg.

Embora investidores tenham minimizado os riscos das tarifas até agora, analistas alertam que os efeitos das medidas já em vigor estão começando a aparecer nos lucros corporativos e nos indicadores econômicos.

Segundo dados da agência Bloomberg, a alíquota média efetiva paga por importadores norte-americanos já ultrapassa 13%, mais de cinco vezes o nível do ano passado.

Esse aumento de custos está pressionando as margens de lucro e pode cortar em até 5% o crescimento dos lucros das empresas neste ano, de acordo com Alastair Pinder, chefe de estratégia global de ações do HSBC. 

Efeito das tarifas

Mesmo entre os analistas otimistas, aumenta o sentimento de cautela. Mike Wilson, do Morgan Stanley, afirmou à agência que os lucros do terceiro trimestre podem decepcionar diante da dificuldade das empresas em repassar os custos, o que poderia desencadear uma correção de 5% a 10% nos mercados.

Alguns sinais já começaram a aparecer: a Oxford Industries, dona da Tommy Bahama, cortou sua projeção de lucro para o ano após contabilizar US$ 40 milhões em tarifas adicionais; a General Mills prevê aumento de até 2% nos custos de produção; e a FedEx alertou para lucros abaixo do esperado.

Nesta semana, investidores vão acompanhar de perto os balanços de empresas expostas às tarifas, como General Motors e Capital One, além de dados macroeconômicos que podem refletir os efeitos da política comercial. Em junho, a inflação acelerou para setores diretamente afetados pelas tarifas, como mobiliário e vestuário.

Estimativas da Bloomberg Economics indicam que as tarifas devem reduzir o PIB dos EUA em até 1,6% nos próximos dois a três anos, além de elevar os preços ao consumidor em 0,9%.

Imprevisibilidade de Trump

Apesar dos riscos, parte do mercado segue confiante. Estratégias de estímulo fiscal devem adicionar entre 5% e 7% ao crescimento dos lucros do S&P 500, segundo o Morgan Stanley.

Além disso, juros mais baixos, desemprego em patamar historicamente baixo e lucros ainda robustos justificariam as valorizações atuais, de acordo com analistas do Goldman Sachs.

Mas a imprevisibilidade de Trump mantém os mercados em alerta. A partir de 1º de agosto, tarifas adicionais devem entrar em vigor. Mesmo países que negociaram acordos recentes, como Indonésia e Vietnã, enfrentarão taxas de 19% e 20%, respectivamente.

“É um erro olhar para essas tarifas e seguir em frente como se fossem irrelevantes”, disse Bhanu Baweja, estrategista-chefe do UBS. “Quando o impacto inflacionário bater na renda real disponível, os mercados vão perceber o custo real disso.”

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