Ações mais defensivas têm perdido espaço no segundo semestre do ano (Luiz Iria/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2012 às 06h12.
São Paulo – A expectativa por uma nova rodada de estímulos econômicos nos Estados Unidos e na Zona do Euro criou um ambiente de otimismo antecipado entre os investidores e a crença que o segundo semestre será um pouco mais colorido para os mercados financeiros em todo o mundo. Para ganhar com isso, porém, talvez o momento seja o de ousar nas apostas na bolsa de valores, apontam analistas.
Até os analistas técnicos, que acompanham os padrões gráficos dos ativos, comemoraram a alta recente. Isso porque o índice Bovespa finalmente rompeu a forte resistência dos 57.600 pontos, o que abriu a porteira para uma alta mais acentuada. Os investidores voltaram a apostar em uma melhora para a bolsa após dados mais positivos do mercado de trabalho americano em julho, além da expectativa por um novo estímulo monetário do Banco Central americano e do Banco Central Europeu nas próximas reuniões de política monetária agendadas para os dias 13 e 6 de setembro, respectivamente.
“Acreditamos que o mercado de baixa e a preferência de investidores por ações defensivas pode estar chegando ao fim. As ações dos bancos e ‘consumo discricionário’ mostraram desempenho forte nos últimos 2 meses, mostrando que os investidores começaram a se posicionar em setores com beta mais elevado”, afirmam os analistas do Citi, Jason Press, Nicolas Riva e Julio Zamora, em um relatório.
Reposicionamento
No primeiro semestre, por exemplo, o índice de Dividendos, que reúne as melhores pagadoras de proventos da bolsa, subiu 26% e superou em muito a queda de 3,8% do Ibovespa no período. Desde o início do segundo semestre, contudo, a situação se inverteu. O benchmark da Bovespa já ganhou 8,4%, enquanto o que acompanha as boas distribuidoras avançou 3,04%. O desempenho inferior pode ser em parte explicado pela queda de empresas que antes figuravam entre as maiores altas da bolsa, como a Souza Cruz (CRUZ3) e a Eletropaulo.
O caso da AES Eletropaulo (ELPL4) é o que mais chama atenção. A ação despencou quase 30% desde o início de julho. “É importante que o investidor que se acostumou a ver dividendos gordos num passado recente tenha noção de que a realidade mudou significativamente”, destaca William Castro Alves, da XP Investimentos, em um relatório. A empresa sofreu após a divulgação dos resultados do segundo trimestre e com a revisão tarifária que decepcionou a companhia e o mercado. A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, disse no dia 12 de julho que passou a deter uma participação inferior a 5% do capital da empresa.
O que fazer?
“O cenário ainda é bastante incerto e vemos alguns riscos para investimentos em ações nos próximos meses. Ainda assim, estamos revisando nosso portfólio para uma recuperação do mercado nos próximos meses. Estamos recomendando aos investidores aumentar a posição nos setores de energia, financeiro e consumo discricionário”, ressaltam os analistas do Citi. O banco revisou a projeção para o Ibovespa ao final do ano de 68 mil pontos para 66 mil pontos, mas elevou o alvo a 70 mil pontos para a o meio do ano que vem.
Em um relatório publicado no final de junho o Citi listou as ações preferidas para uma eventual recuperação dos mercados no segundo semestre de 2012. Entre as brasileiras, as escolhidas eram Vale (VALE3, VALE5), Itaú Unibanco (ITUB3, ITUB4), BR Properties (BRPR3), MPX (MPXE3), TOTVS (TOTS3) e Duratex (DTEX3).
Também de olho na recuperação da bolsa por aqui, o Itaú BBA revisou nesta semana a sua carteira de ações preferidas. As ações da mineradora Vale voltaram à lista porque a empresa estaria melhor posicionada para se beneficiar da recente retomada.
“Diante desse cenário, acreditamos que seja hora de aumentar um pouco a exposição a uma ação que que possa se beneficiar de uma possível entrada mais expressiva de recursos estrangeiros na bolsa brasileira, a VALE3”, ressalta a equipe de analistas do banco. Os papéis foram incluídos na carteira TOP5 do banco no lugar da AmBev (AMBV4).
No entanto, para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a reação eufórica dos mercados se baseia apenas em expectativas, visto que o uso dos dois instrumentos de estabilização financeira na Europa precisam ser liberados pelos países membros. “A alta agora do Ibovespa, apesar de factível, tem que ser vista com cautela”, ressaltou em uma análise recente.