Mercados

Dúvidas em relação a Tombini impulsionam valor das NTN-B

Compra de títulos demonstra o receio de que o presidente do BC não consiga conter a inflação

Tombini, do BC: mercado teme que medidas macroprudenciais segurem a Selic (Valter Campanato/ABr)

Tombini, do BC: mercado teme que medidas macroprudenciais segurem a Selic (Valter Campanato/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2011 às 10h09.

Nova York - Investidores estão comprando títulos atrelados à inflação e vendendo papéis prefixados no ritmo mais rápido em dois anos. O movimento reflete o temor de que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não consiga conter o aumento de preços ao consumidor.

As Notas do Tesouro Nacional da série B, vinculadas ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo, dispararam desde 19 de janeiro, derrubando o rendimento em 7 pontos-base para 5,92 por cento, após o BC sinalizar que não vai acelerar as altas de juros para reduzir a inflação, que está acima da meta de 4,5 por cento. A diferença de rendimento com os títulos prefixados de dois anos, que sinaliza as expectativas dos investidores para os aumentos de preços, se ampliou para 688 pontos-base, a maior desde novembro de 2008.

O plano de Tombini de utilizar as chamadas medidas macroprudenciais, como a elevação do depósito compulsório, para conter a inflação mais acelerada em 25 meses significa que o BC talvez não suba a taxa Selic rápido o bastante para limitar o avanço dos preços, de acordo com Marcelo Salomon, economista- chefe para o Brasil do Barclays Plc em Nova York. A valorização dos papéis brasileiros segue a tendência de demanda crescente por proteção contra inflação em países emergentes. A Turquia cortou os juros inesperadamente, e o Chile suspendeu os aumentos de juros para conter a apreciação da moeda local.

“Houve uma mudança de paradigma já que o Banco Central não vai depender de uma política monetária convencional para conter a inflação”, Siobhan Morden, estrategista-chefe para América Latina do RBS Securities Inc., disse em uma entrevista por telefone de Stamford, Connecticut. “Você tem um Banco Central sinalizando que quer moderar a alta de juros. Isso parece estar fora de sintonia com o mercado que tem aumentado a expectativa de inflação. Você precisa demandar mais prêmio de risco atrelado à inflação.”

Rendimento

As NTN-B com prazo inferior a cinco anos renderam 2,9 por cento nos últimos três meses, comparado a um retorno de 1,5 por cento para papéis prefixados. Em âmbito global, a dívida pública que oferece proteção contra inflação teve ganho de 2 por cento desde agosto, comparado a uma perda de 1,1 por cento para a dívida soberana prefixada, segundo os índices do Bank of America.


A diferença entre o título prefixado com prazo de um ano e o bônus atrelado à inflação no Chile saltou para 4,29 por cento este mês, a maior desde agosto, após a autoridade monetária começar a comprar US$ 12 bilhões para enfraquecer o peso e manteve o juro básico inalterado pela primeira vez em oito reuniões. Na Turquia, títulos atrelados à inflação deram retorno de 5,7 por cento desde outubro, enquanto o banco central reduziu o juro básico pelo segundo mês seguido na semana passada para enfraquecer a lira.

‘Situação difícil’

O Banco Central do Brasil reluta em subir os juros num passo mais acelerado porque taxas mais elevadas atrairiam mais investidores estrangeiros e valorizariam o real, segundo Salomon, do Barclays. O real ganhou 38 por cento desde janeiro de 2009, o maior avanço entre os mercados emergentes.

“Existe outro nível de restrição com o câmbio”, disse Salomon em uma entrevista por telefone de Nova York. “Eles estão numa situação difícil”.

Processo de ajuste

Tombini, que sucedeu Henrique Meirelles este mês, elevou a Selic pela primeira vez desde julho em 50 pontos-base para 11,25 por cento na semana passada. O BC disse em comunicado que iniciou “um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas”.

Após a decisão, operadores reduziram apostas no tamanho do aumento do juro básico este ano. A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro com vencimento em 2012 caiu para 12,37 por cento em 21 de janeiro, indicando que os operadores esperam que a autoridade monetária suba a Selic para 13 por cento até o fim do ano, em relação a uma expectativa anterior de 13,25 por cento em 18 de janeiro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O BC afirmou num comunicado por e-mail que “não comenta sobre tendências de mercado”.

“Eles vão subir os juros menos do que o mercado precificou”, Diego Donadio, um estrategista para América Latina do BNP Paribas, disse numa entrevista por telefone de São Paulo. “A inflação vai surpreender, vindo maior do que o esperado.”

O BC aumentou o depósito compulsório bancário e o requerimento de capital em dezembro para conter o crescimento do crédito e da inflação, o que retirou pelo menos R$ 61 bilhões de circulação. A autoridade estima que a medida foi equivalente a uma elevação entre 0,5 ponto percentual e 1 ponto percentual na Selic, segundo uma pessoa familiarizada com o processo de tomada de decisão do Copom.

“O Banco Central, como o de muitos outros países, lança mão de outros instrumentos para desacelerar a demanda doméstica” em vez de usar políticas monetárias “ortodoxas”, Salomon disse numa entrevista por telefone. “O efeito ainda não foi totalmente compreendido. Estamos numa curva de aprendizado. Ao longo do processo, as expectativas de inflação devem continuar subindo."

Acompanhe tudo sobre:Alexandre TombiniEconomistasInflaçãoPersonalidadesTesouro Nacional

Mais de Mercados

"O Brasil deveria ser um país permanentemente reformador", diz Ana Paula Vescovi

Tesla bate US$ 1 trilhão em valor de mercado após rali por vitória de Trump

Mobly assume controle da Tok&Stok com plano de sinergias e reestruturação financeira

Trump não deverá frear o crescimento da China, diz economista-chefe do Santander