A Ambipar chegou a ser uma das 40 mais valiosas da B3 (Ambipar/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 11h18.
Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 12h11.
A Ambipar (AMBP3) estreou no bolsa em plena pandemia, época em que os juros baixos contribuíram com a maior procura por investimentos em renda variável e outras dezenas companhias também se listaram na B3. Levantou mais de R$ 1 bilhão em seu IPO e realizou uma série de aquisições em um curto intervalo de tempo: foram mais de 40. Em 2023, a companhia também listou uma subsidiária na Bolsa de Nova York, a Ambipar Response, especializada em gerenciamento de crises ambientais. Dali a dois anos a companhia entraria com pedido de recuperação judicial, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
O excesso de prosperidade da Ambipar já vinha chamando a atenção dos reguladores. No ano passado, o papel AMBP3 passou por diversos spikes de preço, multiplicando de valor em questão de dias.
No ano passado, a ação acumulou alta de 730% e ficou entre as 40 mais valiosas da bolsa brasileira. Em mais de uma ocasião, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) questionou a oscilação atípica do papel e ouviu, da empresa, que não havia nada de relevante que pudesse justificar as variações.
Nada além do que já era público. O CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, e a gestora Trustee, de Nelson Tanure, aumentaram participação no capital social da empresa no ano passado. Borlenghi já tinha mais de 70% das ações e o free float, percentual em circulação de mercado, já era menor que 20%. Isso quase levou a uma retirada da empresa da bolsa, mas a Ambipar acabou dispensada pela CVM de fazer uma OPA.
Diante da disparada de preços que levou a B3 a colocar AMBP3 em leilão por diversas vezes, casas de análise abandonaram a cobertura do papel e a Ambipar entrou em 2025 tomada por imprevisibilidade do ponto de vista do mercado. Mas sendo uma companhia aberta, seus principais números são públicos, e a dívida da companhia não parava de crescer, como mostravam os balanços. Ultrapassou os R$ 10 bilhões, num cenário de Selic a 15%.
Em 25 de setembro, a companhia obteve, na Justiça, a aprovação de uma tutela cautelar antecedente, medida que visa protegê-la de possíveis credores. A empresa informou que a medida foi motivada pelos “impactos financeiros negativos” decorrentes de operações com derivativos ligados aos green bonds (títulos verdes, em português) emitidos pelo grupo.
Na petição enviada à Justiça do Rio, a Ambipar afirmava que entrou com processo por não concordar com a cobrança de chamadas de margem em contratos de derivativos em empréstimos firmados com o Deutsche Bank, que teriam chegado a mais de R$ 200 milhões nos dias que antecederam o pedido da tutela cautelar.
Em tese, porém, a companhia teria liquidez para arcar com essas retiradas e questionar o pagamento na Justiça. Ou, ao menos, para convencer o restante dos credores de que se tratava de uma situação pontual.
Ao fim de junho, a liquidez da Ambipar era abundante: quase R$ 5 bilhões em disponibilidades, dos quais R$ 2,6 bilhões em caixa ou outras aplicações de resgate imediato e mais R$ 2,1 bilhões num fundo de direito creditório (FIDC) com resgate entre 30 e 60 dias.
A medida extrema tomada pela companhia reforçou uma dúvida que vinha pairando sobre o mercado e os credores: onde está o dinheiro da companhia?
Havia pouca transparência sobre o FDIC bilionário e o que ele financia, pois apenas uma linha nas notas explicativas comunicava sua existência. Nada consta sobre o instrumento no formulário de referência, o raio X corporativo que precisa ser entregue e mantido atualizado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Menos de um mês após a tutela cautelar, ainda sem conseguir esclarecer esses pontos, a Ambipar, entrou em recuperação judicial, com uma dívida de R$ 10,7 bilhões.
As ações da empresa viraram pó e agora são negociada a menos de R$ 0,50. Do top 40 das empresas mais valiosas da bolsa, a companhia, hoje, vale menos de R$ 1 bilhão.