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Dor no curto prazo, mas chance de ganhos: Brasil e AL podem se beneficiar após tarifaço, diz BTG

Análise do BTG Pactual mostra que Brasil e seus vizinhos podem se beneficiar da reconfiguração comercial iniciada pelo presidente Donald Trump

Brasil: país pode se beneficiar das tarifas de Trump (RHJ/Getty Images)

Brasil: país pode se beneficiar das tarifas de Trump (RHJ/Getty Images)

Publicado em 7 de abril de 2025 às 09h22.

A decisão do presidente Donald Trump de elevar tarifas de importação nos Estados Unidos provocou uma onda de incerteza nos mercados globais.

Ainda assim, segundo análise do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) divulgada no último domingo, 6, a América Latina pode sair fortalecida desse cenário , beneficiando-se de sua relativa menor exposição comercial e das condições favoráveis impostas pelas novas regras.

Batizado de "Dia da Liberação", o pacote tarifário inclui a imposição de uma tarifa universal de 10% sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, além de sobretaxas específicas para países que aplicam tarifas elevadas a produtos americanos ou que mantêm grandes superávits comerciais com Washington.

Na prática, América Latina foi poupada das punições mais severas : Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru foram taxados apenas com a tarifa-base, diferentemente de China, Vietnã e União Europeia, que enfrentaram tarifas de até 46%.

Segundo o relatório, o comércio da região com o exterior representa, em média, 46% de seu Produto Interno Bruto (PIB), abaixo da média global de 50%. Desconsiderando o México, o índice latino-americano cai para 39%. Esse grau de “isolamento comercial” proporciona um escudo parcial contra a desaceleração do comércio internacional.

Impactos diretos para o Brasil e Latam

Os analistas do BTG destacam que o Brasil emergiu como um dos "vencedores relativos" no novo cenário.

A tarifa de 10% sobre exportações brasileiras para os EUA é considerada moderada, especialmente se comparada às tarifas aplicadas aos principais concorrentes asiáticos. Produtos como aeronaves, materiais de construção e madeira serão os mais afetados, mas setores como petróleo e derivados, importantes na pauta de exportação brasileira, ficaram isentos.

Com uma participação relevante no fornecimento de commodities agrícolas e minerais, o Brasil pode ainda ganhar espaço no mercado americano à medida que fornecedores asiáticos perdem competitividade devido às tarifas mais altas.

O ambiente de juros mais baixos nos Estados Unidos — com o rendimento dos tesouros de 10 anos já recuando para perto de 4% — ainda pode impulsionar o apetite por ativos de mercados emergentes. Isso abre espaço para uma recuperação das ações brasileiras e maior fluxo de capitais para a região.

O relatório também aponta que a desvalorização do dólar frente a outras moedas, como o real e o euro, traz algum alívio para países como Argentina, que utilizam o dólar como âncora informal para a inflação. No entanto, a expectativa de desaceleração do crescimento global, associada a menores preços de commodities, representa um risco relevante.

México e Colômbia: vulnerabilidades à frente

México e Colômbia, cujas economias mantêm laços mais estreitos com os Estados Unidos, enfrentam desafios adicionais.

No caso mexicano, apesar de o país ter sido poupado de tarifas adicionais por conta do USMCA (acordo comercial com EUA e Canadá), a dependência econômica da demanda americana torna-o vulnerável à desaceleração projetada para o PIB dos EUA em 2025, de apenas 1%.

O relatório alerta que o México pode registrar crescimento negativo já em 2025 , revertendo a expectativa anterior de expansão moderada. A pressão sobre as contas fiscais e o risco de rebaixamento do rating soberano também ganham força nesse cenário.

Para a Colômbia, a exposição a commodities, especialmente petróleo, é preocupante. Cerca de 45% das exportações colombianas estão concentradas em petróleo, que, embora isento da nova tarifa, sofre com a queda de preços globais gerada pela retração do comércio mundial.

Chile e Peru: resiliência, mas vigilância necessária

O Chile, que exporta sobretudo cobre e minérios, também recebeu a tarifa universal de 10%. Como as principais commodities metálicas foram isentas, o impacto direto é limitado. Mesmo assim, a queda na demanda global por metais pode afetar os volumes e os preços, exigindo cautela.

No Peru, cujo principal parceiro comercial é a China, o efeito imediato das tarifas americanas é menor. Mas a desaceleração da economia chinesa, agravada pelas medidas retaliatórias a Washington, pode reduzir a demanda por commodities peruanas, como cobre e ouro.

Cenário de médio prazo favorece a região

Apesar dos riscos de curto prazo, o relatório do BTG Pactual ressalta que a América Latina pode se tornar um destino preferencial de investimentos nos próximos anos. A menor exposição a tensões comerciais diretas, a melhora relativa na competitividade e o potencial de substituição de fornecedores asiáticos na cadeia de suprimentos global jogam a favor da região.

No entanto, a recomendação do banco é de cautela: "Haverá dor no curto prazo", dizem os analistas.

A volatilidade dos preços de commodities, o fortalecimento de políticas protecionistas e a desaceleração sincronizada das grandes economias são fatores que ainda podem prejudicar a recuperação.

Ainda assim, o recado é claro: em meio à tempestade comercial provocada pelo novo governo americano, a América Latina parece, ao menos por enquanto, uma ilha de relativa estabilidade no cenário global.

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