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Dólar segura renda no campo, mas encarece insumos

De agosto de 2014 a março, o câmbio rendeu mais de R$ 25 no preço da saca de soja em Sorriso (MT), ficando responsável por quase metade de sua composição.

Produção de soja. Colheita (Arquivo/Agência Brasil)

Produção de soja. Colheita (Arquivo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 29 de março de 2015 às 10h48.

São Paulo - Se a queda das cotações de soja na Bolsa de Chicago, pressionadas pelo alto patamar dos estoques mundiais, afligiu produtores e ameaçou a rentabilidade desta e da próxima safra, a disparada do dólar no mês passado acalmou os ânimos e segurou a rentabilidade para o produtor - pelo menos por enquanto.

De agosto do ano passado a março deste ano, o câmbio rendeu mais de R$ 25 no preço da saca de soja em Sorriso, Mato Grosso, ficando responsável por quase metade de sua composição. "O preço em Chicago, o prêmio e a margem diminuíram, mas o dólar subiu bem e compensou essa queda", diz Marcos Rubin. "Com isso, o preço da soja se manteve praticamente estável de agosto para cá."

Em outubro, essa estabilidade não era nem sequer cogitada pelo produtor, que estava apreensivo com o cenário de preços. Com o dólar a R$ 2,50 e a cotação de soja por volta de US$ 9 o bushel na Bolsa de Chicago, a rentabilidade esperada no norte de Mato Grosso, por exemplo, para a safra 2014/15 era de R$ 128 por hectare - 80% a menos do que na safra anterior. Para o ano que vem, a conta ficava no vermelho, com prejuízo de R$ 125 por hectare.

O dólar deu uma reviravolta nesse cenário. Em março, tomando como base uma cotação a R$ 3,10, a rentabilidade da soja foi para R$ 798 por hectare, superando a do ano passado. Para a nova safra, a conta sai do negativo e vai a R$ 337. No norte do Paraná, a rentabilidade passou de R$ 341 para R$ 1.077 por hectare com a valorização da moeda americana. "Ganhamos um ano com o câmbio, com uma margem melhor do que se estivéssemos olhando apenas para os mercados internacionais", destaca André Pessôa.

Insumos

O mesmo dólar que segura a renda do produtor, porém, também traz preocupações para a próxima safra, uma vez que o Brasil importa por volta de US$ 30 bilhões em insumos por ano. A Agroconsult estima uma alta de 13% no custo de produção no norte de Mato Grosso para a safra 2015/16, e boa parte dessa conta sai em dólar. "No caso dos fertilizantes, o repasse é praticamente igual", diz Pessôa. A consultoria projeta alta de 29% no preço de fertilizantes e 22% para os defensivos.

A perspectiva se agrava com incertezas quanto à oferta de crédito para a próxima, tanto de fontes públicas como privadas. A consultoria espera queda de 20% na disponibilidade de crédito aos agricultores. Na contrapartida, estima que serão necessários R$ 11 bilhões a mais de recursos para o plantio de soja, milho e algodão do que nesta safra, totalizando 94,8 bilhões. "Neste ciclo, notamos um retardamento tanto na comercialização da soja como na compra de insumos. O grande desafio deste ano é o crédito, que estará mais caro e mais escasso", diz Pessôa.

Além das dúvidas em relação ao câmbio, o preço da soja em dólar deve continuar pressionado. "Tivemos uma safra boa nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil. As probabilidades de alta de preços são baixas", diz Rubin. Os três principais produtores da commodity acumularão um estoque de 33 milhões de toneladas nesta safra, sendo 18 milhões na Argentina, que já havia armazenado 12 milhões na safra passada. "Não se sabe quando a Argentina vai colocar essa oferta no mercado, mas isso será decisivo para os preços."

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