A moeda americana, que no final do mês passado era comprada por 1,59 real, chegou a ser negociada a quase 1,95 real (Karen Bleier/AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2011 às 09h03.
São Paulo - Em até três semanas deve ocorrer um desfecho positivo para a crise da Grécia, o que deve fazer com que caia a volatilidade no mercado de câmbio no Brasil, a ponto de levar a cotação para um patamar mais apreciado, que deve fechar em R$ 1,65 no final do ano, afirmou o economista-chefe para América Latina do banco HSBC, André Lóes. Segundo ele, esse cenário tem como hipótese principal que as autoridades daquele país conseguirão realizar uma reestruturação da dívida capaz de evitar um colapso junto aos credores, que eventualmente culminaria num default soberano. "Neste contexto, a volatilidade da cotação do real ante o dólar vai diminuir de forma expressiva e o movimento do câmbio deve voltar a se normalizar", comentou.
Para Lóes, o movimento internacional de investidores à busca de ativos seguros e com baixo risco deve diminuir as variações mais abruptas do câmbio nas próximas semanas. "Como já está ocorrendo o flight to quality há algum tempo, fica menor o potencial de oscilações bruscas dos valores de ativos relativos ao Brasil, como o câmbio", destacou. "Além disso, nos últimos dias ocorreu um movimento de investidores institucionais e sobretudo de exportadores que aproveitaram a cotação mais alta para fechar a cotação do câmbio num patamar mais favorável", disse.
Segundo André Lóes, caso se confirme seu cenário principal sobre os desdobramentos da crise da Grécia, o nervosismo dos mercados internacionais deve diminuir bem, pois os investidores perceberão que vai cair muito a possibilidade de contágio para outras economias europeias maiores, como a Espanha e Itália. "Desta forma, o mercado ficará com uma avaliação de que as autoridades da Europa conseguiram limitar bem os efeitos da crise sobre a Grécia, o que não deve provocar impactos muito negativos sobre outros membros da zona do Euro", afirmou.
O economista esteve recentemente em contato com clientes de renda fixa nos EUA e verificou que há uma percepção não muito favorável sobre as recentes decisões do Poder Executivo da gestão da economia, com destaque para mudança súbita da administração da política monetária no dia 31 de agosto. De acordo com Lóes, investidores passaram a avaliar que o governo não quer o ingresso de capitais de curto prazo, e que somente tem interesse em investimentos estrangeiros diretos, o IED.
"Mas passado o período mais agudo da crise, o fluxo de capitais de portfólio pode retomar de alguma forma o fôlego", comentou Lóes. Um dos fatores que devem estimular este tipo de investidores é a rentabilidade de títulos públicos brasileiros, dado que os juros reais ex-ante estão em 4,54%, patamar diferente das taxas negativas registradas nos EUA, Zona do Euro, Japão e Reino Unido. Além de esperar que o câmbio chegará ao final do ano no patamar de R$ 1,65, ele estima que esta cotação será repetida no encerramento de 2012. No seu cenário, o Brasil não deve ser muito afetado pela crise internacional, pois estima que o subirá 3,5% em 2011 e avançará 4% no próximo ano, enquanto a Selic deve encerrar este ano em 11% e atingir 10% no ano que vem.