(halduns/Getty Images)
Repórter
Publicado em 19 de outubro de 2023 às 16h30.
A alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos tem impulsionado o preço do dólar no mundo. A lógica por trás da movimentação é que, com a maior atratividade dos títulos, cresce a demanda pela moeda americana. Nesta quinta-feira, 19, o título com vencimento em 10 anos chegou a beirar os 5%, renovando seu maior patamar em 16 anos.
Dois motivos principais tem impulsionado o rendimento dos títulos americanos de mais longo prazo, segundo o Bank of America: políticas fiscais expansionistas e a perspectiva de que o Federal Reserve mantenha sua taxa de juro elevada por mais tempo.
"Os rendimentos estão puxando o dólar para cima, mas a reação relativamente contida do mercado acionário está empurrando o dólar para baixo. O dólar fortaleceu-se, mas tem acomodado no meio destas duas forças compensatórias", afirma o relatório assinado por Athanasios Vamvakidis, estrategista de câmbio do BofA.
A partir de agora, o que acontecerá com títulos americanos e o dólar dependerá de quão intensa será a queda de atividade dos Estados Unidos e o quão esticada será a inflação durante os próximos meses, disseram os analistas.
A expectativa do BofA é de que o dólar permanecerá forte enquanto a economia americana não passar por um resfriamento econômico (no landing), no termo em inglês). Apesar das altas de juros, vale recordar, as taxas de crescimento continuam positivas nos Estados Unidos, enquanto o desemprego atinge menos de 4% da população. A taxa de desemprego média ficou próxima de 5% nos últimos dez anos. O risco de curto prazo é o mercado deixar de precificar cortes de juros no próximo ano. "O dólar poderia ficar ainda mais forte neste ano, como aconteceu quando o mercado deixou de precificar cortes para este ano."
No longo prazo, o Bank of America espera que os títulos americanos permaneçam com rendimentos elevados e o dólar forte, mas em níveis inferiores aos atuais.
Um cenário de forte enfraquecimento econômico (hard landing), por outro lado, pode ter efeitos dúbios sobre o dólar a depender do que ocorrer com a inflação, disseram os analistas. Se a inflação permanecer esticada, configurando um cenário de estagflação, o dólar tende a ficar alto, segundo o BofA. "Supondo que o Fed continue comprometido com a sua meta de inflação, tanto os rendimentos elevados como a redução do risco apoiariam o dólar americano. Seria o caso de más notícias serem más notícias."
Mas se o enfraquecimento for forte e a queda da inflação também, o efeito sobre o dólar deverá ser o de desvalorização, após um movimento inicialmente de alta. "O risco durante de um hard landing deve inicialmente apoiar o dólar americano. No entanto, os cortes agressivos do Fed neste cenário acabariam por apoiar as ações e enfraquecer o dólar. Seria um caso de más notícias eventualmente sendo boas notícias."
O dólar também tende a perder valor, segundo o BofA, em um cenário de controle inflacionário e leve enfraquecimento econômico (soft landing). "Rendimentos mais baixos e ações mais fortes pesariam sobre o dólar neste caso."