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Dólar: mesmo acima dos R$ 5,65, cotação ainda está longe de recorde real

Seria necessário ultrapassar os 7,67 reais para superar cotação de outubro de 2002 corrigida pela inflação

Dólar: considerando a inflação, moeda ainda não superou marca de 2002 (Tomasz Zajda/Getty Images)

Dólar: considerando a inflação, moeda ainda não superou marca de 2002 (Tomasz Zajda/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 24 de abril de 2020 às 20h45.

Última atualização em 24 de abril de 2020 às 20h51.

O dólar subiu 8,25% nesta semana e fechou o pregão de sexta-feira, 24, cotado a 5,67 reais. Sua escalada, que já acumula alta de 41,25% desde o início do ano, tem feito muitos analistas considerarem a possibilidade de a moeda americana chegar aos 6 reais. Mas o recorde real pode estar longe de ser alcançado.

De acordo com levantamento feito pela consultoria de análise econômica GO Associados a pedido da EXAME, o dólar precisaria ultrapassar os 7,67 reais para renovar a marca. O valor é equivalente aos 3,95 reais cotados em 2 de outubro de 2002, levando em conta como a inflação evoluiu no Brasil e nos Estados Unidos até março deste ano.

“É fundamental considerar a inflação doméstica e a internacional para ver se os produtos estão mais ou menos competitivos”, explicou Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados. Para ele, o recorde não deve ser batido tão cedo.

Na época, havia grande preocupação sobre como seria o governo do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva caso se tornasse presidente. Apesar das crises sanitária, econômica e política ajudarem a fortalecer o dólar, ele vê o Brasil em uma situação mais favorável do que no passado. “As contas externas estão folgadas o que permite o Banco Central atuar para evitar movimentos exagerados.”

Outro fator que pode dificultar ainda mais a quebra do recorde real é inflação brasileira, que tende a ser maior do que a americana, fazendo com que aqueles 3,95 reais fiquem cada vez mais caros ao longo do tempo. De outubro de 2002 até março deste ano, a inflação brasileira avançou 202% enquanto a americana, 43%, de acordo com dados do levantamento. 

“O Brasil tem um histórico de pressão inflacionária maior do que o dos Estados Unidos e do que de várias outras economias maduras. É mais difícil controlar aqui”, disse Oliveira.

Apesar dos 7,67 reais ainda parecem longe da atual cotação do dólar, o discurso de que a moeda pode ultrapassar os 6 reais e até os 7 reais começam a ganhar força no mercado. Nesta semana, o banco suíço UBS afirmou em relatório que, em um cenário pessimista, o dólar pode chegar a 7,35 reais no fim de 2021.

“No começo do ano eu diria que não era possível o dólar chegar a 7 reais. Mas a gente viu tanta coisa absurda que não dá para duvidar de um dólar a esse preço”, disse William Teixeira, diretor de renda variável da Massem Investimentos.

Embora venha se avolumando, o discurso de que a moeda americana pode chegar aos 7 reais está longe de ser unanimidade no mercado. No momento, a maior parte das atenções está para a possibilidade de o dólar ultrapassar os 6 reais - marca que, no curto prazo, deve servir como uma espécie de ponto de resistência, segundo Felipe Pellegrini, gerente de trade do Travelex Bank. 

Pellegrini, porém, não descarta um rompimento desta barreira. “O dólar mostrou a possibilidade novas altas. Não tem como supor até onde pode ir e em qual velocidade que isso pode se dar”, disse. Pellegrini também tem visto as recentes atuações do Banco Central como ineficientes para atender a demanda por dólar. “Todo esse movimento mais exagerado é em decorrência da liquidez mais baixa. Os leilões de swap do BC trazem uma calmaria bem pontual para mercado, não é indício de maior liquidez.”

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