Câmbio: dólar recuou nesta quarta-feira (Pilar Olivares/Reuters)
Beatriz Correia
Publicado em 10 de abril de 2019 às 17h20.
Última atualização em 10 de abril de 2019 às 17h59.
O dólar fechou no menor patamar em quase três semanas nesta quarta-feira, 10, terminando abaixo de um importante suporte técnico, num pregão de fraqueza da moeda norte-americana no exterior e de relativo alívio na percepção sobre a reforma da Previdência no Brasil.
O dólar à vista caiu 0,78%, a 3,8240 reais na venda. É o nível mais baixo desde 21 de março (3,8001 reais). A queda foi a maior 1 de abril, quando a moeda recuou 1%.
Com o resultado desta quarta, o dólar fechou abaixo da média móvel de 200 dias, de 3,8441 reais. A moeda norte-americana vinha mostrando dificuldades para cair abaixo desse nível, e o movimento desta sessão pode ser interpretado como um sinal de mais desvalorização à frente. Na B3, a referência do dólar futuro cedia 0,64%, a 3,8310 reais.
"Tudo conspirou para a queda do dólar hoje", disse Cleber Alessie, operador de câmbio da H.Commcor. Ele citou os fracos dados de inflação nos EUA e a ata do Federal Reserve --que reforçaram expectativas de juro estável nos Estados Unidos pelos próximos meses, declarações de autoridades do governo sobre a reforma previdenciária e a conclusão da renegociação do contrato da cessão onerosa com a Petrobras.
"Até o IPCA mais alto, em termos técnicos, ajudou, porque limita aposta de queda de juro no Brasil", afirmou, referindo-se a uma interrupção da queda do diferencial de juros entre o Brasil e o mundo, o que tem pesado sobre o real nos últimos anos.
O mercado também segue atento a expectativas de fluxo. O grupo siderúrgico e de mineração CSN voltou ao mercado de crédito com emissão de 1 bilhão de dólares em duas partes, em estratégia para alongar vencimentos de dívida, informou nesta quarta-feira o IFR.
O Bank of America Merrill Lynch também chama atenção para um cenário de fortes investimentos no Brasil neste ano, o que influenciaria diretamente o patamar da taxa cambial. O banco estima investimentos diretos no país de 90 bilhões de dólares neste ano (o que seria o maior nível desde 2012) e de 95 bilhões de dólares em 2020 --volume mais alto desde 2011. "Progressos na agenda de privatizações são um risco de alta para esse cenário", disse David Beker, estrategista do BofA.
Em evento em Nova York, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o objetivo do governo federal de levantar 20 bilhões de dólares com privatizações neste ano será facilmente atingido, projetando uma superação da meta em até 40 por cento.
O Ibovespa encerrou em queda depois de oscilar entre altas e baixas durante a sessão, com agentes do mercado aguardando novidades em relação à reforma da Previdência, mesmo após parecer favorável do relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na véspera.
A bolsa paulista recuou 0,35%, a 95.953,45 pontos. O giro financeiro somou 14,3 bilhões de reais.
Para o analista Thiago Salomão, da Rico Investimentos, o mercado deve ficar sem rumo definido no curto prazo, em um movimento de cautela antes de definições mais concretas sobre a Previdência.
"Observamos uma volatilidade muito grande no Ibovespa nos últimos dias decorrente de especulações sobre a reforma. A falta de notícias do dia deixa o mercado sem uma direção certa e a cautela acaba falando mais alto", afirmou.
O relator da reforma da Previdência na CCJ, Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG), apresentou na terça-feira parecer pela admissibilidade da proposta, mas recomendou que sejam feitos ajustes e pediu que o mérito seja analisado com profundidade para verificar a conveniência e a justiça das novas regras.
Nesta quarta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou estar otimista quanto à aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso de um texto que gere economia de 1 trilhão de reais em dez anos, acrescentando que os parlamentares poderão fazer cortes no texto.
Do front externo, os principais índices acionários de Wall Street encerraram sem uma direção única, na esteira de dados benignos de inflação dos Estados Unidos e após a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve em linha com as expectativas do mercado.
- CSN perdeu 3,65%, em meio a ajustes conforme o papel acumulava até a véspera valorização de 89% no ano. O grupo siderúrgico e de mineração anunciou nesta quarta-feira que voltou ao mercado de crédito com emissão de 1 bilhão de dólares em duas partes, em estratégia para alongar vencimentos de dívida, informou o IFR.
- SUZANO caiu 3,51%, mantendo-se entre as maiores quedas do Ibovespa ao registrar seu menor valor de fechamento desde 17 de janeiro. Na semana passada, analistas Credit Suisse cortaram a recomendação para as ações da Suzano e Klabin para 'neutra', bem como reduziram os respectivos preços-alvos para 53 e 18 reais, citando visão mais cautelosa com a demanda chinesa por celulose. KLABIN recuou 2,66%, em seu menor patamar de encerramento desde 2 de janeiro.
- PETROBRAS PN desvalorizou-se 1,3% e PETROBRAS ON caiu 0,55%, apesar do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ter aprovado na véspera após fechamento dos mercados valor de 9,058 bilhões de dólares a ser pago à estatal como parte da conclusão da renegociação do contrato da cessão onerosa. A Petrobras está preparando a venda de mais três gasodutos depois de levantar 8,6 bilhões de dólares com o repasse do controle da TAG à francesa Engie, disseram três fontes com conhecimento do assunto à Reuters.
- CEMIG PN subiu 4,26%, tendo de pano de fundo noticiário de que sua controlada Renova Energia fechou acordo com a AES Tietê para venda da totalidade do Complexo Eólico Alto Sertão III. O JPMorgan elevou a recomendação das ações da Cemig para 'overweight', com preço-alvo de 16 reais.