Mercados

Dólar deve fechar ano abaixo dos R$ 5, projeta líder do ranking Focus

Em entrevista exclusiva, estrategistas de câmbio do BNP Paribas explicam porque a moeda deve ceder até o fim de 2020

Dólar: BNP Paribas Brasil acredita que moeda americana irá terminar o ano abaixo dos 5 reais (Don Farrall/Getty Images)

Dólar: BNP Paribas Brasil acredita que moeda americana irá terminar o ano abaixo dos 5 reais (Don Farrall/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 2 de setembro de 2020 às 17h01.

Com desvalorização acumulada de 25% no ano em relação ao dólar, o real tem o pior desempenho entre as principais moedas emergentes do mundo. Mas esse cenário deve se alterar. Isso é o que projeta o BNP Paribas Brasil, da gestora que encerrou na primeira colocação do último ranking anual Focus, do Banco Central, na categoria de projeções de câmbio de médio prazo. A atual projeção, que vem sendo “sutilmente” revisada, é de que o dólar encerre o ano cotado a 4,50 reais, bem abaixo dos 5,38 reais atuais. Nesta quarta-feira, 2, o real é a moeda emergente que mais se valoriza, mesmo com a bolsa de valores em queda.

Em entrevista exclusiva à Exame, os estrategistas de moedas e câmbio do BNP Paribas Brasil, Samuel Castro e Luca Maia explicaram os motivos pelos quais o real deve se valorizar. Para os estrategistas, fatores negativos, como a recente queda da taxa de juros e a piora fiscal do governo durante a pandemia “estão mais do que precificados” e, entre as principais moedas emergentes, o real é a mais bem posicionada para se valorizar.

Uma das razões para o otimismo em cima do real, segundo eles, é justamente a recente alta do dólar, que foi ainda mais acentuada no Brasil. Por aqui, a moeda americana subiu pouco mais de 30% desde o início do ano, enquanto contra outras divisas emergentes, como o peso mexicano e o rublo russo, a valorização foi de cerca de 18% e 21%, respectivamente. Mas não para por aí.

“No contexto global, o dólar chegou a um ponto muito forte e já começa a se enfraquecer”, afirma Castro. Um dos índices mais relevantes do mercado de câmbio, o Dxy, que mede o desempenho do dólar contra algumas das principais moedas do mundo, em março, bateu a pontuação máxima em mais de quatro anos, mas já cedeu a ponto de tocar a mínima desde 2018.

Entre os fatores elencados por Castro para a desvalorização global da moeda americana está a atuação do Federal Reserve (Fed). “O Fed está inundando o mercado de dinheiro. Então, existe uma quantidade absurda de liquidez no mercado, o que influencia na desvalorização do dólar.” A outra razão sua a atual política de juros. “O Fed está mantendo parado os juros em [patamar] muito baixo, o que deve favorecer a valorização do real e a desvalorização do dólar”, afirma.

Na quarta-feira passada, em discurso no Simpósio de Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell anunciou a adoção da meta de inflação média, que tende a estender o tempo de manutenção da taxa de juros americanas próxima de zero. De acordo com Luca Maia, esse foi o principal gatilho para a reversão da posição comprada dos investidores na última semana.

“As posições compradas estavam muito grandes e bateram a máxima desde fevereiro na quinta-feira. Mas acreditamos que o evento de Jackson Hole foi o que desencadeou o desmonte de posições compradas, tanto que na sexta-feira, o real teve o melhor desempenho do mundo”, disse Maia. Segundo ele, mais notícias positivas para o mercado ou mesmo a diminuição de notícias negativas deve seguir provocando o desmonte dessas posições compradas.

Uma das notícias favoráveis é a aparente volta da agenda econômica do governo. Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que irá entregar ao Congresso o projeto da reforma administrativa na quinta-feira e, ontem, a Câmara aprovou o marco do gás, que pode destravar investimentos de até 60 bilhões de reais. “Toda vez que o governo passa sinais de prudência fiscal, diminui o risco Brasil e impacta o prêmio de risco”, explica Castro.

Parte da tese do BNP também tem elementos do outro lado do mundo, na recuperação econômica chinesa. “A China é importante para o real porque ela é uma grande consumidora de commidity”. Em mais um sinal de retomada, o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) da atividade manufatureira da China, divulgada nesta semana, bateu seu maior patamar em quase uma década, ficando mais de 3 pontos acima dos 50 pontos, que delimitam a contração da expansão da atividade .

Embora acreditem que o real deva se valorizar até o fim do ano, Castro não vê espaço para uma forte redução de sua volatilidade, tendo em vista a baixa taxa de juros brasileira, que tende a reduzir posições de investidores estrangeiros em títulos brasileiros, e aproximação das eleições americanas. “A incerteza sobre o que o resultado das eleições acaba aumentando a volatilidade da moeda.

Com isso, resta à vacina da Covid-19 também ser a vacina contra a volatilidade. “Não se sabe quando vai acabar a pandemia, se vai ter segunda onda ou não. Tudo isso, por conta de falta de conhecimento, acaba gerando incerteza e impactando o preço dos ativos. A partir da estabilização deste cenário ou pelo menos uma perspectiva de melhora do quadro da pandemia, diminui a incerteza e a volatilidade”, afirma Castro.

Acompanhe tudo sobre:BNP ParibasCâmbioDólarFed – Federal Reserve SystemReal

Mais de Mercados

BTG vê "ventos favoráveis" e volta recomendar compra da Klabin; ações sobem

Ibovespa fecha em queda e dólar bate R$ 5,81 após cancelamento de reunião sobre pacote fiscal

Donald Trump Jr. aposta na economia conservadora com novo fundo de investimento

Unilever desiste de vender divisão de sorvetes para fundos e aposta em spin-off