Estratégia de carry trade oferece os maiores retornos em quase quatro anos (halduns/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 18h52.
Última atualização em 4 de dezembro de 2020 às 19h17.
Operadores de carry trade, que especulam em cima de juros, enfrentaram um mercado turbulento nos últimos meses, pois o aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos e as medidas de afrouxamento monetário em economias emergentes pressionaram a potencial arbitragem de taxas de juro.
Mas a confiança dos traders começou a dar frutos. A estratégia de carry trade — de tomar dólares emprestados para investir em moedas de maior rendimento, como as dos países emergentes — agora oferece os maiores retornos em quase quatro anos e é apontada como um dos melhores investimentos para 2021. Os ganhos surgem apesar de taxas de juro domésticas médias perto de mínimas históricas.
A trajetória teve trancos e barrancos. O rendimento extra que investidores conseguem ao comprar títulos de mercados emergentes em vez de notas do Tesouro dos Estados Unidos atingiu o menor nível em oito anos, à medida que bancos centrais de países mais pobres cortavam os juros para amenizar o impacto do coronavírus. O aumento dos rendimentos de dez anos dos Treasuries rumo a 1% levou o JPMorgan Chase a prever a morte do carry trade no mês passado.
Nas últimas semanas, no entanto, uma nova onda de apetite por risco, estimulada pela vitória presidencial de Joe Biden nos Estados Unidos e avanços das vacinas contra o coronavírus, veio em socorro. No mês passado, um indicador de retornos cumulativos de oito moedas de mercados emergentes deu o maior salto desde março de 2016. Todas as 23 taxas de câmbio monitoradas pela Bloomberg, exceto uma, geraram ganhos desde o dia das eleições americanas, com duas delas com retornos de dois dígitos.
“Embora os juros domésticos de mercados emergentes estejam baixos em relação aos níveis históricos, isso também é verdade para as taxas globais em geral, e mercados emergentes ainda parecem atraentes em termos relativos”, disse Shamaila Khan, diretora de dívida de mercados emergentes da AllianceBernstein, em Nova York. “Acreditamos que o dólar provavelmente vai se enfraquecer no próximo ano e somos construtivos sobre moedas de mercados emergentes.”
O rendimento de um indicador de títulos em moeda local da Bloomberg Barclays caiu para uma mínima histórica de 3,46% em maio. Embora tenha se recuperado para 3,7%, ainda é menos da metade do nível visto em 2008. Em um mercado inundado com cerca de 17 trilhões de dólares de dívida de rendimento negativo, o valor é alto o suficiente para atrair investidores.
“É verdade que carry trades, pela métrica tradicional de diferencial de taxa de juro, podem não parecer tão atraentes, mas neste mundo de baixos rendimentos do mercado desenvolvido os investidores podem não ter muita escolha”, disse Eugene Leow, estrategista de renda fixa do DBS Group, em Cingapura.