Dólar: moeda americana contra o real com investidores repercutindo cenário fiscal (Igor Golovniov/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 10h32.
Última atualização em 29 de novembro de 2024 às 12h23.
O dólar comercial caminha para alcançar uma nova máxima histórica nesta sexta-feira, 29. A moeda americana avança mais de 2% e alcançou R$ 6,281 no ponto mais alto do dia. Por volta das 12h, a moeda arrefeceu a alta após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, afirmar que a proposta de isenção de imposto de renda para trabalhadores com renda mensal de até R$ 5 mil deve ser discutida pelo parlamento em 2025 e após apresentação "realista" de fontes de financiamento.
Lira disse ainda que a Câmara tem um "compromisso inabalável" com o arcabouço fiscal e a "inflação e dólar altos são mazelas que atingem de forma mais severa os mais pobres".
"Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e sobretudo realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas. Uma coisa de cada vez. Responsabilidade fiscal é inegociável", disse.
Na última quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a isenção de Imposto de Renda (IR) para trabalhadores com carteira assinada com salário de até R$ 5 mil e o pacote de corte de gastos, cuja principal medida será a trava nas regras de reajuste real do salário mínimo. No dia seguinte, o ministro detalhou as medidas. Ontem, com a reação do mercado, o patamar do dólar de R$ 6 foi alcançado. Até então, nunca antes na história o dólar havia fechado nominalmente nessa faixa de cotação.
A intenção do governo com o pacote anunciado é reduzir os gastos públicos em R$ 70 bilhões nos próximos dois anos caso as propostas sejam aprovadas pelo Legislativo. A grande surpresa para o mercado, no entanto, foi a proposta de isentar de IR pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil.
Para compensar a perda de arrecadação, estimada pela equipe econômica em pelo menos R$ 50 bilhões, a ideia é tributar quem tem renda superior a R$ 50 mil por mês. Com isso, o imposto terá incidência para quem tem rendimentos que ultrapassam R$ 600 mil por ano.
Desde então o mercado tem reagido mal à proposta, penalizando o câmbio e as ações brasileiras. "O anúncio do pacote fiscal não conseguiu recuperar a credibilidade sobre a política econômica", escreveu o time do JPMorgan em relatório publicado na véspera.
Na visão do banco, o BC deverá optar pela elevação de 1 ponto percentual a taxa básica de juros (hoje em 11,25%), já na na próxima reunião. A estimativa do time é de que a Selic ao fim de 2025 não fique mais em 13%, mas, sim, a 14,25%.
O Goldman Sachs, por sua vez, avaliou que o pacote fiscal não é ambicioso nem alinhado com o que o cenário macroeconômico atual exige.
"O pacote é considerado decepcionante, muito difuso, com rendimento incerto”, escreveram os analistas. “A isenção de IR reforça a percepção de que a administração continua a adotar uma estratégia de impostos e gastos, em vez de focar diretamente no aperto da postura fiscal."
Já na análise do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), o impacto total do pacote será de R$ 46 bilhões em dois anos, com um impacto acumulado de até R$ 242 bilhões até 2030. Os valores estão abaixo das estimativas do governo, que previu um impacto de R$ 71,9 bilhões em dois anos e R$ 327 bilhões até 2030.
O câmbio segue repercutindo a desconfiança dos investidores com o pacote fiscal, anunciado pelo governo na quarta-feira, 27, e detalhado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ontem, 28.
O dólar vem pressionado desde o anúncio e segue batendo recordes a cada sessão. A moeda já avança 3% no acumulado da semana.