Queda nos mercados: ações de tec têm semana difícil (wenich-mit/Getty Images)
Repórter
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 07h49.
Última atualização em 21 de agosto de 2025 às 07h51.
As gigantes de tecnologia não conseguiram escapar do mal-estar dos mercados em relação a elas nesta semana.
Sob temores de uma possível bolha, as ações das big techs, juntas, acumulam queda de 5,6% até esta quinta-feira, 21, enquanto o Nasdaq Composite, principal índice de tecnologia nos Estados Unidos, caiu 2,1% em dois dias.
O sell-off é alimentado por incertezas sobre o valor real das empresas de IA e uma possível correção nos preços das ações e reflete a fragilidade do setor após um período de forte valorização.
Empresas como Palantir, Nvidia, Apple e Microsoft lideram as quedas, com investidores começando a questionar se as expectativas de crescimento do setor são, de fato, sustentáveis.
Um estudo recente do Massachusetts Institute of Technology (MIT) intensificou as preocupações ao apontar que 95% das empresas que investem em inteligência artificial ainda não viram retornos sobre esses investimentos.
Segundo o MIT, a maioria das startups e empresas que estão na vanguarda da IA queimam mais dinheiro do que geram receita. Em média, de acordo com a pesquisa, as companhias gastam US$ 5 para cada US$ 1 de receita.
Outro ponto destacado pelo MIT foi a dificuldade de muitos projetos de IA de se traduzirem em soluções concretas e escaláveis, com uma grande parte dos produtos de IA ainda não gerando nenhum faturamento. Em 2024, uma análise de 600 empresas B2B revelou que 42% dos produtos de IA ainda não tinham gerado receita alguma.
Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, também adicionou tensão ao mercado ao afirmar que a IA está "em uma bolha". Altman destacou que, embora a IA tenha o potencial de ser uma revolução tecnológica, o entusiasmo atual cria expectativas inflacionadas sobre os retornos que essas empresas podem gerar no futuro.
Para ele, a situação atual reflete uma "euforia" que pode não ser sustentada, já que o desenvolvimento de IA em larga escala ainda enfrenta grandes desafios e, por enquanto, os lucros não acompanham o ritmo das valorizações das empresas.
Outro fator importante que influencia o mercado é a expectativa sobre o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), em Jackson Hole, na sexta-feira, 22.
O mercado aguarda sinais sobre a direção da política monetária dos EUA, e qualquer indicação de que os juros podem continuar a subir pode aumentar a pressão sobre as ações de tecnologia, que frequentemente têm avaliações mais altas e dependem de condições de juros baixos para justificar os preços.
Enquanto alguns investidores veem a situação como uma oportunidade de compra, outros adotam uma postura mais cautelosa, alertando para a necessidade de redução de risco e reequilíbrio de portfólios.
De um lado, a Wedbush Securities mantém uma visão otimista e considera a liquidação atual como uma oportunidade de compra. "Vemos sell-offs de tecnologia como o de ontem como oportunidades", afirmou Daniel Ives, analista da instituição.
Para Ives, a queda observada é apenas um retrocesso temporário, e a trajetória de alta do setor permanece sólida, impulsionada justamente pelos investimentos bilionários em inteligência artificial. A Wedbush prevê que o ciclo de alta tecnológica continuará robusto pelos próximos três anos, destacando que os trilhões de dólares sendo direcionados à IA são um forte indicador de crescimento contínuo.
O JPMorgan Chase também enxerga o declínio com otimismo, e não vê nele uma mudança fundamental nas perspectivas de longo prazo. Para o JPMorgan, o setor de tecnologia segue como um motor de crescimento nos mercados americanos.
Outros bancos adotam posições mais cautelosas.
É o caso do UBS Global Research que aponta que, embora alguma volatilidade de curto prazo seja esperada dada a valorização do setor, os investidores não devem adotar uma postura excessivamente defensiva. O UBS recomenda diversificação dentro da cadeia de valor da IA, englobando setores como infraestrutura, semicondutores e aplicações, para mitigar o risco de se concentrar apenas nas ações de empresas de tecnologia com altos preços.
O Citigroup, por sua vez, foi mais direto, recomendando que os investidores tomem lucros em ações de IA de alto desempenho.
O analista Drew Pettit alertou para a necessidade de reequilibrar portfólios, especialmente para aqueles com ações de IA que experimentaram altas acentuadas. "Embora apostar contra IA seja difícil para muitos no lado comprador, investidores deveriam rebalancear portfólios para longe das ações de maior alta e em direção a empresas de IA negociadas mais baratas", afirmou.
Pettit não rotulou o rali da IA como uma "bolha", mas observou que as expectativas para o setor estão excessivamente elevadas e uma correção poderia ocorrer à medida que os investidores ajustam suas previsões.
Rob Rowe, do Citi, também se distanciou da comparação com a bolha das pontocom, enfatizando que a alta atual da IA envolve empresas com lucros robustos e fluxos de caixa fortes, ao contrário do que aconteceu durante a bolha dos anos 2000. Mas, para Rowe, a adoção de IA pode ser mais lenta do que muitos investidores antecipam, o que poderia impactar as perspectivas do setor no curto prazo.
Às 07h42, no horário de Brasília, as principais ações de tecnologia operavam em queda no pré-mercado dos EUA. Confira: