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Dizer que PIB potencial está maior por reformas é um "achismo", diz economista-chefe da Galapagos

Tatiana Pinheiro avalia que Copom manterá ritmo de cortes de juro, apesar de sinalização, e vê espaço para Selic a 8%

Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital

Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 24 de março de 2024 às 08h31.

Última atualização em 24 de março de 2024 às 19h08.

As constantes surpresas para cima do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos últimos anos têm provocado debates no mercado. Uma das teses emergentes é de que as reformas promovidas desde o governo de Michel Temer estariam se traduzindo em um maior potencial de crescimento. Embora a teoria venha ganhando adeptos, Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital, afirma que não há evidências para essa conclusão. "É um achismo", disse em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest. A entrevista está disponível no canal da Exame no YouTube.

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"Empiricamente, nada comprova isso. Quando se fala em potencial, se considera variáveis de longo prazo. Precisam de mudanças estruturais para que elas mudem no curto prazo. Tivemos reformas que foram positivas. Mas se tivéssemos um ganho de capital expressivo, veríamos melhorias no IDH e em nota do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)", diz.

Antes de chegar à Galapagos Capital, em 2022, Tatiana Pinheiro foi economista-chefe da gestora Panamby Capital e diretora de economia brasileira do BNP Paribas, maior banco da Europa. A economista também tem passagens pelo banco holandês ABN e pelo Santander. A Galapagos Capital, onde Tatiana é economista, tem mais de R$ 20 bilhões em investimentos.

A projeção da Galapagos para o crescimento do PIB deste ano é de 1,8%, próximo à mediana dos economistas brasileiros e bem abaixo do crescimento de 2,9% do ano passado. Tatiana Pinheiro sustenta que, nos últimos anos, a economia foi sustentada por choques extraordinários, o que explicariam os constantes erros de predição. Entre 2021 e 2022, Pinheiro avalia que a economia brasileira foi beneficiada pelos gastos feitos durante a pandemia e, em 2023, pela surpresa positiva com a agricultura. "O Brasil foi beneficiado por choques nos últimos anos. Coincidentemente, eles foram positivos. Mas a média histórica de crescimento está a mesma dos últimos 30 anos."

A principal razão para o crescimento relativamente baixo, avalia a economista, é a baixa produtividade da mão de obra.

"O Brasil não consegue virar a página do problema fiscal. Então, falta orçamento para direcionar a qualificação da mão de obra de acordo com a demanda do mercado de trabalho. A baixa produtividade é a razão para o menor crescimento do país. Tem que ter uma agenda focada em produtividade."

Espaço para Selic de 8% e corte no 2º semestre nos EUA

Embora espere um crescimento não tão pujante para este ano, Tatiana Pinheiro está relativamente otimista para o processo de queda de juros brasileiro. Segundo a economista, o BC teria espaço para reduzir a Selic, hoje em 10,75%, para 8%. No último boletim Focus, o consenso do mercado era de uma Selic de 9% para este ano e de 8,5% para 2025. Mas, as percepções se tornaram mais cautelosas a partir da última decisão de juros. Isso porque, no comunicado, o Copom deixou de sinalizar que manteria o ritmo de cortes em 0,50 ponto percentual, pelo menos, nas próximas duas reuniões. Em vez disso, garantiu apenas mais um de mesma magnitude. A mudança de tom fez parte do mercado apostar que, depois da próxima reunião, o Copom reduzirá o ritmo de cortes para 0,25 ponto percentual. Pinheiro não acredita nessa possibilidade.

"O Copom achou melhor ter esse grau de liberdade, mas o mais provável é a manutenção do ritmo de cortes nas próximas reuniões. Com o cenário de hoje, dá, tranquilamente, para o Banco Central seguir cortando os juros."

A visão é um pouco diferente da que projeta para a economia americana, onde espera que os juros comecem a cair apenas em junho. A aposta tem se tornado um consenso no mercado, que, no começo do ano, esperava que o Fed já tivesse iniciado o ciclo de cortes. Mas, Tatiana acredita que se não vir em junho, como esperado, os cortes só virão após as eleições presidenciais, em novembro. Para a economista, o Fed deverá evitar dar início ao ciclo de queda de juros durante o período eleitoral para não influenciar o debate. "É agora [em junho] ou é muito mais para frente. O Powell vai ficar fora do debate eleitoral. Começar o corte durante a campanha abriria questionamentos desnecessários sobre o Fed."

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