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Dívida do Bradesco bate Itaú com previsão de inadimplência

O Itaú tem adiado suas previsões sobre quando os empréstimos duvidosos vão atingir seu teto

Tanto o Itaú quanto o Bradesco aumentaram suas provisões para débitos duvidosos no primeiro trimestre (Fotomontagem/EXAME)

Tanto o Itaú quanto o Bradesco aumentaram suas provisões para débitos duvidosos no primeiro trimestre (Fotomontagem/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 26 de abril de 2012 às 08h56.

São Paulo - O Banco Bradesco SA, segundo maior banco brasileiro por valor de mercado, está superando o Itaú Unibanco Holding SA, líder do segmento, no mercado de dívida porque o Itaú tem adiado suas previsões sobre quando os empréstimos duvidosos vão atingir seu teto.

Em 19 de abril, a taxa dos títulos em dólar do Bradesco com vencimento em 2022 caiu para menos do que o rendimento dos papéis com prazo similar do Itaú pela primeira vez desde que os títulos foram emitidos no início do ano. As notas subordinadas do Itaú rendem 5,57 por cento, ou 4 pontos-base acima do que pagam as do Bradesco. Em 21 de março, os papéis do Itaú pagavam uma taxa 11 pontos-base inferior às do concorrente.

Tanto o Itaú quanto o Bradesco aumentaram suas provisões para débitos duvidosos no primeiro trimestre depois que a inflação maior e crescimento econômico mais fraco reduziram a capacidade dos clientes de pagar suas dívidas dentro do prazo. O Itaú disse nesta semana que a inadimplência pode crescer nos próximos dois trimestres, contrariando a previsão feita em setembro pelo presidente do banco, Roberto Setubal, de que essas taxas estavam “sob controle” e que melhorariam em 2012.

“Eles continuam estendendo o prazo para quando as provisões chegarão ao ponto máximo”, disse George Strickland, que ajuda a administrar US$ 14 bilhões em ativos de renda fixa como diretor da Thornburg Investment Management Inc. Um executivo do Itaú esteve em seu escritório há alguns meses. “Ele disse que o pico seria em meados de 2012.”

As cotações das ações também refletem essa divergência. Os papéis do Itaú caíram 13 por cento no ano até ontem na BM&F Bovespa em São Paulo, enquanto as ações do Bradesco, sediado em Osasco, recuaram 3 por cento. O Índice Bovespa avançou 8,8 por cento no período.

Créditos podres

As provisões do Itaú somaram R$ 6,03 bilhões no primeiro trimestre, comparado a R$ 4,38 bilhões um ano antes e a R$ 5,45 bilhões no quarto trimestre, segundo informações dadas pelo banco em 24 de abril. As provisões para créditos de recebimento duvidoso podem atingir R$ 6,4 bilhões no segundo trimestre e R$ 7,1 bilhões no terceiro trimestre, disse a instituição. A taxa de inadimplência do banco subiu para 5,1 por cento no primeiro trimestre, comparado a 4,9 por cento no trimestre anterior e a 4,2 por cento um ano antes.

Em fevereiro, Setúbal disse a repórteres que a inadimplência poderia chegar a 5 por cento na metade deste ano. Rogério Calderón, que comanda as relações com investidores no banco, afirmou durante a teleconferência para discutir o balanço em 24 de abril que a taxa de inadimplência pode subir nos próximos dois trimestres e depois cair no fim do ano.


Provisões do Bradesco

O Bradesco elevou as provisões para R$ 3,09 bilhões no primeiro trimestre. A reserva estava em R$ 2,66 bilhões no fim de 2011 e em 2,36 bilhões um ano antes. A proporção de empréstimos com mais de 90 dias de atraso avançou para 4,1 por cento no fim de março, de 3,6 por cento um ano antes e 3,9 por cento no quarto trimestre. A taxa provavelmente vai recuar na segunda metade do ano, após uma alta de 10 pontos-base este trimestre, disse Luiz Carlos Angelotti, um diretor executivo, em 24 de abril.

O Itaú se recusou a fazer comentários adicionais às afirmações feitas na ocasião da divulgação do balanço em 24 de abril, de acordo com comunicado enviado por e-mail. Um representante do Bradesco tomou a mesma posição.

Na tentativa de se aproveitar da expansão de gastos pela crescente classe média, o Itaú se expôs aos financiamentos de veículos e cartões de crédito, que têm as maiores taxas de inadimplência no segmento pessoa física, disse Gustavo Schroden, analista da BES Securities Brazil, em entrevista por telefone de São Paulo.

“Os orçamentos familiares brasileiros não estão tão confortáveis”, disse Schroden. “Isso impactou a qualidade dos ativos dos bancos brasileiros.”

Ainda assim, as dívidas dos dois bancos continuam “atrativas” em relação a outros investimentos, de acordo com Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities.

“Tanto os bônus do Itaú quanto do Bradesco são a primeira opção para quem quer um rendimento bom, conhece o crédito e leva em consideração o cenário global”, disse Pasquarelli em entrevista por telefone de Nova York.

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